Macron anuncia retirada de quase 1,5 mil militares franceses do Níger
O presidente Emmanuel Macron disse que a França “decidiu pôr fim à cooperação militar com o Níger”. Há hoje cerca de 1.500 militares no país
atualizado
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O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou no domingo (25/9) a retirada até o final do ano do contingente militar francês no Níger, que sofreu um golpe de Estado em julho que derrubou o presidente Mohamed Bazoum e colocou uma junta militar no poder.
A França, disse Macron, “decidiu pôr fim à cooperação militar com o Níger”. Ele anunciou ainda que nas “próximas horas” o embaixador francês no Níger “regressará” a Paris. Há hoje cerca de 1,5 mil militares franceses no país.
Em uma entrevista concedida às emissoras TF1 e France 2, Macron declarou que a França estará “sempre disponível” para apoiar a África na luta contra o terrorismo jihadista, desde que a pedido de governos democraticamente eleitos ou de organizações regionais.
“Acabou a Françafrique (conceito geopolítico que descreve a influência exercida por Paris sobre suas ex-colônias africanas). Quando há golpes de Estado, não intervimos”, afirmou.
Revés para operação francesa na África
O anúncio sobre o Níger representa um revés da política da França para África, após militares franceses já terem se retirado dos vizinhos Mali e Burkina Faso nos últimos anos após golpes militares nesses países.
A França enviou militares à região do Sahel para combater grupos jihadistas, a pedido de líderes africanos. Desde 2013, quase 5 mil militares franceses foram enviados com essa missão no Mali, em Burkina Faso, no Chade, no Níger e na Mauritânia.
Em agosto de 2022, mais de nove anos depois de serem recebidos no Mali como “salvadores”, os 2,4 mil soldados franceses concluíram sua retirada do país, ordenada por Macron devido à deterioração das relações com a junta militar no poder em Bamako e perante a crescente hostilidade da opinião pública local em relação à França.
Dois meses depois, foi a vez de os cerca de 400 militares franceses no Burkina Faso deixarem o país. Desde 2022, o Níger vinha abrigando boa parte dos militares restantes dessa operação.
A saída dos soldados franceses em alguns casos costuma ser seguida de uma aproximação com o Grupo Wagner, como no caso do Mali, onde a junta militar no poder em Bamako fez um acordo com os mercenários para apoiar o seu exército.
“Estivemos lá porque o Níger pediu a nós, Burkina Faso e Mali, para os ajudarmos a combater o terrorismo nos seus territórios. Hoje, esses países foram vítimas de golpes de Estado. Ainda hoje falei com o presidente Bazoum, que agora está detido porque realizava reformas ambiciosas”, disse Macron.
O contingente francês no Níger, país onde a França também tem interesses econômicos no urânio, está distribuído entre a capital Niamey, Ouallam, ao norte, e Ayorou, perto da fronteira com o Mali. Macron afirmou que a retirada dos militares será feita de forma gradual e em coordenação com a junta militar que atualmente governa o Níger.
Sentimentos antifranceses
O Níger foi uma colônia francesa desde o início do século 20 até 1960, quando se tornou um país independente. Hoje é um dos principais fornecedores de urânio para as usinas nucleares francesas, com cerca de um terço do total num país onde 70% da eletricidade é gerada por reatores atômicos.
Para muitos africanos, o passado colonial pesa contra a França. E a isso se une, no período pós-colonial, o frequente apoio do Eliseu a autocratas africanos. Além disso, muitas pessoas na África percebem o presidente Emmanuel Macron como arrogante, o que certamente não melhora a imagem da França.
Regime do Níger acusa França de intervenção para desestabilizar o país
Apesar da percepção de arrogância que o acompanha, deve ser dito que poucos líderes franceses empreenderam tantos esforços para melhorar a imagem da França na África como Macron.
Num gesto pouco comum para líderes franceses, ele viajou até Ruanda para reconhecer que a França teve grande responsabilidade no genocídio de 1994, que deixou cerca de 800 mil mortos.
Macron elevou a ajuda financeira ao continente, começou a devolver obras de arte roubada na época colonial e deu apoio militar para combater militantes jihadistas que já mataram inúmeros civis na África.