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Libertação de radicais alarma Europa

Grau da ameaça constituída por extremistas declarados vivendo no continente é desconhecida

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1 de 1 Figure of a man in an alley in the shadows - Foto: Istock

Pelos próximos dois anos, condenados por terrorismo sairão de prisões europeias às dezenas. São mais de 200 detentos da primeira leva de jihadistas na Síria e Iraque que sonhavam com um califado nunca estabelecido. Ao todo, 12 mil europeus deixaram suas casas para lutar pelo Estado Islâmico e a Al-Qaeda desde 2011. Agora, cerca de um terço pode estar em casa, a maioria vivendo livremente. Alguns aguardam julgamento, mas a maior parte nunca sequer enfrentou acusações sérias pela falta de provas suficientes.

Qual o tamanho da ameaça constituída por esses extremistas declarados vivendo na Europa? As autoridades estão preparadas para lidar com eles? As táticas até agora têm sido, no máximo, improvisadas. “Há um número de frustrações e motivações pessoais que têm empurrado jovens para a jornada ao Estado Islâmico com as quais agora teremos de lidar”, disse Rik Coolsaet, especialista em extremismo violento pelo Instituto Egmont, na Bélgica. “Se não tratarmos disso agora, o ambiente vai continuar contribuindo para esse tipo de violência jihadista”.

Farid Benyettou, ex-combatente que publicamente renunciou ao extremismo, teme a Europa não estar pronta para lidar com os militantes. Outrora apelidado de “imã Voltaire”, ele abandonou o ensino médio e se tornou um pregador para jovens muçulmanos de sua vizinhança em Paris. Benyettou escreveu um livro detalhando sua adesão ao extremismo. Aos 38 anos, ele passou 4 anos preso sob a condenação de terrorismo, durante os quais alternava entre o recrutamento de detentos jovens à causa e o estudo dedicado para tentar um diploma de enfermeiro. No grupo liderado, estavam Cherif e Said Kouachi, que mataram 12 pessoas no jornal satírico Charlie Hebdo, em 2015. Outro de seus seguidores se explodiu no Iraque; outro morreu na Síria enquanto lutava pelo EI.

Algo estalou em Benyettou à época, mas a mudança só veio com o ataque ao Charlie Hebdo. “As pessoas que cometeram aqueles crimes estavam diretamente ligadas a mim”, disse. “Eu tinha certa responsabilidade. Dentro desses grupos, as pessoas estavam defendendo a morte, e eu tinha defendido a morte.”

O sonho de Benyettou de se tornar enfermeiro evaporou. Ninguém o contrataria sabendo que ele tinha laços com os Kouachi. Agora, ele faz treinamento para se tornar motorista de caminhão. Ter um plano foi crucial para Benyettou deixar o extremismo para trás. Por isso, muitos temem que não só a França, mas toda a Europa vai falhar com a próxima onda de condenados por terrorismo.

“Mandá-los de volta para as exatas circunstâncias que fizeram eles escolherem o extremismo violento vai ter o mesmo resultado”, disse uma empresa de consultoria para governos e corporações, o Grupo Soufan.

Será que os condenados por terrorismo prestes a serem libertados são como Benyettou, como os irmãos Kouachi ou um meio-termo? O julgamento de Erwan Guillard é uma amostra desse dilema. Guillard é um francês convertido ao Islã. Ele abandonou o exército e apareceu com ferimentos de batalha numa propaganda do EI. Saiu da Síria voluntariamente, se rendeu à polícia e forneceu à inteligência francesa informações sobre o grupo extremista. “Um dia você vai sair da prisão. O que vai fazer?” perguntou o juiz a Guillard, em seu recente julgamento. Guillard ficou confuso por um momento, murmurando algo sobre aprender a dirigir grandes equipamentos. Então olhou diretamente ao juiz. “Eu não vejo nenhum futuro na França. Nós não dividimos os mesmos valores.”

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