Como estão os animais 10 anos após tragédia nuclear em Fukushima
Expostos por uma década à radiação em Fukushima, animais selvagens indicam como a natureza resistiu à tragédia nuclear
atualizado
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Há mais de 10 anos, o grande terremoto e o tsunami ocorridos no Leste do Japão danificaram a usina nuclear Fukushima Dai-ichi. O resultado imediato foi a liberação maciça de material radioativo no meio ambiente. Cientistas mostram agora que foram poucos os efeitos adversos à saúde em animais selvagens que foram expostos a baixos níveis de radiação na última década.
Quando ocorreu o acidente nuclear, as altas taxas de radiação levaram à evacuação de mais de 150 mil moradores de Fukushima, de uma área de aproximadamente 1.150 quilômetros quadrados. No entanto, a vida selvagem permaneceu dentro da chamada “Zona de Exclusão de Fukushima”. São gerações de animais expostos a níveis de radiação acima do limite de segurança para a ocupação de seres humanos.
As universidades do Colorado e da Georgia, em colaboração com o Instituto de Radioatividade Ambiental da Universidade de Fukushima, conduzem, ao longo dos últimos anos, pesquisas sobre o tema. Os resultados mais recentes foram publicados on-line na revista científica Environment International.
Entre 2016 e 2018, a equipe multidisciplinar estudou javalis e cobras rato (rat snake) que sofreram uma série de exposições, de várias intensidades, à radiação em Fukushima. A equipe examinou biomarcadores de danos ao DNA e estresse. Ao contrário do que se imaginava, não foi encontrado nenhum efeito adverso significativo à saúde.
Esperança para a população?
Co-autor do estudo, o professor James Beasley afirmou que o estudo da vida selvagem é de extrema relevância para os humanos, porque as fisiologias de ambos não são tão diferentes.
“Enquanto os ratos têm sido tradicionalmente usados como um modelo de biologia de radiação a partir do qual os efeitos humanos são extrapolados, os porcos – que são descendentes de javalis – são fisiologicamente mais parecidos com os humanos do que com os ratos e, portanto, uma espécie de modelo biomédico mais apropriada”, disse.
Quando a pesquisa começou, entre 2016 e 2018, o césio-134, um dos principais radionuclídeos liberados no acidente, havia diminuído em até 90% por causa de sua meia-vida curta.
A professora Susan Bailey, autora sênior do artigo, revelou ainda que os pesquisadores também encontraram níveis mais baixos do hormônio cortisol, um indicador primário de estresse, em javalis que vivem na Zona de Exclusão de Fukushima.
Bailey disse que esta descoberta é apoiada pelo fato de que as populações de animais estão prosperando em áreas onde os humanos não retornaram.
“É semelhante ao que eles estão vendo em Chernobyl”, disse ela. “Os animais estão se desenvolvendo bem, principalmente porque não há pessoas por perto, e eles não experimentam o estresse relacionado que isso traz.”
Relembre
Em 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude 9,1 sacudiu o fundo do mar a cerca de 70 quilômetros da costa da região japonesa de Tohoku. Foi o maior terremoto registrado no Japão e o quarto maior do mundo desde o início do registro sísmico por volta de 1900.
Em uma hora, enormes ondas de tsunami inundaram grande parte da costa oriental do Japão, enviando paredes de água de 5 a 10 metros para as cidades costeiras. Estima-se que mais de 1,6 mil pessoas tenham morrido na tragédia.
Mais de 70 mil árvores na floresta de pinheiros Takatamatsubara, plantados no século 17 para controlar as marés, foram arrastados.
O colapso e as explosões na usina nuclear de Fukushima Dai-ichi, entre 12 e 15 de março de 2011, aumentaram a miséria e o deslocamento de cidadãos japoneses. Mais de 21 mil hectares de terras agrícolas foram destruídos por inundações e pela água salgada.