Barulho excessivo faz golfinhos reduzirem o “bate-papo” nos oceanos
Pesquisa norte-americana mostra que, para conseguirem se entender, os mamíferos têm usado conversas cada vez mais curtas
atualizado
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Os níveis de ruídos nos oceanos crescem cada vez mais em um mundo onde é popular o uso de jet skis, barcos, navios, entre outros, para a navegação comercial e de lazer. No entanto, pouco ainda se sabe sobre o impacto que causam aos animais que dependem do som para se comunicar, como os golfinhos. Um estudo de pesquisadores do Centro de Ciências Ambientais da Universidade de Maryland, publicada nessa quarta-feira (24/10), mostra que estes mamíferos precisaram “simplificar” a comunicação entre eles para serem ouvidos em meio a tantos barulhos de motores de todo tipo de embarcações.
A bióloga marinha Helen Bailey explica que esta adaptação deles é como se tentassem responder a uma pergunta em um bar barulhento: depois de repetidas vezes e sem conseguirem se entender, eles optam por dar uma resposta curta. “Os golfinhos simplificaram suas chamadas para combater os efeitos de mascaramento do ruído da embarcação”, comentou.
Ela e a assistente Leila Fouda estudaram os níveis de ruído subaquáticos e os sons emitidos por golfinhos-nariz-de-garrafa, encontrados no Oeste do Atlântico Norte. Lá é onde eles experimentam níveis relativamente altos de tráfego de embarcações. “Gravações acústicas foram coletadas usando hidrofones colocados no fundo do oceano na Área de Energia Eólica arrendada a aproximadamente 20 milhas da costa”, diz o estudo.
A pesquisa evidencia que o aumento no ruído do navio resultou em altas frequências de assobios de golfinhos e uma redução na complexidade do apito, uma característica acústica associada à identificação individual. “A simplificação desses assobios poderia reduzir a informação nesses sinais acústicos e dificultar a comunicação entre os golfinhos”, disse Fouda.
Comunicação complicada
Animais extremamente sociáveis, os golfinhos produzem sons com os mais diversos objetivos. As conversas ocorrem para se manterem em grupo, para se alimentarem, e até mesmo para se chamarem pelos seus nomes quando diferentes grupos de golfinhos se encontram.
Morar em um bairro barulhento é um incômodo para qualquer um, quanto mais para eles, que dependem disso para a sobrevivência no oceano. “Ninguém quer morar em um bairro barulhento. Se você tem esses níveis crônicos de ruído, o que isso significa para a população?”, questionou a pesquisadora Bailey.
Geralmente, a comunicação dos golfinhos têm um padrão sonoro complexo, com subidas e descidas no tom e frequência nos seus “apitos”. As pesquisadoras analisaram a duração, as frequências inicial e final, a presença de harmônicos e os pontos de inflexão. Com ruído de fundo, como o de baixa frequência do motor de um navio, suas “assinaturas” de assobios se modificaram.
Com a pesquisa, elas esperam orientar quanto a produção de embarcações mais silenciosas. “Regulamentos e incentivos voluntários para reduzir o som das embarcações, com limites de velocidade ou motores mais silenciosos, poderiam ajudar a diminuir os efeitos sobre os golfinhos e outras espécies sensíveis ao som”, sugere o estudo.