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Em meio a crise, venezuelanos caçam animais ameaçados de extinção

Segundo pesquisadores, desde o início do atual regime houve um declínio nas instituições responsáveis pela proteção animal

atualizado

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Segundo especialistas, a profunda crise econômica, social e política por que passa a Venezuela está afetando dramaticamente os ecossistemas de um dos países de maior biodiversidade da América do Sul. Os efeitos dessa crise são complexos.

“Universidades e institutos reduziram ou até mesmo tiveram de cancelar seus projetos de pesquisa, e muitos cientistas emigraram”, disse à DW a bióloga Yurasi Briceño, do instituto venezuelano de pesquisas IVIC.

O biólogo Antonio Machado-Allison afirmou que “desde o início do atual regime, houve um declínio constante em todas as instituições responsáveis pela proteção e investigação dos recursos naturais”.

Isso levou à destruição ou fragmentação de habitats naturais, à perda de muitas espécies e à degradação de ecossistemas sensíveis, como os chamados morichales, uma paisagem tropical úmida única, com palmeiras de buriti.

É difícil fazer um balanço, porque, atualmente, muitos dos dados disponíveis sobre a fauna e a flora são insuficientes ou obsoletos. “Simplesmente não conhecemos a condição de certas áreas ricas em espécies”, explicou Fernando Trujillo, diretor científico da ONG ambiental colombiana Omacha.

Briceño estuda um dos menores golfinhos do mundo, o Sotalia guianensis – conhecido no Brasil como boto-cinza e, na Venezuela, como tonina costera –, no Lago Maracaibo. Lá, ela testemunhou como a pobreza e a fome levaram as pessoas a caçar os raros animais. Embora a caça desses mamíferos esteja proibida na Venezuela há mais de quarenta anos, a população age por pura necessidade.

“Desde 2017, o salário mínimo do país simplesmente não é suficiente, e falta acesso a proteínas. As pessoas então retomaram a busca por animais silvestres”, esclareceu Briceño.

Existem até gangues criminosas que se especializaram na caça de mamíferos. “De um boto como esse, eles obtêm de sete a oito quilos de carne muscular comestível”, explicou a bióloga.

Também a caça aos peixes-boi aumentou. “Antes, escutavam-se apenas relatos ocasionais de peixes-boi mortos por caçadores, agora são cerca de três por mês; com os botos, são quatro a cinco por mês, às vezes até por semana. Isso é muito grave, porque o seu número se desestabiliza rapidamente”, advertiu a bióloga.

O especialista ambiental colombiano Fernando Trujillo também demonstrou preocupação: “Restam apenas alguns exemplares desses peixes-boi. Durante muito tempo, eles foram caçados, caindo acidentalmente em redes de pesca, para então ser consumidos.”

Animais roubados de zoológicos
Além disso, Briceño ressaltou que o pessoal das reservas naturais foi reduzido e não dispõe mais de meios para proteger os animais. Nesse contexto, não só os mamíferos aquáticos estão ameaçados. “Há também os pássaros, tubarões ou tartarugas. Em relação absolutamente a todas as espécies, temos números de captura maiores do que antes.”

De acordo com reportagens da mídia, na Venezuela, os animais estão sendo roubados até mesmo de zoológicos para serem vendidos ou comidos.

A mineração desenfreada é outro problema que exerce enorme pressão sobre o meio ambiente no país, especialmente no chamado Arco de Mineração no rio Orinoco, com seus ricos depósitos de diamante, coltan e ouro.

“Nas proximidades da Ciudad Bolívar, de onde é extraída bauxita, por toda parte se vê apenas poeira quando se navega pelo Orinoco. É uma zona de completa sobrepesca, em que não há controle sobre a descarga de resíduos de mineração para dentro do rio”, afirma Trujillo.

Machado-Allison disse estar convencido: “A catástrofe causada nos últimos anos é de proporções gigantescas e um exemplo de políticas voltadas para um ecocídio generalizado numa das zonas que deveriam ser mais protegidas, dada a até então natureza intocada.”

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