O que jihadistas prometem para a Síria após fim da era Assad
Após assumir o poder na Síria, o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS) iniciou uma série de medidas buscando se distanciar da imagem do radicalismo
atualizado
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A incerteza sobre o futuro ainda paira no ar da Síria uma semana após o colapso do regime de Bashar al-Assad, no último domingo (8/12). Ainda assim, o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS) já deu os primeiros passos para uma transição de poder e implementou algumas medidas, mesmo sob os olhares desconfiados da comunidade internacional.
Dois dias após chegarem à capital síria, Damasco, os insurgentes anunciaram a formação de um governo de transição, previsto para durar até março de 2025. Um novo primeiro-ministro também foi nomeado, com a missão de coordenar a transferência de poder.
O premiê Mohammad al-Bashir chegou a liderar o Governo de Salvação Sírio (SSG), o braço político do HTS, na região de Idlib, que estava nas mãos dos insurgentes mesmo antes do colapso do regime Assad.
Na tentativa de se distanciar da imagem de radicais, o novo primeiro-ministro provisório da Síria afirmou que a transição de poder no país seria feita em conjunto com membros da administração anterior.
“Os ministros revolucionários do Governo de Salvação da Síria, chefiados pelo engenheiro Muhammad al-Bashir, reuniram-se com o governo do regime deposto para determinar os procedimentos para assumir o controle das instituições e iniciar a transferência de poderes e a condução dos negócios”, disse o SSG em um comunicado.
Além de se comprometer a criar um governo diferente do anterior, marcado por acusações de perseguição política, prisões arbitrárias e outros desrespeitos aos direitos humanos, o HTS tomou decisões visando à conquista de apoio interno e externo.
Uma das primeiras foi a libertação de milhares de presos políticos no país, detidos durante os 24 anos em que Assad esteve à frente da Síria. A ação foi seguida por uma promessa do líder do HTS, Abu Mohammed Al-Jolani, de que autoridades do antigo governo envolvidas em casos de tortura seriam perseguidas e responsabilizadas por seus atos.
O grupo ainda prometeu não impor políticas islâmicas na Síria, apesar de o passado do HTS estar ligado à ideia da Sharia – um conjunto de leis baseadas na interpretação radical do Alcorão.
Movimentações
Com uma Síria mais fragmentada do que nunca, o grupo jihadista buscou diálogo com as Forças Democráticas Sírias (SDF), um conjunto de milícias curdas apoiadas pelos EUA que passaram a controlar partes do nordeste da Síria após o início da guerra civil no país, na área que ficou conhecida como Rojava.
Um acordo de cessar-fogo entre grupos ligados ao HTS e os curdos foi anunciado na quinta-feira (13/12), pelo comandante-chefe das SDF, Mazloum Abdi. Segundo o líder da organização, que ganhou conhecimento por sua luta contra o Estado Islâmico (ISIS) na Síria, o governo de transição garantiu que não vai avançar contra os territórios da região autônoma.
Ainda na área militar, o grupo jihadista prometeu lidar com instalações militares e armas químicas deixadas para trás pelo Exército Árabe Sírio, extinto após o colapso do regime Assad, com “máxima responsabilidade” para evitar que tais locais e equipamentos caiam “em mãos irresponsáveis”.
Em um outro aceno à comunidade internacional, o HTS ainda pediu ajuda externa e manifestou o desejo de cooperar na monitorização de armas químicas do regime Assad.
“Manifestamos a nossa total disponibilidade para cooperar com a comunidade internacional em tudo o que esteja relacionado com a monitorização de armas e locais sensíveis, e procuramos fornecer todas as garantias para certificar que não sejam utilizadas armas proibidas”, disse o HTS em um comunicado divulgado um dia antes de tomarem o poder na Síria.
Apesar das promessas e do tom moderado do HTS, a Síria continua vivendo um dilema quanto à nova administração do país.
O grupo, fundado por al-Jolani, já teve ligações com a Al-Qaeda de Osama Bin Laden e o Estado Islâmico (ISIS), que aterrorizou o mundo no início da década de 2010. Devido a isso, o HTS é classificado como uma organização terrorista por diversos países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU). Na prática, isso dificulta o diálogo oficial entre o atual governo interino sírio e o restante do mundo.