Navalny, opositor morto de Putin, tinha hematomas e sinal de convulsão
Informações são do jornal russo independente Novaya Gazeta. Segundo paramédico, Navalny tinha hematomas característicos de convulsões
atualizado
Compartilhar notícia
O corpo do líder da oposição da Rússia, Alexei Navalny, tinha hematomas e sinal de convulsões, segundo um paramédico ouvido pelo jornal russo independente Novaya Gazeta. Principal crítico do presidente Vladimir Putin, Navalny morreu na última sexta-feira (16/2), após se sentir mal, segundo sistema penitenciário russo.
De acordo com o paramédico, que não teve o nome revelado, o corpo tinha hematomas característicos de convulsões.
“Como um paramédico experiente, posso dizer que os machucados descritos parecem ser de convulsões. Se uma pessoa está convulsionando e outros tentam contê-la, mas a convulsão é muito forte, aparecem hematomas”.
Segundo o profissional, o blogueiro não parece ter apanhado, e que um hematoma no peito parece ser de massagem cardíaca, o que indica que o opositor de Putin ainda estava vivo quando os machucados surgiram.
“Eles realmente tentaram ressuscitá-lo, e ele provavelmente morreu de parada cardíaca”, disse. “Mas ninguém está dizendo por que ele teve uma parada cardíaca”.
Corpo de Navalny ainda não foi examinado
O médico contou ao jornal que os prisioneiros que morrem normalmente são levados diretamente para um instituto de medicina forense, mas no caso do opositor de Putin, o cadáver foi levado a um hospital clínico “por algum motivo”.
“Levaram-no ao necrotério do hospital e colocaram dois policiais na porta”, contou. “É como se tivessem colocado uma placa, dizendo ‘Algo misterioso está acontecendo aqui'”.
Especialistas ainda não tinham examinado o corpo até o último sábado (17/2). O paramédico disse que há duas versões de por que isso ainda não aconteceu.
“Alguns disseram que ordenaram que esperássemos a chegada de especialistas da capital, outros que os próprios médicos se recusaram a fazer a autópsia, porque o caso envolve política e não está claro o que aconteceu”.
Novaya Gazeta é um dos poucos jornais independentes da Rússia. Desde o início da guerra com a Ucrânia, a redação teve de se mudar para a Letônia para evitar censura. O editor-chefe da publicação, Dmitry Muratov, foi um dos vencedores do prêmio Nobel da Paz em 2021 pela defesa da liberdade de expressão.
Porta-voz de Navalny, Kira Yarmysh disse nas redes sociais que a mãe e os advogados dele ainda não foram autorizados a entrar no necrotério.
“Um dos advogados foi literalmente empurrado para fora. Quando perguntados se o corpo de Alexey estava lá, os funcionários não responderam”, disse. “Eles não dizem quanto tempo vai demorar. A causa da morte ainda é ‘desconhecida’. Eles mentem, tentam ganhar tempo e nem tentam disfarçar”.
Morte na prisão
A informação da morte foi publicada em diversas agências de notícias da Rússia, citando o serviço penitenciário do distrito autônomo de Yamal-Nenets.
“O preso A.A.Navalny sentiu-se mal depois de uma caminhada e quase imediatamente perdeu a consciência na colônia correcional nº 3, em 16 de fevereiro”, escreveu o jornal Moscow Times, afirmando que a informação veio do serviço penitenciário da Rússia.
Em seu site oficial, o serviço penitenciário afirmou que uma equipe médica da instituição chegou imediatamente ao local, sendo chamado um outro grupo de emergência para ajudar.
“Todas as medidas de reanimação necessárias foram realizadas, mas não produziram resultados positivos. Médicos de emergência confirmaram a morte do condenado. As causas da morte estão sendo estabelecidas”, conclui o texto.
Em dezembro, o blogueiro ressurgiu após desaparecer por 20 dias. Em uma publicação no X (antigo Twitter), seus representantes falaram, de modo sarcástico, acerca da transferência à colônia prisional “Lobo Polar” (Polar Wolf), no Ártico.
Na publicação, ele brincou com a atual situação dele. “Eu sou o seu novo Papai Noel.” Apesar do tom jocoso, o adversário de Putin descreveu que o contexto não está nada favorável. “Eu não digo ‘Ho-ho-ho’, mas digo ‘Oh-oh-oh’ quando olho pela janela, onde posso ver uma noite, depois a noite e depois a noite de novo”, publicou.
Acusação de extremismo
Em agosto de 2023, a Justiça russa condenou o opositor de Putin a 19 anos de prisão por extremismo. Segundo a acusação, ele teria criado uma comunidade extremista e financiado atividades de mesmo cunho. Ele já cumpre penas por outros delitos, as quais totalizam quase 11 anos. No entanto, ele afirma que as imputações são forjadas.
O julgamento terminou em junho deste ano, mas a sentença só saiu dois meses depois. A audiência que determinou a pena ocorreu a portas fechadas na colônia penal IK-6, em Melekhovo, a aproximadamente cerca de 250 km a leste de Moscou, onde o ativista estava detido anteriormente.
Durante a sessão, o ativista repudiou a condenação, a qual classificou como uma prisão perpétua. Ele também enviou mensagem a outros opositores e os incentivou a ir contra o governo. “Você está sendo forçado a entregar sua Rússia sem lutar a uma gangue de traidores, ladrões e canalhas que tomaram o poder. Putin não deveria atingir o seu objetivo. Não perca a vontade de resistir”, declarou.
Além de Navalny, o diretor de tecnologia do canal dele no Youtube, Daniel Kholodny, recebeu uma condenação de 8 anos por extremismo. Ele compartilhou uma carta no Telegram, na qual repudiou a pena que sofreu.
“É importante compreender: condenaram-me não por ser extremista, porque qualquer tolo pode perceber que não houve extremismo, mas para que você fique horrorizado com o meu destino e não pensasse em lutar”, disse.