Medo e fuga: mulher carregou marido idoso por 12km para deixar Ucrânia
Alla e Oleksandr – que tem uma hérnia inflamada e problema no quadril – demoraram 23 horas para chegar à fronteira com a Polônia
atualizado
Compartilhar notícia
O aposentado Oleksandr Krasun, de 73 anos, e a professora de piano Alla Krasun, de 62 anos, estão entre os 600 mil ucranianos que já deixaram o país desde o início da invasão russa, na última quinta-feira (24/2). Ao Metrópoles, o casal relatou os momentos de medo e pânico que viveram até atravessarem a fronteira.
Oleksandr e Alla moravam em Truskavets, cidade no oeste da Ucrânia, e fugiram com apenas duas mochilas, no meio da noite, para escapar dos russos.
“Recebemos uma ligação por volta das 5h de parentes nos Estados Unidos dizendo que a invasão da Rússia havia começado e tanques vindo de Belarus estavam entrando na Ucrânia. Em duas horas, vimos três aviões militares sobrevoando nossa casa e escutamos uma grande explosão”, conta Oleksandr.
Eles relatam que tentaram por horas conseguir um táxi, e, quando finalmente conseguiram, o trânsito estava completamente parado. Foram três horas para cobrir uma distância de 8 km, mas a fronteira ainda estava a 12 km quando tiveram que deixar o carro e completar o caminho a pé. Além da idade avançada, no entanto, Oleksandr tem uma hérnia inflamada e problema no quadril.
“Meu pai não conseguia andar. Minha mãe estava literalmente carregando ele. Eles não tinham comida, água, banheiro. Levou cerca de 23 horas para chegarem à fronteira. Meu pai caiu diversas vezes e minha mãe machucou o joelho”, diz Anton Krasun, filho do casal.
Com grande dificuldade, Oleksandr e Alla conseguiram chegar até a fronteira. Lá, eles contam que a recepção e a hospitalidade trouxeram conforto em meio a tanto pânico, e que tudo estava organizado – desde transporte e comida até suporte legal.
De lá, o casal pegou um táxi até Varsóvia, capital do país, e seguiram de avião até Dublin, na Irlanda, onde mora o filho.
“Sentimos saudade de casa e nunca quisemos deixar a Ucrânia. Minha mãe é apaixonada pela música e pelo seu emprego. Ela quer muito voltar, mas essa possibilidade não existe em um futuro próximo”, explica Anton.
Segurança não é alento
Mesmo em segurança, a dor da guerra não os deixou. Oleksandr e Alla contam que amigos morreram perto de Martynivka, depois de um bombardeamento dos russos pela Crimeia, e que muitos permanecem no país para lutar. “Estamos em choque e aterrorizados. Idosos e mulheres com crianças estão deixando o país, mas nossos jovens são fortes e não querem ir embora. O país inteiro é muito patriota e quer lutar contra o invasor. É a nossa terra”, diz Alla.
Questionados sobre o principal sentimento ao chegarem em um local seguro, o casal responde: raiva. “Queremos que o mundo nos ajude mais. Queremos que Putin deixe nosso país e pare de matar nossas crianças. Temos medo pelos nossos amigos e parentes mais distantes.”
Até a decisão de deixar o país veio com pesar e surpresa. “Sabíamos que as coisas não estavam seguras, mas nunca acreditamos que a Rússia iria a tal ponto de começar a nos bombardear”, dizem. “Somos idosos. Não queremos morrer. Queremos ver nossos netos e viver em paz. Estamos aterrorizados com a guerra que Putin começou.”
O futuro
Sem planos para voltar para casa tão cedo, Oleksandr e Alla acompanham a guerra de longe e o sentimento de impotência predomina.
“Nos sentimos sozinhos. Finalmente, a União Europeia nos deu armas. Mas o que precisamos é que a Otan decrete que aviões não podem voar pela Ucrânia. Não queremos nossas cidades bombardeadas e nossas crianças mortas. Acreditamos que possamos vencer na terra. Só pedimos que nosso céu esteja seguro.”
“Ninguém sabe o que vai acontecer. Tudo depende de Putin e suas ações. O homem é um psicopata, e você não pode acreditar em suas palavras”, finaliza Alla.