“Meu pai injetou HIV em mim quando eu era bebê”, diz jovem de 22 anos
Pai, que estava se separando da mãe da criança, tinha a intenção de matar o próprio filho para não ter que pagar pensão
atualizado
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Os médicos de um hospital em St. Louis, nos Estados Unidos, descobriram que Bryyan Jackson era portador do vírus HIV quando ele tinha apenas cinco anos de vida. Sintomas, como febre alta, fígado inchado e fungos debaixo das unhas, despertaram a suspeita, que foi confirmada por meio de um exame de sangue.
O trágico diagnostico foi ainda mais cruel quando a causa da doença foi descoberta. A criança tinha sido deliberadamente infectada, ainda bebê, por seu próprio pai — um técnico em hematologia que estava se separando da mãe de Bryyan e estava preocupado com o pagamento de pensão.
Minha mãe tinha um filho de um relacionamento anterior quando conheceu meu pai e ambos decidiram ter uma nova criança. Mas quando ele voltou da Primeira Guerra do Golfo (em 1991, quando serviu como soldado), suas atitudes em relação a mim tinham mudando completamente. Ele começou a dizer que eu não era seu filho
Bryyan, em entrevista à BBC
O garoto tinha 11 meses quando, durante uma internação hospitalar por causa de uma crise asmática, o pai, Brian, aproveitou uma saída da mãe do quarto para injetar o vírus no filho. Sequer usou o mesmo tipo sanguíneo do bebê, o que provocou uma reação imediata no organismo, ainda atribuída pelos médicos aos efeitos da asma.
Cinco meses
Anos mais tarde, quando finalmente descobriram o que afetava Bryyan, os médicos deram a ele apenas cinco meses de vida. A equipe hospitalar temia não apenas os efeitos da doença, mas dos inúmeros remédios que ele precisava tomar diariamente para tentar mantê-la sob controle.
Hoje, o jovem não apenas tem a doença sob controle como se transformou em palestrante motivacional. Por meio de sua ONG, a Living With Hope, vivendo com esperança, em português, ele promove maiores esclarecimentos sobre a doença e estimula a solidariedade e empatia com portadores do vírus. A reviravolta na vida de Bryyan é impressionante, principalmente quando se leva em conta as sequelas que o tratamento lhe causou – sua audição foi gravemente afetada e prejudicou sua fala.
Segundo ele, sua rotina médica atual não envolve mais andar com sondas pelo corpo, como na época da escola. As 23 pílulas diárias são hoje apenas uma, embora precise ir ao médico de três em três meses para checar seu sistema imunológico. Além da saúde, a doença afetou sua vida social. Diversos relacionamentos foram interrompidos por pais receosos.
Preconceito
Empatia foi um sentimento que o jovem não encontrou muitas vezes ao longo de sua vida. Sua mãe enfrentou verdadeiras batalhas contra diretores preconceituosos para que o filho fosse aceito em uma escola. Quando enfim era aceito em uma, o menino tinha que seguir uma série de restrições, como, por exemplo, não utilizar o bebedouro da instituição.
“Eu também não era convidado para festas de aniversário. As outras crianças me insultavam. Mas essa era a realidade do HIV nos Estados Unidos nos anos 90. Havia muita desinformação. Comecei a achar que não havia mais espaço para mim neste mundo”, lembra.
Paternidade
Bryyan chegou a cogitar o suicídio, mas optou pela religião. A conversão ao Cristianismo fez com que ele perdoasse o pai — Brian Stewart foi condenado à prisão perpétua em 1998. Apesar do perdão, ele adotou uma grafia pouco usual para seu nome justamente para diferenciar-se do progenitor.
“No começo, senti muita raiva dele. Cresci vendo filmes em que pais eram maravilhosos para seus filhos e não conseguia entender como o meu tinha feito aquilo comigo. Ele não apenas tentou me matar, mas mudou minha vida para sempre”, declara.
Ele diz ainda que nunca teve contato com o pai. Mas, ainda este ano, poderá ficar frente a frente com ele durante uma junta que examinará um pedido de liberdade condicional. Na ocasião, Bryyan pretende ler um comunicado em que recomenda que o pai continue preso.
Apesar do trauma, o jovem afirma que ainda sonha em ser pai. Cita a técnica “lavagem de esperma”, que separa os espermatozoides do fluido seminal e permite que pais soropositivos tenham filhos sem infectar as parceiras. A inseminação é artificial. “Acho que seria um pai cool. Mas pais cool podem ser embaraçosos”, brinca.