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Megacrise na Argentina de Milei bate às portas do Brasil

O governo de Milei enfrentou primeira greve geral desde que assumiu o governo. Os manifestantes reagem às medidas de austeridade

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Foto colorida do presidente da Argentina, Javier Milei - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do presidente da Argentina, Javier Milei - Metrópoles - Foto: Tomas Cuesta/Getty Images

Javier Milei enfrentou, nessa quarta-feira (24/1), a primeira greve geral desde que assumiu a Presidência da Argentina. Embora os números fornecidos pela polícia contradigam os dados da Central Geral do Trabalho, é certo que as ruas se encheram de manifestantes que reagem às reformas do governo empossado há pouco mais de um mês. Em paralelo, o Brasil observa a crise que se desenrola em um dos principais parceiros econômicos na América do Sul.

A greve dessa quarta foi convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical do país. O movimento recebeu apoio de sindicatos de diversos setores. A maior concentração de manifestantes ocorreu na capital da Argentina, Buenos Aires. A organização fala em 1,5 milhão de adesões, enquanto a polícia estima 130 mil.

A Argentina enfrenta crise econômica, com inflação disparada, alta dívida externa e desvalorização da moeda. É nesse cenário que o libertário Milei derrotou o peronismo nas urnas, em novembro de 2023. As propostas incluíam ideias como fechar o Banco Central e reduzir fortemente os gastos públicos. Ainda assim, elenão tem maioria no Congresso para implementar as reformas de maneira tranquila.

As manifestações desta quarta miram medidas presentes no Decreto de Necessidade e Urgência (DNU). O instrumento que faz modificações na economia e nas leis trabalhistas ficou conhecido como “Decretaço”. O texto apresenta 366 artigos, que revogam leis e desregulam a economia.

A insatisfação popular também se estende à Lei Omnibus, como ficou conhecida a Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, projeto que prevê superpoderes a Milei e a privatização de empresas estatais. O texto, que conta com mais de 600 artigos, prevê medidas econômicas, financeiras, fiscais, previdenciárias, administrativas e sociais, bem como de segurança, defesa, tarifas, energia e saúde, por dois anos.

As medidas atendem a linha defendida por Milei de contenção à crise econômica e austeridade fiscal. Ainda no discurso de posse, o libertário destacou o cenário de devastação que assumiu o país. Segundo o mandatário, não há outra alternativa a não ser “o ajuste e o choque”, e ainda se comprometeu a combater a inflação com “unhas e dentes”.

Impacto Brasil e Argentina

No que se refere à interação entre os dois países, Reginaldo Nogueira, PhD em economia e diretor sênior do Ibmec, explica que o impacto do Brasil na Argentina é muito maior que o inverso. O Brasil exporta US$ 340 bilhões, e 5% disso vai para a Argentina. “É um valor relevante, mas não é algo que a gente não conseguiria transferir para outros parceiros comerciais. É claro que isso afeta algumas empresas brasileiras e alguns setores mais do que os outros, mas não é nada que a gente não conseguiria redirecionar”, observa.

Ainda assim, Nogueira sublinha que a Argentina é um importante parceiro para o Brasil no Mercosul. Assim, uma melhora do país seria benéfica a toda a região. “No caso de Milei, eram esperados movimentos contra as medidas de austeridade. Mas, por outro lado, não há escolha quanto ao que ele está fazendo”, descreve.

Ele exemplifica que o ajuste fiscal, a desvalorização da moeda e a estabilidade do câmbio teriam de ser buscados por qualquer um e fazem parte dos termos negociados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) desde o governo anterior.

Nogueira considera, porém, que é provável que Milei vá negociar para tornar as medidas do pacote mais fáceis de serem aprovadas. “Se ele aprovar 70% de tudo que foi proposto, isso já é suficiente para zerar o déficit fiscal na Argentina, voltar a acumular reservas internacionais, estabilizar o câmbio e começar a retirar o país da rota da hiperinflação”, diz.

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 Vista aérea de manifestantes em frente ao Congresso Nacional durante uma greve nacional contra as políticas do presidente Javier Milei convocada pelo sindicato dos trabalhadores CGT em 24 de janeiro de 2024, em Buenos Aires, Argentina
Pablo Moyano, Secretário-Geral Adjunto dos Camioneiros
Em 20 de dezembro, dez dias após assumir o cargo, o presidente libertário Javier Milei apresentou um decreto e um conjunto de projetos de lei com o objetivo de alterar ou reformar mais de 300 leis
Um policial prende um manifestante durante uma greve
Manifestantes gritam slogans em frente a policiais durante uma greve nacional
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Um boneco do presidente da Argentina, Javier Milei, é segurado por manifestantes durante uma greve nacional contra as políticas de Milei

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Vista aérea de manifestantes em frente ao Congresso Nacional durante uma greve nacional contra as políticas do presidente Javier Milei convocada pelo sindicato dos trabalhadores CGT em 24 de janeiro de 2024, em Buenos Aires, Argentina

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Pablo Moyano, Secretário-Geral Adjunto dos Camioneiros

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Em 20 de dezembro, dez dias após assumir o cargo, o presidente libertário Javier Milei apresentou um decreto e um conjunto de projetos de lei com o objetivo de alterar ou reformar mais de 300 leis

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Um policial prende um manifestante durante uma greve

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Manifestantes gritam slogans em frente a policiais durante uma greve nacional

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Um manifestante segura uma faixa em frente a policiais no Congresso Nacional durante uma greve nacional contra as políticas do presidente Javier Milei

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O cientista político e diretor da Dominium Consultoria, Leandro Gabiati, destaca que Milei tem adotado medidas impopulares e que impactam o dia a dia do cidadão, entre elas a diminuição da inflação com a redução do consumo.

“Há muita gente que votou no Milei  porque não queria votar na continuidade do governo anterior. Então, a margem de popularida que Milei teve nessa eleição pode evaporar rapidamente a partir de quanto o Milei demora para acomodar a economia”, explica.

Para o analista, o sucesso ou fracasso de Milei na Argentina não deve ter influência sobre o eleitorado do Brasil. “O eleitor brasileiro, em 2026, vai votar olhando para o Brasil. Não interessa se o Trump ganha ou se o Milei vai bem. O eleitor brasileiro é muito racional”, explica.

Ainda assim, o analista considera que, sob aspectos econômicos, a superação da crise na Argentina é importante para o Brasil. “Para o Brasil, logicamente, a situação da Argentina é muito relevante, um parceiro regional fundamental, e parte da indústria brasileira exporta muito para o país”, diz.

Derrota do peronismo

O economista e deputado Javier Milei venceu as eleições para a Presidência da Argentina, com pouco mais de 55% dos votos. O opositor, o candidato peronista Sergio Massa (Unión por la Patria), ficou com cerca de 44% dos votos.

A eleição do ultraliberal representou a derrota do peronismo em meio à crise econômica que atinge a Argentina. O movimento teve na Presidência nomes como o de Cristina Kirchner e o do atual presidente, Alberto Fernández.

Durante a campanha, Milei prometeu cortar relações com países que julga “comunistas”, como China e Brasil, além de romper com o Mercosul e fechar o Banco Central. Ele ainda se comprometeu a uma redução drástica nos gastos públicos, por meio do fim de programas sociais e a diminuição no número de ministérios de 18 para oito.

Admirador de políticos como Donald Trump e Jair Bolsonaro, o argentino compartilha pautas caras para os conservadores, como a liberação de armas e a contrariedade ao direito do aborto. A carreira política de Javier Milei acumula polêmicas, como quando se pronunciou a favor da livre venda de órgãos humanos.

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