metropoles.com

No meio da guerra nasceu Jesus: Belém sempre viveu conflitos

Na Cisjordânia, Belém, onde cristãos acreditam que Jesus nasceu, conviveu com conflitos em toda a história. E agora não é diferente

Maja Hitij/Getty Images
Imagem colorida mostra Presépio mostra o Menino Jesus envolto em um keffiyeh (espécie de echarpe) e colocado em uma pilha de escombros para mostrar solidariedade ao povo de Gaza
1 de 1 Imagem colorida mostra Presépio mostra o Menino Jesus envolto em um keffiyeh (espécie de echarpe) e colocado em uma pilha de escombros para mostrar solidariedade ao povo de Gaza - Foto: Maja Hitij/Getty Images

atualizado

A guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas afetou o Natal da Terra Santa. E o medo é de que afete mais. Neste dia em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo, Belém amanhece tensa.

Essa pequena cidade, hoje no território palestino da Cisjordânia, faz parte da história das três principais religiões monoteístas do mundo: cristianismo, judaísmo e islamismo.

Para todos, um local onde se teme que a guerra entre Israel e Hamas chegue, apesar de a Cisjordânia não ser governada pelo grupo, e sim pela Autoridade Palestina. Mas existe o medo.

A ponto de as comemorações de Natal terem sido limitadas ao essencial. Celebrações religiosas serão feitas por congregações que já vivem ali. Fiéis do resto do mundo estão proibidos de entrar em Belém.

7 imagens
Policiais andam por Belém, cidade onde convivem cristãos, muçulmanos e judeus
Fiel reza na gruta onde supostamente Cristo nasceu, em Belém
Fachada da Igreja da Natividade, em Belém
Local onde Cristo nasceu: celebrações canceladas por causa da guerra
Menino palestino corre na nave central da Igreja da Natividade, em Belém
1 de 7

A Igreja da Natividade, em Belém: líderes cristãos cancelaram as celebrações públicas do Natal

Maja Hitij/Getty Images
2 de 7

Policiais andam por Belém, cidade onde convivem cristãos, muçulmanos e judeus

Maja Hitij/Getty Images
3 de 7

Fiel reza na gruta onde supostamente Cristo nasceu, em Belém

Maja Hitij/Getty Images
4 de 7

Fachada da Igreja da Natividade, em Belém

Maja Hitij/Getty Images
5 de 7

Local onde Cristo nasceu: celebrações canceladas por causa da guerra

Maja Hitij/Getty Images
6 de 7

Menino palestino corre na nave central da Igreja da Natividade, em Belém

Maja Hitij/Getty Images
7 de 7

Presépio mostra o Menino Jesus envolto em um keffiyeh (espécie de echarpe) e colocado em uma pilha de escombros para mostrar solidariedade ao povo de Gaza

Maja Hitij/Getty Images

Fundamental para o cristianismo, importante para o islamismo e o judaísmo

O cristianismo, sem dúvida, tem Belém como um dos quatro pontos sagrados, ao lado da Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, a Basílica da Anunciação, em Nazaré, e o rio Jordão, onde Cristo foi batizado.

A construção de uma igreja pela rainha Helena, mas tarde transformada em Santa Helena, mãe do imperador Constantino, que legalizou o cristianismo, tornou-se um passo fundamental. Apesar das guerras e conflitos por lá, a originalidade desse templo existe até hoje.

Porém, não é parte das quatro localidades sagradas do judaísmo ou do islamismo. “Mas há vários acontecimentos bíblicos que, de alguma forma, certamente converterão a atenção do judaísmo e do islamismo”, ensina Isaque Levy, professor, guia, especialista em Oriente Médio e história das religiões.

De forma bem resumida, Levy, brasileiro e israelense, a importância para os judeus está no fato de que o profeta Isaías afirmou que o messias viria de Belém (e não seria Cristo). Mas há um problema grave.

“Hoje seria impossível, já que Belém tem o governo da Autoridade Nacional Palestina e os judeus são proibidos. A entrada de judeus israelenses na cidade de Belém é contra a lei, é perigosa. Portanto, não há como nascer um Messias Judeu em Belém”, ap0nta Levy.

Porém, como o messias deve ser um descendente do rei Davi, que nasceu em Belém, não necessariamente o escolhido deve ter surgido lá, mas simplesmente ser descendente de Davi.

No caso do islamismo, Jesus também é uma figura importante no Alcorão. Não é o messias, mas um profeta “na revelação gradual de Allah à humanidade. Um profeta abaixo de Maomé, mas ainda assim um profeta importante”, diz o professor.

