Lula ainda tenta destravar acordo UE-Mercosul. Veja o que impede
O presidente Lula tem se reunido com líderes internacionais em busca de apoio para o fechamento do acordo, mas termos não avançam
atualizado
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Desde o ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se reunido com líderes europeus na tentativa de salvar o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Na última segunda-feira (15/7), o chefe do Executivo recebeu o presidente da Itália, Sergio Mattarella, no Palácio do Planalto e voltou a tocar no assunto.
“Reiterei ao presidente italiano o interesse do Brasil em concluir, o quanto antes, um acordo com a União Europeia que seja equilibrado e que contribua para o desenvolvimento das duas regiões”, disse o presidente Lula, em declaração pública após o encontro.
O titular do Planalto tem batido na tecla de que, por parte dos países sul-americanos, o documento está pronto. Restaria, dessa forma, a iniciativa do lado europeu para finalizar o acordo.
Negociado há mais de 20 anos, um pré-acordo chegou a ser assinado em 2019, durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). No entanto, o documento não teve ratificação dos dois blocos e, portanto, é considerado inválido.
O termo busca reduzir as barreiras comerciais, tarifárias e não tarifárias das nações, o que aumentaria o comércio e estimularia o crescimento econômico.
Entraves
A intenção do petista era concluir as negociações em torno do acordo durante a presidência do Brasil à frente do Mercosul, no ano passado. Mas o mandato terminou sem consenso.
Um dos principais entraves era a resistência de países europeus,que enfrentaram uma onda de protesto de agricultores locais. O setor pode ser impactado com a abertura do mercado para países sulamericanos.
A pressão fez com que o presidente da França, Emmanuel Macron, um dos países mais afetados pelas manifestações, se posicionasse contra o acordo. O líder francês chegou a chamar o documento de “incoerente” e “antiquado” por não conversar com questões ambientais defendidas por Lula.
O líder francês defende a inclusão de cláusulas relacionadas à preservação do meio ambiente e políticas de combate ao desmatamento. Outro ponto que prologa o impasse é a resistência do Mercosul em ceder às mudanças nas regras sobre compras governamentais propostas no acordo.
Questões políticas
Além desses detalhes técnicos, o pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV Leonardo Paz aponta entraves políticos que impedem a assinatura.
“Você não tem, hoje, apetite em nenhuma das regiões para que esse acordo vá para a frente. O Mercosul vive uma crise de identidade muito grande. Especialmente, essa alternância de poderes que a gente tem: Macri e Dilma, Fernandez e Bolsonaro, Lula e Milei. Isso dificulta um alinhamento mais organizado, uma discussão mínima”, avalia o especialista.
As mudanças na política interna da Europa também atrapalha as negociações. “Você tem uma crise em boa parte dos países europeus no sentido de que forças políticas tradicionais estão sofrendo muito para se manter no poder. Então, fazem uma série de concessões, especialmente, a setores tradicionais da economia que estão bandeando para a extrema direita, especialmente a agricultura”, aponta Paz.