Novo Parlamento Europeu se mantém no centro, mas pende à direita
Conservadores se mantêm como a maior bancada no legislativo da União Europeia, seguidos pelos social-democratas. Verdes e liberais encolhem
atualizado
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Um novo Parlamento Europeu mais empenhado em limitar a imigração na União Europeia (UE) do que em conter as mudanças climáticas: a julgar pelos resultados preliminares desta segunda-feira (10/6), essa foi a escolha de eleitores nos 27 países-membros do bloco para os próximos cinco anos.
Com os conservadores mantendo a liderança e com a expansão da ultradireita, a nova composição do legislativo europeu aponta para um Parlamento mais fragmentado, o que deve dificultar e retardar o processo de tomada de decisões numa UE às voltas com uma Rússia cada vez mais hostil, a crescente rivalidade entre a China e os Estados Unidos, o possível retorno de Donald Trump à Casa Branca e uma emergência climática de proporções globais.
No total, cerca de 361 milhões de eleitores dos 27 países da UE foram chamados, entre 6 e 9 de junho, a escolher a composição do próximo Parlamento Europeu, elegendo 720 eurodeputados, 15 a mais que na legislatura anterior.
Como deve ficar a composição do Parlamento Europeu
Segundo resultados preliminares divulgados nesta segunda-feira, o Partido Popular Europeu (PPE) conquistou 185 dos 720 assentos e continuará tendo a maior bancada no Parlamento Europeu, seguido pela Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), com 137, e a coalizão liberal Renovar a Europa, com 80 — que antes tinha 102. Os Verdes/Aliança Livre Europeia perderam um grande número de assentos , caindo de 71 para 52.
Com isso, são grandes as chances de recondução ao cargo da atual presidente da Comissão Europeia, a eurodeputada Ursula von der Leyen (foto em destaque), do partido alemão conservador União Democrata Cristã (CDU), que integra o PPE.
Von der Leyen já entrou em contato com os social-democratas e liberais (somados, os três grupos têm 402 assentos dos 720) para tentar chegar a uma aliança majoritária para os próximos cinco anos de legislatura. Tanto os social-democratas quanto os liberais expressaram disposição de formar essa maioria, cuja primeira tarefa será confirmar o candidato a presidente da Comissão Europeia indicado pelos chefes de Estado e de governo nas próximas semanas, cargo para o qual a própria Von der Leyen é a favorita.
Os três grupos na formação anterior do Parlamento Europeu representavam 59% dos eurodeputados, e agora são 55,8%.
Os partidos dos grupos de ultradireita no Parlamento Europeu, como o Identidade e Democracia (ID) e o Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), obtiveram um número estimado de 131 assentos, um ganho de 13.
Candidatos independentes, não vinculados a nenhuma bancada, devem ficar com 99 assentos.
Por fim, a menor bancada é da Esquerda, que deve perder uma cadeira e eleger 36 eurodeputados.
Ultradireita sai das urnas mais forte
Na França, Itália, Áustria e Hungria, partidos de ultradireita devem eleger as maiores bancadas. Na Alemanha, Polônia, Holanda, Bélgica e Suécia, são pelo menos a segunda ou terceira maior força.
Há anos, eleitores europeus vêm se queixando de que o processo de tomada de decisões na UE é complexo, distante e desconectado da realidade diária — algo que explica os baixos índices históricos de comparecimento às urnas, que para esta eleição foram estimados em 51% dos cerca de 360 milhões de europeus aptos a votar.
Muitos europeus foram impactados pela alta nos custos de vida e estão preocupados com a imigração descontrolada, com o preço da transição verde e com as tensões geopolíticas, incluindo a guerra na Ucrânia. Partidos populistas veem nesse cenário uma oportunidade de ganhar o eleitorado.
Aliança com a direita conservadora ainda é incerta
Considerando o total de eurodeputados que o ECR e o ID devem eleger, mais os 15 assentos que a AfD conquistou, os partidos de ultradireita vão controlar em torno de 20% do Parlamento Europeu, e são uma força nada desprezível.
Sua real influência sobre a política europeia, porém, dependerá da sua capacidade de forjar alianças com a direita conservadora do PPE e, talvez, com os liberais ou com membros independentes.
Se essas alianças de fato são viáveis, ainda está em aberto. Mas Von der Leyen já anunciou que não descarta uma colaboração com parlamentares mais à direita — desde que eles apoiem a Ucrânia, representem valores europeus e sejam a favor da manutenção do Estado de Direito.
Falando em um evento do PPE em Bruxelas na noite desse domingo (9/6), Von der Leyen prometeu que a sua bancada será um “bastião contra extremos à direita e à esquerda” no Parlamento Europeu. “Nenhuma maioria pode ser formada sem o PPE”, afirmou. “Vamos detê-los. Isso é certo.”
Os resultados eleitorais citados neste texto são preliminares e podem mudar.