Na Arábia, Bolsonaro reencontra polêmica de embaixada em Israel
Presidente chega à última parada de giro árabe para participar de fórum econômico, mas não evitou trazer relação com Israel de volta à mesa
atualizado
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Enviado especial a Riade (Arábia Saudita) – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) continua insistindo que o giro que faz pelos países árabes tem foco apenas comercial, sem envolver política, mas o elefante na sala se fez perceber: pressionado por suas bases evangélicas, o chefe do Executivo fez o que os diplomatas que costuraram essa série de visitas temiam, e voltou a dizer que considera sim mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
O assunto incomoda os países árabes e a viagem – após uma decisão (agora incerta) de substituir a embaixada por um escritório de negócios – tinha como um dos objetivos desfazer o mal-estar que havia sido criado em março, quando o presidente esteve em Israel.
A mudança do local da embaixada é um pedido insistente da militância evangélica de Bolsonaro, mas sofre resistência na ala mais pragmática do governo, como a equipe econômica. “No Brasil, são quase 40% de evangélicos, que querem essa mudança da embaixada” disse Bolsonaro a jornalistas nesta segunda-feira (28/10/2019) na penúltima parada da viagem, em Doha, no Catar. “Acho que, mais cedo ou mais tarde, pode acontecer a transferência da embaixada”, disse, sem marcar data.
Horas mais tarde, ao chegar a Riade, na Arábia Saudita, Bolsonaro tentou baixar o tom: “Não é um ponto principal, estamos tratando secundariamente. Ninguém vai impor nada”, despistou.
O Brasil deve abrir ainda este ano o escritório de negócios na cidade sagrada – para judeus, muçulmanos e católicos. O local não terá status diplomático e, para autoridades do setor pragmático do governo, o modelo já resolveria a questão.
No último dia 10 de outubro, por exemplo, o secretário de Negociações Bilaterais no Oriente Médio, Europa e África do Itamaraty, embaixador Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega, havia tratado o assunto como encerrado: “A decisão tomada é de abrir esse escritório. Sabemos que há visões nem sempre convergentes no governo, há os interesses do agronegócio e a questão religiosa. No encontro dessas visões, o governo foi sensível a uma solução no meio do caminho”.
Agora, porém, Bolsonaro pode ter de enfrentar uma saia justa com seus anfitriões sauditas. No Catar, ele chegou a dizer que tratou “de passagem” do assunto com autoridades árabes, sem citar quais. “Não reclamaram”, garantiu ele, considerando que a resistência vai diminuir. “É um passo o escritório comercial”, afirmou.
Encontros com a realeza
Após desembarcar em Riade na segunda, Bolsonaro foi a um jantar em sua homenagem oferecido pelo príncipe herdeiro do reino da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Nesta terça (29/10/2019), ele encontra o rei do país, Salman Bin Abdulaziz Al Saud, em um almoço.
Na quarta (30/10/2019) Bolsonaro poderá enfim tentar fazer comércio e negócios. Ele participa e discursa em uma conferência econômica apelidada de “Davos no deserto”. O Brasil será tema de um painel: “O retorno à prosperidade: como um novo ambiente de negócios pode colocar o Brasil de volta aos trilhos?”.
Há ainda assuntos mais práticos, como um pedido da empresa brasileira BRF para que a Arábia Saudita volte a comprar frango em quantidade de uma fábrica que a companhia abriu no país vizinho, os Emirados Árabes Unidos (mas que apenas processa frango produzido no Brasil). A Arábia Saudita reduziu muito as compras este ano, sob a justificativa de nacionalizar a produção. “Vou pedir”, resumiu Bolsonaro.