Motoboys brasileiros protestam em Londres após morte de colega

As ruas de Londres foram tomadas, nessa terça-feira (28/05/2019), por cerca de 200 motoboys brasileiros. O grupo se reuniu para chamar atenção das autoridades britânicas sobre a insegurança que enfrenta ao trabalhar com entrega de comida pela cidade.

O protesto aconteceu após a morte de Idervan Silva de Presidente Prudente (SP). No último sábado (25/05/2019), o motoboy reagiu à abordagem de um assaltante que tentou roubar a sua moto em Londres. O jovem levou uma pancada na cabeça, ficou três dias em coma no King’s Hospital e sua morte foi declarada nessa terça-feira (28/05/2019).

Segundo denúncias dos manifestantes, roubos de motos por gangues de Londres são constantes e violentos. “Eu escuto, em média, quatro casos de assaltos com agressões. Nós precisamos nos organizar, fazer alguma coisa. Estou aqui há mais de 10 anos e nunca vi uma fase tão violenta”, diz o manifestante Sérgio*.

Os entregadores se reuniram em Battersea, no sul de Londres, e em comboio foram até a área central da cidade. Em frente ao parlamento Britânico, fizeram uma homenagem a Silva com bandeiras do Brasil e gritaram por justiça.

Idervan Silva trabalhava com aplicativos de entrega de comida e havia acabado de comprar o veículo. “Ele estava todo feliz e empolgado, me chamou para ver a moto nova”, conta o amigo André*.

Silva era contramestre de capoeira do grupo Arte Pura. Depois de rodar por dezenas de países levando a luta, ele resolveu se estabelecer em Londres. O amigo André, conhecido como mestre Etê, também jogava capoeira. O objetivo dos capoeiristas era implantar um projeto de arte e cultura brasileiras em na Inglaterra. Não deu tempo.

Motoboys goianos
A possibilidade de ganhar de R$ 10 mil a R$ 20 mil por mês trabalhando como entregador de comida em Londres atraiu um grande número de brasileiros para a cidade. Especialmente goianos, que são a maioria na atividade.

Segundo as empresas Uber e Deliveroo, que oferecem o serviço de delivery de comida, cerca de 80% dos drivers, como são chamados os motoboys no Reino Unido, são brasileiros.

No entanto, o sonho de um bom salário vira pesadelo para muitos deles. Os motoboys precisam enfrentar o mau tempo de Londres, constantemente com neve, vento e chuva. Além disso, as jornadas de trabalho são exaustivas, passam de 10 horas diárias, durante sete dias por semana. Caso contrário, o esforço não compensa devido ao gasto elevado.

A vida aqui não é nada fácil. A gente vem em busca de um sonho, de uma vida melhor, mas acaba tendo que enfrentar todo tipo de adversidade. Saímos 7h da manhã de casa para voltar no fim da noite, isso se voltar

Erik*

O goiano Valério* está há quatro anos no Reino Unido. “Londres não é uma cidade totalmente segura, a criminalidade é muito alta”, reclama. Ele conta que teve a sua moto roubada na semana passada. “A polícia encontrou meu veículo todo destruído, vendi por menos da metade do preço”, lamenta.

Os entregadores reclamam do que chamam de omissão da polícia. “Na verdade, eles não fazem nada. Se fizessem, os casos de assaltos violentos não estariam aumentando tanto”, diz Valério. “Essas gangues agem livremente, o tempo todo, com facas e bastões para utilizar nos ataques”, denuncia.

*O entrevistado preferiu dar um nome falso com medo de sofrer represálias