Israelenses e palestinos entram em conflito no Dia de Jerusalém
Pano de fundo para escalada de conflitos é a possível remoção de palestinos de um bairro da Cidade Sagrada para ocupação por famílias judias
atualizado
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Jerusalém – Perto da Cidade Velha, sons de sirenes de ambulâncias indicavam um novo confronto entre policiais israelenses e manifestantes palestinos na manhã desta segunda-feira (10/5). Até o momento, segundo informações do Vermelho Crescente (serviço de resgate da Autoridade Palestina), os conflitos deixaram um saldo de 305 árabes feridos, sendo sete deles em estado grave, além de nove policiais israelenses.
No início da tarde, o Hamas fez um alerta para que os israelenses saíssem do Monte do Templo, mas os festejos pelo Dia de Jerusalém continuaram. Então, pelo menos sete mísseis foram disparados por manifestantes palestinos em direção a Jerusalém. Apesar do ataque, ninguém ficou ferido.
Como retaliação, os israelenses teriam atacado a Faixa de Gaza e, segundo os palestinos, houve nove mortos, entre eles, três crianças.
Segundo as Forças de Defesa de Israel, as mortes das crianças foram causadas pelo lançamento de um foguete de Gaza em Israel “que deu errado”. A mesma fonte afirmou que um machucado por estilhaços e um civil levemente ferido por um tiro antitanque contra seu carro na fronteira de Gaza estão bem.
O motivo do aumento das tensões é a Marcha da Bandeira, evento no qual israelenses nacionalistas celebram o dia em que Israel capturou Jerusalém Oriental da Jordânia, durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Este ano, o evento coincide com o Ramadã, que é o mês sagrado dos muçulmanos.
Durante a marcha, milhares de judeus entram na Cidade Velha de Jerusalém através do Portão de Damasco, dançando, cantando e segurando bandeiras de Israel, numa espécie de provocação aos árabes, ao insinuarem que a cidade é deles.
Antes de irem ao Muro das Lamentações, eles passam pelo Monte do Templo, onde fica a mesquita de Al-Aqsa, que reúne milhares de fiéis diariamente, desde o início do Ramadã, e tem sido palco de conflitos.
Para evitar novos confrontos, a polícia decidiu proibir a visita de judeus ao local. Ainda assim, palestinos que ocupam a mesquita atiraram pedras em direção às forças de segurança que estão de plantão na Esplanada das Mesquitas.
De acordo com a polícia de Israel, milhares de palestinos que se reuniram no complexo durante a noite juntaram pedras e improvisaram armas com barras de ferro. Por sua vez, os policiais revidaram o ataque com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha.
Um israelense que dirigia um carro próximo à Cidade Velha também foi atingido por pedras pelos manifestantes e perdeu o controle do carro, atropelando um palestino.
“Agressão criminosa”
Um dos líderes do Hamas, Ismail Haniyeh disse em comunicado que a agressão criminosa de Israel contra os fiéis na mesquita de Al-Aqsa “não ficará sem resposta”, e pediu aos palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém que aumentem a presença no complexo. Entre as reivindicações dos palestinos estão a suspensão do despejo de 70 famílias do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental.
Um tribunal israelense ordenou que as famílias palestinas se retirassem de lá, uma vez que a propriedade pertencia a uma associação religiosa judaica antes de 1948, e uma lei israelense de 1970 permite que os judeus reivindiquem propriedades em Jerusalém Oriental antes que caíssem nas mãos da Jordânia. Lei semelhante não existe para os palestinos.
Temendo novos conflitos, a Suprema Corte de Israel, que deveria se reunir para decidir sobre o recurso das famílias nesta segunda-feira, acabou adiando a audiência.
“Coquetel envenenado”
Ao Metrópoles, o Ronni Shaked, coordenador do Instituto de Pesquisa Harry S. Truman e professor da Universidade Hebraica, disse que essas tensões podem ser comparadas a um ‘coquetel envenenado’.
“Existe muito ódio entre judeus e palestinos, e uma autorização para judeus viverem dentro de bairros palestino pode ser o estopim”, alertou.
Segundo Shaked, há um grande muro dentro de Jerusalém, feito de pedras, “mas existe também um muro invisível, feito de ódio, que divide a cidade. Temos um lugar lindo, com pessoas maravilhosas, afinal, nem todo mundo é fundamentalista. Mas esses grupos estão influenciando nossas vidas”, desabafa.
Ele também não vê um cenário muito otimista para o futuro de Jerusalém.
“No fim de maio ou até desta semana, vamos voltar à tensão regular que temos aqui. Mas Jerusalém nunca será calma, temos conflitos sobre locais sagrados e eles são lugares muito perigosos. Afinal, todos dizem: ‘Isso é meu'”, conclui.