21 imagens
1 de 21

2 de 21

3 de 21

4 de 21

5 de 21

6 de 21

7 de 21

8 de 21

9 de 21

10 de 21

11 de 21

12 de 21

13 de 21

14 de 21

15 de 21

16 de 21

17 de 21

18 de 21

19 de 21

20 de 21

21 de 21

A guerra chega a Belém?

Desde 7 de outubro, o acesso a Belém e a outras cidades palestinas na Cisjordânia tem sido difícil, mesmo que a guerra com o Hamas se desenvolva a quilômetros dali, na Faixa de Gaza. Mas, passo a passo, o cenário começa a se estender até lá.

“Belém é uma parte essencial da comunidade palestina”, afirma a prefeita da cidade, Hana Haniyeh. “Portanto, na Missa da Meia-Noite deste ano, rezaremos pela paz, a mensagem de paz que foi fundada em Belém quando Cristo nasceu”, promete.

Muito voltada para o turismo, a cidade vai ser muito impactada se sua imagem for ligada à violência. “Eu não acredito que haja um interesse da população, que em grande parte está envolvida com o turismo, em estar junto de movimentos extremistas”, teoriza Isaque Levy.

Levy, que também é guia, conta que tem ótima relação com seus pares da Cisjordânia e encaminha seus turistas para eles, quando ele não é autorizado a entrar. “São pessoas boas, que querem trabalhar, criar seus filhos e ter uma vida comum como todas as outras”, continua.

Ele aponta que a possibilidade de um conflito ali, agora, é pequena. Também por uma questão geográfica. “Essa guerra chegar lá seria mais pela questão ideológica de algum grupo ser convencido a se radicalizar do que necessariamente em algum momento Israel invadir Belém”, explica.

Mas Belém enfrenta riscos diretos devido à sua proximidade com Jerusalém e à instabilidade regional, ensina Sérgio Coutinho, doutor em História e professor do departamento na Upis-DF.

“A cidade testemunhou diversos conflitos, incluindo guerras árabe-israelenses e a ocupação militar. A Primeira Intifada (1987-1993) teve impacto significativo na região. A Igreja da Natividade, venerada pelos cristãos, já foi palco de confrontos”, lembra Coutinho.

Para o especialista, a saída deveria ultrapassar o sentido religioso restrito. “A proteção desses locais requer uma abordagem diplomática internacional sustentada, considerando não apenas o valor religioso, mas também o patrimônio cultural e histórico desses lugares”, aponta.

Para além de Jesus, região é consumada por conflitos

A Terra Santa, como é conhecida a região de Israel e Palestina, testemunhou uma sucessão de impérios e conquistadores, desde os tempos bíblicos até a era contemporânea, continua o professor Sérgio Coutinho.

E esse tipo de conflito remonta à Antiguidade, com a destruição do Segundo Templo Judaico pelos romanos em 70 d.C. e a subsequente dispersão judaica. E chega até aos tempos atuais.

“A história do Mandato Britânico na primeira metade do século 20, que sucedeu ao domínio otomano, agravou as tensões étnicas e territoriais, lançando as bases para as disputas atuais”, explica o professor.

Boa parte da explicação para esses conflitos vem da influência religiosa, “profundamente enraizada nas narrativas históricas das três principais religiões monoteístas”, pontua Coutinho.

Ele cita a Cidade Velha de Jerusalém como emblemática, abrigando o Muro das Lamentações, o Santo Sepulcro e a Mesquita de Al-Aqsa.

“A histórica conexão judaica a Jerusalém remonta aos reinados bíblicos, enquanto o cristianismo destaca eventos cruciais da vida de Jesus na região. O Islã considera Jerusalém como o terceiro local mais sagrado. Essas sobreposições históricas e religiosas acentuam as tensões contemporâneas”, argumenta.

Já o guia e professor Isaque Levy acredita que é preciso entender a perspectiva histórica para saber da realidade atual de Belém. Sim, a cidade já passou por muitos conflitos, e ele cita o historiador Flávio Josefo para falar disso no livro Guerras e Antiguidades Judaicas.

Agora, o medo vem do apoio dado ao Hamas. O grupo extremista chegou ao poder democraticamente, mas depois se tornou um governo ditatorial, de perseguições políticas e fim de direitos. “E esse movimento no Hamas tem cada vez mais ganho apoio dentro da Cisjordânia”, esclarece.

Mas o discurso de brasileiro israelense Isaque Levy termina com uma ponta de esperança. Ele repete que acha improvável que a atual guerra chegue por lá. Belém sabe que convivência pacífica é a chave para o desenvolvimento. E isso a torna mais liberal “com os olhos levantados para o futuro numa perspectiva pacífica”.

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?