Oriente Médio em ruínas: relembre os principais conflitos de 2024
Em 2024, Oriente Médio se afundou em uma guerra regional com 7 frentes, encabeçada por conflito entre Hamas e Israel. Relembre
atualizado
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Em mais um ano de guerra na Faixa de Gaza, mais de 45 mil palestinos morreram na região, entre eles 17,4 mil crianças. Na Cisjordânia foram pelo menos 809 pessoas mortas. No Líbano, mais de 3,2 mil vítimas, segundo as autoridades.
Israel, que combate sete frentes diferentes no Oriente Médio, calcula que 1.139 pessoas foram mortas nos ataques de 7 de outubro de 2023, quando o grupo extremista Hamas realizou um ataque surpresa no sul do país. Ao todo, 251 israelenses e estrangeiros foram levados como reféns na ocasião. Desse número, estima-se que apenas 97 deles continuam vivos.
Para o especialista em Oriente Médio e Islã político Danilo Porfírio, todos os eventos deste ano, que afundaram a região em um conflito regional e sangrento, são “residuais” do ataque do Hamas contra Israel, que deu início a uma nova guerra no território.
“Tivemos como eventos marcantes [em 2024] a morte seletiva de todas as lideranças do Hamas, responsáveis pelo ataque de 7 de outubro, a invasão do sul do Líbano, em resposta à ação do Hezbollah em apoio ao Hamas, e ações retaliatórias de Israel contra o Irã e suas respostas. Podemos colocar até mais um, que é a questão do enfraquecimento do regime sírio e o avanço de movimentos radicais”, afirma Danilo Porfírio.
Para o especialista, uma resolução diplomática a curto e a médio prazo é praticamente impossível. “Não existe essa possibilidade e a prova disso é um conflito que só se expandiu no intervalo de um ano”, argumenta Porfírio.
Veja abaixo alguns destaques do conflito que se espalhou pelo Oriente Médio.
1- Morte de lideranças do Hamas
Em 2024, Israel eliminou pelo menos três líderes importantes do Hamas, conforme confirmado pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) e pelo próprio grupo: Mohammed Deif, comandante militar supremo do Hamas, Ismail Haniyeh, líder político que representava o Hamas em negociações internacionais, e Yahya Sinwar, líder político máximo do Hamas.
Deles, dois estiveram diretamente envolvidos no ataque de 7 de outubro. Mohammed Deif foi o principal planejador do ataque e atuou como arquiteto estratégico da operação. Ele foi morto em 13 de julho durante um ataque aéreo. Já Yahya Sinwar, morto em 16 de outubro em um ataque aéreo, era responsável por supervisionar a logística e as operações em Gaza durante o 7 de outubro.
Um terceiro envolvido, o comandante operacional Ayman Nofal, organizou grupos armados para ações específicas durante a incursão. Ele também foi morto, em 17 de outubro durante um ataque aéreo.
Estima-se que, ao todo, mais de 25 membros importantes do Hamas foram mortos em 2024 por Israel, incluindo comandantes militares e líderes políticos.
2- Retaliações entre Israel e Irã
Ismail Haniyeh, líder político que representava o Hamas em negociações internacionais, foi morto em um ataque aéreo israelense na capital do Irã, em 31 de julho.
O líder estava no país para participar da cerimônia de posse do novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian – as eleições ocorreram de forma antecipada depois que o presidente anterior, Ebrahim Raisi, morreu em um acidente de helicóptero, em maio.
O Irã prometeu vingança e em 1° de outubro disparou dezenas de mísseis contra Israel em retaliação ao ataque que matou alguns de seus principais comandantes e aliados. No dia 26 do mesmo mês, Israel fez “ataques direcionados contra alvos militares” no Irã, como retaliação à retaliação do país inimigo.
Na ocasião, quatro soldados foram mortos, de acordo com o governo iraniano. Um homem morreu na Cisjordânia, vítima de destroços de um míssil abatido, de acordo com informações da Autoridade Palestina. Já Israel disse não ter registrado mortos decorrentes do ataque feito pelo Irã.
3- Invasão ao Líbano
Desde os ataques de 7 de outubro, Israel e o grupo Hezbollah, do Líbano, têm trocado ataques na fronteira, isso porque Hamas e o grupo extremista libanês são aliados, acompanhados do Irã.
Porém, foi apenas em setembro deste ano que os países escalaram o conflito. Ao todo, 12 pessoas morreram e cerca de 3 mil ficaram feridas após milhares de pagers, pertencentes a membros do Hezbollah, serem detonados simultaneamente no dia 17 de setembro. Em novembro, Israel assumiu a autoria do ataque.
Apenas na ocasião, pelo menos 1,8 mil pessoas foram hospitalizadas e 460 precisaram de cirurgia para ferimentos graves, segundo a agência nacional de notícias do Líbano. Em uma semana, a nova ofensiva de Israel contra o Hezbollah matou mais da metade das pessoas mortas durante a guerra de 2006 entre os países.
Israel invadiu o sul do Líbano e os países entram em uma nova guerra. Mais de 3,2 mil libaneses morreram, de acordo com autoridades. Entre elas está o principal líder do grupo, Hassan Nasrallah. Israel não divulgou o número de vítimas decorrente do conflito com o Hezbollah.
O governo de Israel e o grupo libanês Hezbollah chegaram a um acordo de cessar-fogo em 26 de novembro, porém, pouco mais de 24 horas do acordo, tanques israelenses dispararam contra o sul do Líbano e atingiram pelo menos seis regiões. Israel afirmou que atacou “veículos suspeitos.”
4- Queda de Bashar al-Assad
A guerra civil na Síria, que começou em 2011, estava “adormecida” desde um cessar-fogo decretado em 2020. No dia 8 de dezembro, uma série de ataques surpresa de rebeldes tomou as principais cidades do país e, por fim, derrubou o regime de Bashar al-Assad. No mesmo dia, Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, comemorou a queda de al-Assad e disse que Israel ajudou na derrubada do regime por meio de ações contra o Irã e o Hezbollah.
“Este colapso é o resultado direto da nossa ação enérgica contra o Hezbollah e o Irã, principais apoiantes de Assad. Isso desencadeou uma reação em cadeia de todos aqueles que querem ser libertados deste regime opressivo e tirânico”, afirmou Netanyahu em comunicado.
Desde o início da guerra na Síria, países como Rússia e Irã, além do Hezbollah, passaram a apoiar o ex-presidente Bashar al-Assad no conflito interno. Porém, com conflitos em várias frentes e com um Hezbollah enfraquecido politicamente, após a morte de seu principal líder, al-Assad perdeu um dos principais apoiadores.
O governo de Israel destruiu estoques de armas na Síria com o argumento de que tais armas não poderiam cair nas mãos de “elementos terroristas” depois que o grupo Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), com origem no Estado islâmico (Isis), tomou o poder do país.
O clã Assad dominou a Síria durante cinco décadas de ditadura. Depois de deposto, Bashar al-Assad, e a sua família se exilaram na Rússia, onde obtiveram asilo político e permanecem até o momento.