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Morre George Blake, ex-espião britânico e agente duplo da União Soviética

Ele tinha 98 anos e vivia em Moscou com aposentadoria da KGB; causa da morte não foi divulgada

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George Blake, o ex-espião britânico e agente duplo a serviço da União Soviética durante a Guerra Fria, morreu aos 98 anos neste sábado (26/12), informaram agências russas. A causa da morte não foi divulgada.

“O lendário oficial de inteligência George Blake faleceu hoje [sábado]. Ele amava sinceramente nosso país, admirava as façanhas de nosso povo durante a Segunda Guerra Mundial“, disse o porta-voz da inteligência russa, Sergey Ivanov, à agência de imprensa pública TASS.

Ex-membro da resistência holandesa durante a Segunda Guerra e agente do MI6, os serviços de inteligência britânicos durante a Guerra Fria, Blake propôs seus serviços aos soviéticos na década de 1950.

Ele forneceu os nomes de centenas de agentes à KGB — organização de serviço secreto da União Soviética —, alguns deles executados pela inteligência russa, e revelou a existência de um túnel secreto em Berlim Oriental, usado para espionar os soviéticos.

Blake foi denunciado por um agente polonês e condenado em 1961 a 42 anos de prisão no Reino Unido, mas conseguiu fugir cinco anos depois com a ajuda de uma corda e o apoio de seus companheiros de cela.

Desde que escapou, ele vivia em Moscou, onde foi considerado um herói e recebeu o posto de coronel dos serviços de inteligência russos. George Blake era o último dos grandes espiões que a ex-União Soviética conseguiu recrutar durante a Guerra Fria.

Refletindo sobre sua vida em uma entrevista à Reuters em 1991, Blake disse que acreditava que o mundo estava às vésperas do comunismo. “Foi um ideal que, se pudesse ter sido alcançado, teria valido a pena”, afirmou.

“Achei que poderia ser e fiz o que pude para ajudar, para construir essa sociedade. Não se mostrou possível. Mas acho que é uma ideia nobre e acho que a humanidade vai voltar a ela.”

Comunista comprometido

Blake nasceu em Rotterdam, na Holanda, em 11 de novembro de 1922, e era filho de mãe holandesa e pai judeu egípcio, britânico naturalizado.

Ele escapou da Holanda na Segunda Guerra Mundial após se juntar à resistência holandesa como mensageiro e chegou à Grã-Bretanha em janeiro de 1943. Depois de entrar para a marinha britânica, começou a trabalhar para o MI6, em 1944.

Após a guerra, Blake serviu brevemente na cidade alemã de Hamburgo e estudou russo na Universidade de Cambridge antes de ser enviado em 1948 para Seul, onde reuniu informações sobre a Coreia do Norte comunista, a China comunista e o Extremo Oriente soviético.

Ele foi capturado e preso quando as tropas norte-coreanas tomaram Seul após o início da Guerra da Coreia em 1950. Foi durante seu tempo em uma prisão norte-coreana que ele se tornou um comunista comprometido, lendo as obras de Karl Marx e sentindo-se indignado com o bombardeio americano na Coreia do Norte.

Após sua libertação em 1953, ele retornou à Grã-Bretanha e em 1955 foi enviado pelo MI6 para Berlim, onde coletou informações sobre espiões soviéticos. No entanto, também passou segredos para Moscou sobre as operações britânicas e americanas. “Encontrei um camarada soviético cerca de uma vez por mês”, disse ele em uma entrevista publicada em 2012 pelo jornal do governo russo Rossiyskaya Gazeta.

Blake acabou sendo denunciado por um desertor polonês e levado para casa na Grã-Bretanha, onde foi sentenciado e preso.

Quando escapou de Wormwood Scrubs, ele deixou sua esposa, Gillian, e três filhos. Depois que Gillian se divorciou, Blake se casou com uma mulher soviética, Ida, com quem teve um filho, Misha. Ele trabalhou em um instituto de relações exteriores antes de se aposentar e ir para uma casa de campo, nos arredores de Moscou.

Georgy Ivanovich

Blake, que atendia pelo nome russo Georgy Ivanovich, foi premiado com uma medalha do presidente russo Vladimir Putin em 2007 e ocupou o posto de tenente-coronel no ex-serviço de segurança da KGB, do qual recebia uma pensão.

“Estes são os anos mais felizes da minha vida e os mais pacíficos”, Blake disse na entrevista de 2012 que marcou seu 90º aniversário. Ele não expressou arrependimento sobre seu passado: “Olhando para trás na minha vida, tudo parece lógico e natural”.

Embora ele trabalhasse separado do Cambridge Five — uma rede de espiões de ex-alunos de Cambridge que passavam informações para a União Soviética —, Blake contou que, durante sua aposentadoria, conheceu dois deles, Donald Maclean e Kim Philby.

Ele se lembrou de beber martínis, o coquetel preferido do fictício espião britânico James Bond, com Philby, mas disse que era mais próximo de Maclean em espírito.

Maclean morreu na Rússia em 1983 e Philby em 1988. Do restante dos Cambridge Five, Guy Burgess morreu na Rússia em 1963 e Anthony Blunt em Londres em 1983.

John Cairncross, o último a ser identificado publicamente por jornalistas investigativos e ex-oficiais da inteligência soviética, morreu na Inglaterra em 1995.

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