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Morre soldado americano que desertou para Coreia do Norte

Com medo de ser morto ou enviado ao Vietnã, Charles Robert Jenkins atravessou a fronteira para o Estado comunista em 1965

atualizado

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Toshiyuki Aizawa/Reuters/DW
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1 de 1 2017-12-12t023652z-595138986-rc191ec6ffe0-rtrmadp-3-northkorea-defector - Foto: Toshiyuki Aizawa/Reuters/DW

Morreu na segunda-feira (11/12), aos 77 anos, o ex-sargento americano Charles Robert Jenkins, que desertou para a Coreia do Norte em 1965 e ficou retido lá por quatro décadas.

A informação foi dada nesta terça (5) por um funcionário do município da ilha japonesa de Sado, onde o ex-militar residia. Jenkins morreu no hospital devido a uma arritmia.

Jenkins foi um dos seis soldados americanos que desertaram para a Coreia do Norte – e o único a sair para contar a sua história. Em janeiro de 1965, o jovem sargento natural da Carolina do Norte estava destacado para patrulhar o lado sul da zona desmilitarizada que separa as duas Coreias. Ele bebeu dez cervejas e atravessou a fronteira para o Estado comunista.

Foi uma decisão da qual Jenkins posteriormente se arrependeu. Em seu julgamento numa corte marcial em 2004, no Japão, ele justificou sua fuga com a preocupação de que pudesse ser morto ao longo da fronteira ou que fosse enviado ao Vietnã.

“Eu sei que não estava pensando com clareza na época, e muitas das minhas decisões não fazem sentido agora, mas na época estas decisões tinham uma lógica e fizeram com que minhas ações parecessem quase inevitáveis”, escreveu Jenkins em suas memórias em 2008.

O ex-sargento planejava pedir asilo na embaixada da Rússia e ser devolvido aos EUA numa troca de prisioneiros. Mas, ao lado de outros três desertores americanos, foi retido pelo regime de Pyongyang por oito anos e forçado a aprender a ideologia norte-coreana.

Um lar e uma família
Em 1972, Jenkins recebeu a cidadania norte-coreana e se mudou para uma casa simples. Seu principal trabalho era ensinar inglês a oficiais militares e participar como ator em filmes de propaganda contra os Estados Unidos.

Em 1980, as autoridades norte-coreanas transferiram Hitomi Soga, uma japonesa de 21 anos, para a casa de Jenkins – duas semanas depois, eles foram forçados a se casar.

Soga tinha sido sequestrada do Japão – japoneses eram sequestrados e usados para treinar agentes secretos norte-coreanos na língua e costumes nipônicos. Mas Soga e Jenkins se apaixonaram e tiveram duas filhas.

Soga foi libertada em 2002, pouco depois da visita a Pyongyang do então primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, e regressou ao Japão. Só na segunda visita de Koizumi ao país, as filhas do casal, nascidas na Coreia do Norte, foram autorizadas a se juntarem aos pais.

Em julho de 2004, Jenkins chegou ao Japão, onde foi julgado por deserção por um tribunal militar dos Estados Unidos. A idade, condições de saúde e o tempo decorrido desde a deserção pesaram na pena, que foi de 30 dias de confinamento na prisão militar de Yokosuka, perto de Tóquio.

A família residia na ilha de Sado, desde dezembro de 2004. Por lá, Jenkins trabalhou numa loja de presentes e escreveu seu livro de memórias The Reluctant Communist: My Desertion, Court-Martial, and Forty-Year Imprisonment in North Korea (O comunista relutante: minha deserção, corte marcial e 40 anos de aprisionamento na Coreia do Norte, em tradução livre).

Em suas memórias, Jenkins descreve uma vida difícil de repressão, medo e abuso e que fornecem informações sobre a Coreia do Norte. Ele foi repetidamente espancado. Quando notaram que ele tinha uma tatuagem do Exército dos EUA, foi levado a um médico para cortá-la sem anestesia.

“Você não diz “não” à Coreia do Norte. Você diz uma coisa ruim sobre Kim Il-sung e então cavou sua própria cova, porque você já era”, disse Jenkins à corte marcial, referindo-se ao fundador do Estado comunista.

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