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MP paraguaio vê contradições em depoimentos sobre pacto de Itaipu

Segundo procuradores, presidente paraguaio e seu vice deram declarações diferentes sobre caso que envolve usina hidrelétrica

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Em meio a uma onda de protestos por todo o país, o Ministério Público do Paraguai afirmou ter identificado contradições entre os depoimentos do presidente Mario Abdo Benítez e do vice, Hugo Velázquez, e as informações prestadas pelo ex-presidente da Administração Nacional de Energia (Ande, a estatal energética paraguaia) Pedro Ferreira sobre o acordo de revisão do uso da energia de Itaipu.

Nesta segunda-feira (12/08/2019), Velázquez prestou depoimento por mais de seis horas aos procuradores que integram a força-tarefa criada para investigar supostos prejuízos ao interesse público paraguaio causados pelo acordo, considerado “entreguista”.

Segundo os procuradores, Velázquez repetiu a versão dada anteontem pelo próprio presidente ao MP sobre uma reunião da qual teriam participado os dois além de Ferreira e do ministro da Fazenda, Benigno López, na qual se tratou informalmente, segundo ele, sobre a venda da energia de Itaipu.

Os procuradores não deram detalhes sobre as contradições. A investigação corre em sigilo. Segundo eles, Velázquez negou que o advogado José “Joselo” Rodríguez seja assessor jurídico da vice-presidência, mas disse que encaminhou o advogado para falar com Ferreira.

O vice-presidente disse que Joselo era um militante de seu partido (Colorado) e se apresentou como advogado da empresa brasileira Léros, ligada ao empresário e político Alexandre Giordano (PSL), suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP). A Léros é uma das interessadas em comercializar a energia paraguaia no Brasil.

Nas mensagens entregues por Ferreira ao MP, Joselo vinculava a empresa ao “governo brasileiro” e representava a “família presidencial”. De acordo com o vice-presidente, pelo menos outras duas empresas, uma da Argentina e outra da Coreia do Sul, manifestaram interesse em comercializar a energia paraguaia.

Segundo pessoas próximas ao MP paraguaio, as investigações devem demorar pelo menos mais um mês. Também ontem o Partido Colorado, governista, nomeou seus representantes para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada pelo Congresso para apurar a acusação de traição à pátria feita contra Benítez, que pode resultar em impeachment.

Para a oposição e setores do Partido Colorado, a ata do acordo fechado com o Brasil em 24 de maio é “entreguista”, pois admite que o Paraguai seja obrigado a contratar mais energia garantida (que custa US$ 44 o mw/h) e menos energia excedente (US$ 6 o mw/h) de Itaipu. Segundo cálculos de especialistas, isso poderia gerar aumento de até 25% na tarifa de energia elétrica ou déficit de US$ 140 milhões ao ano para o Paraguai, cujo PIB é de US$ 16 bilhões.

Depois que o caso veio à tona, com a renúncia de Ferreira da presidência da Ande, o governo do Paraguai cancelou unilateralmente o acordo, com apoio do governo Jair Bolsonaro e dos EUA, ambos aliados de Benítez.

A oposição chegou a protocolar um pedido de impeachment do presidente que foi derrubado após o cancelamento do acordo. No entanto, a revelação pela imprensa local das trocas de mensagens entre autoridades paraguaias, entre elas algumas do próprio presidente defendendo o acordo, reacendeu a crise política no país vizinho.

No domingo, a oposição desencadeou uma série de manifestações contra Abdo Benítez. A primeira delas foi uma carreata que deveria passar pela Avenida Costanera, uma das principais da capital paraguaia, mas foi bloqueada pela polícia sob a alegação de risco para centenas de pessoas que participavam de um evento evangélico.

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