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Mortes por calor extremo aumentarão 265% até 2050, diz estudo

Pesquisa alerta sobre riscos na saúde e na economia globais em um mundo que já é 2ºC mais quente. Idosos e recém-nascidos são mais afetados

atualizado

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Homem faz exercício em período de calor em Brasília - Metrópoles
1 de 1 Homem faz exercício em período de calor em Brasília - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Em 2022, verão com temperaturas recordes causou quase 62 mil mortes na Europa. Inundações afetaram 33 milhões de pessoas no Paquistão e 3,2 milhões de pessoas na Nigéria. Seca no Grande Corno da África, agravada pelas alterações climáticas, afetou 46,3 milhões de pessoas que viviam em insegurança alimentar. E, por fim, incêndios florestais atingiram parte da Europa, da América do Sul e da China. A temperatura média global diária subiu mais de 2ºC acima da norma pré-industrial para esta época do ano pela primeira vez na história. E o mundo passa por uma crise climática sem precedentes.

O relatório “Saúde e alterações climáticas: o imperativo para uma resposta centrada na saúde num mundo que enfrenta danos irreversíveis“, de 2023, elaborado por 114 cientistas de 52 centros de pesquisa e agências das Nações Unidas de todo o mundo e publicado anualmente pela revista científica britânica The Lancet, afirma que 2023 é o mais quente dos últimos 100 mil anos.

A pesquisa expõe que as ondas de calor poderão levar 524,9 milhões de pessoas a sofrerem insegurança alimentar moderada a grave até 2041.

De acordo com a pesquisa, apenas em 2019, mais de 356 mil pessoas morreram de alguma doença derivada das fortes ondas de calor. Até a metade do século, em 2050, esse número pode chegar a, aproximadamente, 1,3 milhão, o que significa um aumento de 265% nas mortes causadas por problemas decorrentes do calor extremo.

Além disso, é previsto que a perda de mão de obra relacionada com o calor aumente em 50% e que doenças infecciosas – transmitidas por mosquitos e potencialmente fatais – se espalhem ainda mais. “A saúde da humanidade está em grave perigo”, alertam os autores da pesquisa.

Segundo as estimativas, 2023 será o ano mais quente registrado na história da humanidade. Na semana passada, o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), órgão da União Europeia (UE), declarou que outubro foi o mais quente de que se tem registro até agora.

“Os efeitos observados atualmente podem ser apenas um sintoma precoce de um futuro muito perigoso”, explica Marina Romanello, diretora-executiva do estudo publicado na The Lancet.

El Niño

Francisco Assis, ex-diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e consultor climático, explica que a alta variabilidade climática, aliada ao aquecimento da Terra, é “o grande problema da população mundial”.

O especialista ainda diz que o fenômeno El Niño, quando há alterações na temperatura da água do Oceano Pacífico, afetou ainda mais a mudança de humores do clima em 2023.

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Fenômeno El Niño causa seca na Indonésia
Além de aumentar o período de secas, o fenômeno também poderá influenciar na elevação das temperaturas no Brasil
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Morador mostra os peixes mortos na superfície do viveiro, enquanto o nível da água baixa devido ao fenômeno El Niño na Indonésia

Kevin Herbian/NurPhoto via Getty Images
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Fenômeno El Niño causa seca na Indonésia

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Além de aumentar o período de secas, o fenômeno também poderá influenciar na elevação das temperaturas no Brasil

Getty Images/ Victor Moriyama

O estudo da The Lancet aponta que adultos com mais de 65 anos e crianças com menos de 1 ano, além de recém-nascidos, formam o grupo que mais sofre com essas alterações, já que o calor extremo pode ser particularmente fatal para estas faixas etárias. A morte de idosos relacionada a altas temperaturas, por exemplo, aumentou 85% nos últimos 20 anos. 

“Os idosos são mais suscetíveis devido às mudanças naturais no envelhecimento, como a diminuição da capacidade de regulação térmica do corpo. Além disso, muitos têm condições médicas preexistentes, como hipertensão e diabetes, aumentando ainda mais o risco de AVC [Acidente Vascular Cerebral]”, explica o neurocirurgião Victor Hugo Espíndola. O médico ainda diz que a desidratação é o principal fator de risco para a saúde.

O relatório da revista ainda propõe 11 ações para limitar as alterações climáticas e os impactos na saúde de um mundo que já enfrenta danos irreversíveis. Entre eles, se destacam a aceleração da eliminação de combustíveis fósseis e a promoção de uma transição energética, a criação de políticas públicas e o investimento técnico e financeiro em sistemas de saúde resilientes ao clima. 

O vilão: combustível fóssil

Na opinião do consultor climático Francisco Assis, a ação humana é um dos principais influenciadores no aquecimento terrestre. “A queima dos combustíveis fósseis é o grande vilão desta situação, mas creio que tem, também, o fator natural. Acelerar a eliminação dos fósseis seria uma contribuição para combater o aquecimento que a terra vem passando”.

Atualmente, apenas 9,5% da eletricidade mundial provêm de energias renováveis ​​modernas, principalmente energia solar e eólica, apesar dos seus custos serem inferiores aos dos combustíveis fósseis.

E no Brasil?

Em 2023, o Brasil não fugiu à regra do resto do mundo e experimentou desde temperaturas que bateram recordes a temporais intensos, chuvas de granizo e enchentes.

Neste mês de novembro, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta de “perigo potencial” para tempestades em sete estados – São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná – e no Distrito Federal.

O inverno de 2023 foi o mais quente dos últimos 62 anos, segundo o Inmet. As altas temperaturas foram impulsionadas pela presença de intensas massas de ar quente e seco, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

44,8°C

De acordo com o instituto, a cidade mineira de Araçuaí, localizada a pouco mais de 670 km da capital do estado, a alcançou 44,8°C no último dia 19, a maior temperatura já registrada no país. Até então, o recorde era da cidade de Bom Jesus, no Piauí, onde os termômetros bateram 44,7°C em 21 de novembro de 2005.

E em razão da atual onda de calor que afeta a maior parte do país, houve aumento do consumo de energia elétrica. Por isso, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) acionou as usinas térmicas. As usinas são acionadas, normalmente, quando os reservatórios das hidrelétricas estão em baixa.

A produção das usinas térmica mantinha padrão médio em torno de 7 mil megawatts por dia. No entanto, desde o último dia 13, em que houve o recorde na demanda, a produção começou a subir e, em menos de uma semana, aumentou em 63%.

COP28

A 28ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP28) será realizada entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Na ocasião, o Brasil vai se comprometer com a redução, em relação aos dados de 2005, de 53% das emissões de gases estufa até 2030.

Na Cúpula da Amazônia, em agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adiantou que, na COP28, irá cobrar as promessas dos países desenvolvidos de também reduzir a emissão de gases.

“Vamos com o objetivo de dizer ao mundo rico que se quiserem preservar efetivamente o que existe de floresta, é preciso colocar dinheiro não apenas para cuidar da copa da floresta, mas para cuidar do povo que mora lá embaixo, que quer trabalhar, que quer estudar, que quer comer, que quer passear e que quer viver decentemente”, disse Lula.

E uma curiosidade: enquanto você lia essa matéria, cerca de 149,5 mil toneladas de gás carbônico foram lançadas na atmosfera em todo o mundo.

Com informações do Climatempo.

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