Migrantes morrem ao atravessar deserto nos EUA: “Viraram múmias”
Reportagem reúne relatos de voluntários que participam de missões em busca de corpos de migrantes que tentam atravessar fronteira no deserto
atualizado
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Cerca de 1.400 pessoas perderam a vida ao tentar cruzar a fronteira entre o México e os Estados Unidos através do deserto de Sonora, no Arizona, no último ano. No local, grupos de voluntários buscam corpos de migrantes que sucumbiram ao calor extremo da região, considerada a passagem migratória mais perigosa do mundo.
Uma reportagem da BBC reuniu relatos de voluntários que participam de missões em busca de corpos de desaparecidos no deserto. Foi o caso de Raúl Sánchez, um mexicano de 36 anos que partiu rumo aos Estados Unidos após não conseguir um emprego estável em seu país natal. Ele deixou dois filhos adolescentes e a esposa.
“Ele nunca me disse que planejava atravessar o deserto de Sonora. Se ele tivesse me contado, eu jamais teria permitido”, afirmou a irmã de Raúl, identificada como Inmaculada.
O deserto de Sonora é o mais quente da América do Norte, chegando a atingir temperaturas de 50 °C. A desidratação é a principal causa da morte de migrantes na região. Apesar da travessia perigosa, muitos pessoas optam pela passagem pelo deserto por ter menos vigilância em comparação a outros pontos fronteiriços.
Ely Ortiz é um dos voluntários que atuam no grupo chamado Águias do Deserto. Ele passou a fazer parte das operações após entrar em uma busca pelo irmão e o primo pelo deserto, em 2009. Na época, a única organização que atuava na região era o Desert Angels. Quando conseguiu encontrar os familiares, já era tarde demais.
“Eles viraram múmias por causa do calor e ainda exalavam um cheiro horrível. Meu irmão tirou os sapatos e os colocou ao lado dele, acho que os pés dele já estavam muito machucados por causa das bolhas”, diz.
Após a experiência traumática, ele decidiu se dedicar à procura por migrantes no deserto junto à esposa. Os dois organizavam as buscas nos finais de semana. Ele conta que sofreu com bolhas nos pés e insolação durante as primeiras operações.
“Naquele momento entendi porque muitos morrem de sede e de calor”, afirmou Ortiz. “Os migrantes vão para debaixo de um arbusto para dormir e não acordam novamente.”
Além de procurar por corpos e pertences de migrantes mortos, os voluntários levam consigo água e comida e prestam apoio no resgate de pessoas que necessitam de cuidados.