May tenta salvar acordo do Brexit; ministros renunciam
Primeira-ministra britânica disse ao Parlamento que cabe aos deputados escolherem se saída da União Europeia será com acordo
atualizado
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A primeira-ministra britânica, Theresa May, debilitada por uma série de demissões de membros do seu governo, advertiu o Parlamento nesta quinta-feira (15/11), de que uma votação contra o controvertido projeto de acordo firmado com Bruxelas pode implicar que não haja o Brexit.
“Podemos escolher sair da União Europeia (UE) sem acordo, podemos escolher que não haja Brexit ou podemos escolher nos unir e apoiar o melhor acordo possível”, afirmou May em discurso na Câmara dos Comuns, onde partidário e detratores do Brexit criticaram o texto aprovado na véspera pelo governo.
May sofreu um forte revés nesta quinta com as demissões de seu ministro do Brexit, Dominic Raab, da ministra de Trabalho e Pensões, Esther McVey, e de dois secretários de seu gabinete por discordâncias com o controvertido projeto de saída da UE, aumentando a chance de que o divórcio entre a UE e o Reino Unido aconteça sem concessões – o chamado “Hard Brexit” – ou até mesmo não aconteça.
Em Londres, alguns especialistas também questionam se o governo de May terá forças para superar mais essa crise em razão das tortuosas negociações pelos termos do Brexit. Além disso, fontes ouvidas pelo jornal The Telegraph, disseram que o deputado eurocético Jacob Rees-Mogg deve apresentar uma moção de censura contra o governo ainda nesta quinta.
“Não posso conciliar os termos do acordo proposto com as promessas que fiz ao país”, escreveu Raab em sua carta de demissão publicada no Twitter. “Entendo por que optou por seguir adiante com o acordo com a UE nos termos propostos, mas devo renunciar”, continuou. “Você precisa de um ministro do Brexit para defender o acordo com convicção.”
A moeda britânica, a libra esterlina, caiu bruscamente como reação às demissões no governo britânico. Às 11h15 (9h15 em Brasília), uma libra era negociada a 1,2796 dólar contra 1,302 na abertura do mercado. A divisa britânica volta, assim, a seu nível de terça-feira (13), antes do anúncio feito pelo governo sobre o acordo.
Raab, responsável por ocupar o cargo após a renúncia de David Davis em julho, fez a última etapa das negociações com a Comissão Europeia, e até agora, tinha apoiado o plano governamental.
Ele renunciou menos de uma hora depois do secretário de Estado britânico para a Irlanda do Norte, Shailesh Vara, anunciar sua saída do governo também por discordar dos termos do acordo que, para ele, impede o país de se transformar em um Estado soberano.
Em sua carta de renúncia, Raab – responsável por apoiar o Brexit no referendo de 2016, no qual 52% dos britânicos votaram pela saída da UE – diz que não está de acordo por duas razões.
Primeiro, “porque o regime regulador proposto para a Irlanda do Norte é uma ameaça muito real para a integridade do Reino Unido”. E em segundo lugar, porque não pode aceitar a cláusula de segurança para evitar uma fronteira na Irlanda ser “indefinida”, na qual, além disso, a UE “tem um veto” sobre a capacidade do Reino Unido de rescindi-la.
Poucos minutos depois, Esther também comunicou sua saída do governo. “O acordo apresentado por você (May) ontem para o gabinete não honra o resultado do referendo” de 2016, escreveu em sua carta de demissão também publicada no Twitter.
“Também não cumpre com os parâmetros que você (May) expôs no início do seu mandato”, afirmou a deputada pela circunscrição inglesa de Tatton. Segundo ela, o acordo preliminar, divulgado ontem após uma reunião do conselho de ministros, não cumpre as promessas do governo de negociar um Brexit que devolva “o controle sobre o dinheiro, as fronteiras e as leis” e permita formular uma política comercial “independente”.
A quarta a deixar o governo britânico foi a secretária de Estado para o Brexit, Suella Braverman. “Chegamos a um ponto em que essas concessões (feitas para Bruxelas) não respeitam a vontade do povo”, tuitou Suella em sua justificativa para deixar o cargo.