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Mesmo com derrota, Macron não deixa esquerda chegar ao poder. Entenda

Esquerda venceu as eleições legislativas na França e conquistou o direito de indicar um novo premiê, mas Macron tem dificultado a transição

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Imagem colorida mostra o presidente da França, Emmanuel Macron, sorrindo - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra o presidente da França, Emmanuel Macron, sorrindo - Metrópoles - Foto: Harry Langer/DeFodi Images via Getty Images

Mais de um mês após a Nova Frente Popular (NFP) vencer as eleições legislativas na França, Emmanuel Macron continua obstruindo a nomeação de um novo primeiro-ministro indicado pela aliança de esquerda. Na prática, mesmo com a derrota de seu bloco no pleito, o presidente francês mantém o controle sobre o poder.

O nome rejeitado é o da candidata de esquerda Lucie Castets, indicada pela NFP e já recusado pelo presidente francês no fim de julho. Na época, Macron afirmou que pensaria sobre o assunto somente após as Olímpiadas, realizadas em Paris. 

Segundo o líder francês, um premiê de esquerda não teria capacidade de governar na atual conjuntura da política do país, o que poderia provocar mais instabilidade na França.

“Um governo baseado apenas no programa e nos partidos propostos pela aliança com maior número de deputados seria imediatamente censurado por todos os outros grupos representados na Assembleia Nacional”, disse o presidente. “Tal governo teria, portanto, imediatamente uma maioria de mais de 350 deputados contra ele, impedindo-o efetivamente de agir, tendo em conta a expressão dos líderes políticos consultados. A estabilidade institucional do nosso país exige, portanto, que não escolhamos essa opção”.

Após a decisão, a aliança de esquerda que conquistou o maior número de cadeiras no Parlamento convocou um protesto contra Macron, para o próximo dia 7 de outubro, e afirmou que pode apresentar um pedido de impeachment contra o presidente.

Esquerda vence mas não chega ao poder

Apesar de ter eleito 182 deputados nas últimas eleições legislativas da França, a Nova Frente Popular (NFP) não conseguiu formar a maioria absoluta no Parlamento.

Caso tivesse atingido o número de 289 cadeiras, o bloco de esquerda – ou qualquer outro partido ou bloco – teria força política suficiente para obrigar Macron a aceitar a nomeação de um novo premiê no país.

Assim como a aliança esquerdista, nenhum outro partido ou coligação conquistou o número mínimo de cadeiras para ditar as regras do jogo no Parlamento. O bloco de Macron terminou a votação com 168 assentos, enquanto a extrema-direita liderada por Marine Le Pen elegeu 143 deputados.

O que pode acontecer?

Analistas ouvidos pelo Metrópoles indicam que o momento na França será de negociações, em que Macron pode se ver em uma “sinuca de bico”.

“O que vamos ver agora na França é muita negociação política, uma tentativa do Macron impor o seu nome ao parlamento, mas lembrando que a iniciativa não é dele”, explica o cientista político Valdir Pucci. “Pelas regras do sistema parlamentarista, que vigora na França, o partido ou aliança que obteve a maioria dos assentos no parlamento indica a figura do premiê”.

Um dias após rejeitar a nomeação de Lucie Castets, Macron anunciou uma nova rodada de consultas com os diversos grupos políticos do país, sem divulgar a agenda dos encontros.

No atual cenário, Pucci afirma que Macron pode ter algumas saídas. Uma delas seria ceder à pressão da esquerda, buscar se unir a outros grupos políticos a fim de conquistar apoio para que o novo primeiro-ministro da França agrade seus bloco. Contudo, na falta de acordo, o presidente francês pode até mesmo “zerar o jogo” mais uma vez.

“A única saída legal que Macron teria nessa situação da falta de consenso seria dissolver esse novo parlamento, que já foi eleito, convocar novas eleições legislativas na França e trabalhar para que a aliança dele consiga a maioria novamente para, assim, indicar o primeiro-ministro”, afirma.

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