CO2 liberado pelo derretimento no Ártico é maior do que se imaginava
Estudo mostra o potencial de liberação de dióxido de carbono por conta de desgaste mineral no permafrost, camada de solo congelada
atualizado
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Um novo estudo feito por ecologistas da Universidade de Alberta, no Canadá, mostra que a quantidade de dióxido de carbono liberado pelo derretimento do permafrost (camada de solo permanentemente congelada) pode ser maior do que se imaginava.
A pesquisa, publicada na última semana, é a primeira a documentar o potencial para contribuições substanciais de CO2 no derretimento do solo encontrado na região do Ártico, por meio de um processo inorgânico chamado de intemperismo mineral, motivado principalmente por conta do aquecimento global.
Este desgaste, segundo os autores da pesquisa, ocorre quanto os minerais previamente bloqueados no permafrost são expostos e se decompõem em componentes químicos pelo ácido sulfúrico ou carbônico que pode existir naturalmente na água.
Em escalas de tempo geológicas longas, o intemperismo por ácido carbônico é um importante controlador dos níveis atmosféricos de CO2 e do clima. Nas condições analisadas agora, no entanto, o desgaste pelo ácido sulfúrico pode liberar CO2 substancial.
“Qualquer elevação de temperatura adicional no Ártico, que está se aquecendo a duas vezes a taxa do resto do planeta, promove um degelo maior do permafrost e, portanto, apresenta desafios substanciais para os ecossistemas do Ártico e global”, explicou Scott Zolkos, doutorando e principal autor do estudo.
O metano e o CO2 retidos nos resíduos congelados de países como a Rússia, Canadá e norte da Europa são aproximadamente equivalentes a 15 anos de emissões produzidas pelo homem no nível atual.
E eu com isso?
Embora o permafrost esteja distante do Brasil, os riscos do derretimento afetam todo o planeta. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o descongelamento e a instabilidade dessas camadas podem liberar enormes reservas de carbono presas sob quase 1/4 do hemisfério Norte.
O permafrost está sujeito a um efeito chamado “tipping point” (ponto de ruptura), que faz com que, por conta do aumento da temperatura global, ele vai continuar derretendo e liberando gases de efeito estufa. Outros possíveis “tipping points” climáticos incluem o derretimento do gelo marinho, que cria água do mar que absorve em vez de refletir a luz do sol, e o desaparecimento das florestas – que levaria à liberação de bilhões de toneladas de carbono quando a biomassa absorvente de CO2 fosse perdida.
Isso contribui de forma significativa para o aquecimento global, levando a um planeta ainda mais quente, além do potencial impacto sobre ecossistemas e infraestrutura em nível global. A maioria do permafrost do planeta se formou durante a última era do gelo, que começou há mais de 100 mil anos, constituindo uma camada ativa de até dois metros de espessura no topo de uma camada de solo congelado.