Moro: “Executivo e Legislativo não fizeram esforços contra corrupção”
Em palestra na Universidade Columbia, em Nova York, o juiz responsável pela Lava Jato também criticou a existência do foro privilegiado
atualizado
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De Nova York (EUA) – Em palestra realizada em Nova York (EUA), nesta segunda-feira (6/2), o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, criticou duramente os poderes Executivo e Legislativo por não terem, na avaliação do magistrado, feito movimentos significativos no combate à corrupção.
Para ele, houve um movimento refratário nesse sentido, com a tentativa de aprovar leis que poderiam impedir as investigações.
Moro citou as dez medidas contra a corrupção, feitas pelo Ministério Público, que foram bastante modificadas no Congresso brasileiro. “Apesar do apelo popular, a Casa rejeitou parte das proposições”, criticou.
O que mais perturba é uma aparente tentativa de regular caixa 2. Em outro ato controverso, o Senado tentou aprovar uma nova lei sobre abuso de autoridade
Sérgio Moro
Segundo o magistrado, ninguém defende o abuso de autoridade, mas a maneira feita foi interpretada como uma possível tentativa de limitar a independência do Judiciário.
Foro privilegiado
Moro criticou duramente dois aspectos da Justiça brasileira: a demora em julgar casos e o foro privilegiado para políticos e funcionários do primeiro escalão do governo federal. “Se uma investigação traz evidência de crimes, tem que mandar para o STF (Supremo Tribunal Federal), mas o STF tem uma pauta muito pesada”.
O magistrado elogiou a decisão de que condenados em segunda instância comecem a cumprir pena, mesmo que ainda haja espaço para novos apelos. “A consequência era uma história sem fim para os poderosos”, avaliou.
De acordo com Sergio Moro, a operação Lava Jato revelou que a corrupção, no Brasil, era institucionalizada e sistêmica e que o atual momento traz esperança para mudar a cultura da propina no país.
Descobrir e revelar isso, apesar de gerar impactos no curto prazo, não é parte do problema, mas da cura. A Lava Jato traz a oportunidade de superar essa prática vergonhosa, mas é cedo para dizer que será reduzida, é difícil fazer predições
Sérgio Moro
Fake News
Em momentos inusitados da palestra, Moro foi questionado por participantes sobre o que ele depois classificou como “teorias conspiratórias”. Entre elas, uma pessoa questionou a suposta filiação do seu pai ao PSDB, que fez oposição aos governos petistas. Ele negou.
“É uma pena atacarem um homem morto. É uma mentira. Pessoas têm que tomar cuidado com o que leem na internet e checarem a informação”, disse. A mesma pessoa insistiu e perguntou sobre o motivo de ele estar ao lado do senador Aécio Neves (PSDB), onde foi fotografado sorrindo em dezembro do ano passado. “Estava num evento público e ele estava no meu lado, o que posso fazer?” A fala foi seguida de risos da plateia.
Em outro questionamento, um participante quis saber se haveria alguma ligação dele com os Estados Unidos e até mesmo se haveria uma ligação dele com a CIA – departamento de inteligência do governo norte-americano – de olho no petróleo do pré-sal. “Eu gosto dos Estados Unidos que, como o Brasil, tem seus problemas. Essas são teorias conspiratórias. Às vezes, parece loucura”, concluiu.
Protesto
A palestra de Moro foi marcada por uma mescla de protestos e apoio massivo. Em frente ao prédio onde a palestra foi realizada, na Columbia, um grupo de cerca de dez estudantes e ativistas protestou contra o que eles chamaram de “ações enviesadas” do juiz.
Ao tentar iniciar a palestra, o grupo quis ler, sem sucesso, uma carta de protesto contra ele. A ação foi repetida três vezes e duramente vaiada pela audiência, de cerca de 200 pessoas. A maioria dos participantes mostrou apoio a Moro, o aplaudindo por quase 10 minutos.
Moro saiu rapidamente da palestra, que durou aproximadamente uma hora e meia, e seguiu para o aeroporto, de onde deve retornar ainda nesta segunda para o Brasil. A presidente do STF, Cármen Lúcia, é esperada para participar do segundo dia do mesmo evento, que será realizado nesta terça-feira (7/2).