Após prisões de imigrantes, 49 crianças brasileiras estão isoladas
No período de seis semanas, pelo menos 2.000 menores foram separados de seus pais após buscar asilo na fronteira sul americana
atualizado
Compartilhar notícia
Em meio a turbulência política que atingiu o governo dos Estados Unidos (EUA), resultante da detenção de adultos que buscavam refugio na fronteira sul americana, ao menos 49 crianças brasileiras estão isoladas dos pais imigrantes presos durante a tentativa de asilo. A brasileira Maria de Bastos fala por telefone com o neto, com quem viajou para o país, apenas uma vez por semana, aos sábados.
A avó foi separada do adolescente de 16 anos, que é autista e tem severos ataques epilépticos, depois que atravessou a fronteira americana. Apesar de ter o pedido inicialmente admitido, ela foi detida e o menino foi enviado a um abrigo a 3.500 quilômetros de distância.
O histórico se assemelha ao de pelo menos 48 crianças brasileiras que foram separadas dos pais ao atravessarem a fronteira dos EUA, segundo informou à Folha o consulado brasileiro em Houston. Os dados são das últimas seis semanas – período que coincide com o início da política de tolerância zero da administração do presidente Donald Trump com a travessia ilegal da fronteira.
“É um número muito alto”, diz o cônsul-geral adjunto em Houston, Felipe Costi Santarosa. No passado, o número de casos similares era de dois ou três por ano. Agora, são cerca de quatro por mês. Os menores brasileiros estão em abrigos nos estados da Califórnia e do Arizona. Têm entre 6 e 17 anos. Alguns são irmãos, e choram juntos pelo afastamento da família.
As crianças chegaram aos EUA com os pais ou guardiões legais que foram processados por travessia ilegal da fronteira e enviados a prisões federais — algo que não ocorria antes do governo Trump. Crianças, por lei, não podem permanecer nesses estabelecimentos e por isso são encaminhadas a abrigos espalhados pelo país.
Separação
Nos casos atendidos pelo consulado do Brasil, as mães estão detidas no Texas ou no Novo México, a cerca de 500 km de distância dos filhos. Muitas não sabiam o paradeiro das crianças havia semanas, até serem contatadas pelas autoridades brasileiras.
“Foi emocionante”, diz Santarosa, sobre um dos casos em que a mãe conseguiu falar por telefone com o filho após dias de separação. De acordo com a Folha, por ora, o consulado tem atuado majoritariamente para restabelecer o contato entre as famílias. Mas nenhuma delas foi reunida até o momento.
Casos e casos
Os próximos passos serão avaliados caso a caso. Uma das crianças brasileiras, por exemplo, está perto de completar 18 anos — quando deve sair do abrigo de menores e ser transferida a um centro de detenção para imigrantes.
Segundo a Folha, em outros casos, se a prisão dos pais se arrastar por muitos meses, pode ser avaliada a possibilidade de pedir a deportação do menor para a família no Brasil.
O cônsul-geral destaca que a condição dos abrigos é boa e que as crianças são mantidas junto com menores da mesma idade. Não há notícias de maus-tratos.
“O problema mesmo é a separação”, diz. O consulado já foi contatado pelas próprias instituições, na tentativa de localizar os pais das crianças, pelas famílias no Brasil ou por advogados. Em todos os casos, a mãe ou o guardião legal estava detido pelas autoridades de imigração.
Histórico
No período de seis semanas, pelo menos 2.000 crianças imigrantes foram separadas de seus pais nos Estados Unidos, segundo dados do governo.
A lotação dos abrigos está próxima de 100%. Um deles, um antigo supermercado, abriga quase 1.500 crianças – a maioria delas migrou sozinha, fugindo da violência em países da América Central, onde são recrutadas à força por gangues. Mas parte foi separada dos pais, detidos em presídios federais.
Em um centro de imigrantes na fronteira, crianças dormem em colchonetes espalhados pelo chão, debaixo de cobertas térmicas com aspecto de papel alumínio. (Com informações da Folha e da Agência Brasil)