Justiça italiana condena mais de 200 pessoas por ligação com a máfia
A decisão desta segunda-feira (20/11) marcou um duro golpe na Ndrangheta, um dos maiores grupos do crime organizado do país
atualizado
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Após três anos de julgamento, a Justiça italiana condenou 207 mafiosos e colaboradores da Ndrangheta, grupo criminoso atuante na região da Calábria, sul da Itália. Apesar de outras 131 absolvições no mesmo processo, a decisão desta segunda-feira (20/11) marcou um duro golpe num dos maiores grupos do crime organizado no país europeu.
Somadas, as sentenças solicitadas pelos promotores aos 322 acusados totalizariam aproximadamente 5 mil anos. No entanto, após as diversas deliberações realizadas, esse tempo caiu quase pela metade. As maiores penas chegaram aos 30 anos de prisão aos integrantes mais antigos da organização criminosa.
Na sessão, realizada no Tribunal de Vibo Valentia, província calabresa, a juíza Brigida Cavasino leu por mais de 1h30 os nomes dos julgados e as respectivas penas deles, enquanto os réus acompanhavam tudo, por videoconferência, em diversas prisões espalhadas pela Itália. Enquanto isso, os familiares dos criminosos, que compareceram à corte, escutavam atentamente as sentenças e suspiravam de alívio a cada abrandamento de sentença.
Um dos condenados de maior destaque, Giancarlo Pittelli, 70 anos, pegou 11 anos de prisão, seis a menos do que o pedido pelos promotores. O ex-parlamentar e advogado é apontado como um negociador da máfia.
Histórico de crimes
O julgamento se tornou emblemático não só pela quantidade de acusados, mas por expôs a ligação do poder com o crime organizado. A lista de réus continha tanto membros da organização criminosa, quanto funcionários públicos, policiais, ex-políticos etc. Somente Luigi Mancuso (conhecido como O Supremo), 69 anos, o chefe do grupo foi retirado da lista e será julgado separadamente.
Além dos laços com as autoridades, a facção também ficou conhecida pela brutalidade empregada para exercer dominância sobre o território de atuação. Os crimes vão desde a compra de votos e pagamento de propina até fraudes em concursos públicos e armazenamento de armas.
Pessoas que iam contra a vontade dos mafiosos, eram presenteadas com cachorros mortos, golfinhos, cabeças de cabra decepadas etc.
Ao longo do julgamento, que começou em janeiro de 2021, o tribunal reuniu vastas horas de depoimentos, que incluíram 50 ex-agentes a associação que passaram a informar as autoridades sobre os crimes praticados pela organização.
Reação
Membros do judiciário italiano e advogados comemoraram o golpe sofrido pela Ndrangheta. Alguns acompanharam o audiência protegidos em fortes, como foi o caso do empresário Rocco Mangiardi, 67 anos, um dos primeiros a denunciar os criminosos por extorsão, em 2009.