Israel x Irã: entenda os impactos do conflito no preço do petróleo
Irã é o terceiro maior produtor de petróleo da Opep. Conflito no Oriente Médio deverá pressionar a inflação globalmente
atualizado
Compartilhar notícia
Com o Irã na posição de terceiro maior produtor de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) — atrás apenas da Arábia Saudita e do Iraque — e sétimo do mundo, em 2023, o conflito com Israel deverá respingar em várias partes do mundo, gerando pressões inflacionárias e com potencial de impactar o preço dos combustíveis a nível global.
Na última semana, Israel iniciou bombardeios no Líbano como forma de combater o grupo xiita Hezbollah, patrocinado e financiado pelo Irã. Em retaliação, o governo iraniano promoveu um ataque de mísseis na capital israelense Tel Aviv, com potencial de desencadear um conflito mais amplo com Israel, cenário que pode envolver os Estados Unidos.
A possibilidade de o Irã desenvolver armas nucleares é uma preocupação adicional na escalada do conflito.
Irã ou Israel: qual potência militar tem o maior arsenal de guerra
A agência Bloomberg informou que os Estados Unidos estão apoiando preparativos para defender Israel. A Embaixada dos EUA em Israel disse aos funcionários para voltarem para casa e estarem preparados para entrar em abrigos antiaéreos, a primeira ordem desse tipo em meses. Navios e aeronaves dos Estados Unidos também estão posicionados na região.
Reação nos mercados
O ataque do Irã a Israel provocou uma reação imediata nos mercados, com os preços do petróleo Brent e WTI registrando altas significativas de 3,44% e 3,49%, respectivamente.
Segundo Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, esse aumento repentino reflete a preocupação dos investidores com possíveis interrupções no fornecimento de petróleo da região, que é crucial para o mercado global de energia.
“O aumento nos preços do petróleo pode ter um efeito cascata na economia global, afetando diretamente os custos de combustíveis e, consequentemente, pressionando a inflação tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos”, explicou.
No cenário brasileiro, a valorização das ações da Petrobras (PETR4) em 2,89% demonstra como o setor de energia responde rapidamente a essas tensões geopolíticas. “Para os consumidores e empresas, isso pode significar um aumento nos custos de transporte e produção, potencialmente elevando os preços de bens e serviços”, prosseguiu Murad.
Instabilidade na oferta mundial de petróleo
Qualquer conflito no Oriente Médio, principalmente envolvendo o Irã, causa muita instabilidade na oferta mundial de petróleo, visto que interrupções no fornecimento da commodity por um grande exportador pode elevar significativamente os preços.
Segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, em quadros mais extremos, como a interrupção do Estreito de Ormuz — passagem que liga o Golfo Pérsico ao Oceano Índico e por onde passa cerca de 21% do petróleo mundial —, os preços poderiam subir para além de US$ 100, com implicações devastadoras para a inflação global.
“Isso pressionaria os custos dos combustíveis, principalmente em países importadores como os Estados Unidos, onde o preço da gasolina poderia aumentar consideravelmente. Essa alta do petróleo não apenas intensifica a inflação, mas também afeta os custos de transporte e produção, contribuindo para um cenário inflacionário global mais persistente”, analisou Lima.
Nesse contexto de incerteza geopolítica, cresce a busca por ativos de proteção, como ouro e dólar, o que leva à valorização da moeda norte-americana frente a outras, o real incluído.
Dólar sobe e Bolsa cai com temores sobre conflito no Oriente Médio
“O impacto prolongado desse conflito pode continuar pressionando os preços das commodities e aumentar o custo de vida globalmente, principalmente em um cenário no qual, para muitos países, existe uma linha tênue entre recessão e um contexto inflacionário problemático”, completou o especialista.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, entende que a guerra no Oriente Médio começa a ter repercussões em nível mundial, especialmente no que diz respeito aos combustíveis e à energia, áreas que apresentam muitos riscos.
“Isso impacta diretamente o transporte e toda a logística de commodities ao redor do globo. Esse cenário preocupa tanto a China quanto os Estados Unidos, pois ambos são mercados fundamentais que impulsionam a economia e representam uma parte significativa do comércio de matérias-primas”, ressaltou.
Na visão dele, a preocupação central está relacionada à inflação. “O aumento dos preços, resultado dos problemas logísticos e da escassez de combustíveis e energia, contribui para uma pressão inflacionária”.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, argumenta que a retaliação de Israel ao Irã será um fator determinante, mas é importante notar que os confrontos entre os dois países não são novos.
“Focando no preço do petróleo, é fundamental considerar o clima de tensão no Oriente Médio, uma região que responde por um terço das exportações globais de petróleo, juntamente com a guerra entre Rússia e Ucrânia. Surpreendentemente, os preços do barril estão extremamente baixos, especialmente se comparados a valores históricos, que geralmente ficam acima de US$ 100”.
Processo desinflacionário
Cerca de dois anos e meio após a invasão russa na Ucrânia, o preço do barril do petróleo se estabilizou na faixa de US$ 70. Analistas supunham que esse valor giraria na faixa de US$ 120 a US$ 125.
Para Eyng, isso indica que o mundo está passando por um processo desinflacionário. “Na Europa, o consumo está diminuindo, enquanto nos Estados Unidos a taxa de juros de referência está sendo reduzida para estimular a economia. Após o pico inflacionário pós-coronavírus, a economia global parece estar em desaceleração”.
Ele ponderou que, nesse processo atual, pode ser que os impactos sejam temporários. “Embora um aumento nos conflitos possa gerar pressão sobre os preços do petróleo, acredito que isso seria um impacto temporário. O cenário atual, com a desaceleração do consumo, sugere que os preços permanecerão relativamente baixos”.
Na mesma linha, João Kepler, CEO da Equity Fund Group, acredita que, apesar dos riscos de retaliação de Israel em relação ao Irã e de os preços se aproximarem de US$ 80 o barril, nesta quinta-feira (3/10), o impacto no mercado de petróleo parece, por enquanto, limitado, mas tem potencial de afetar principalmente países que dependem da importação de energia.
“Esse aumento no preço do petróleo impactaria os custos de combustíveis e aumentaria a inflação global, afetando tanto os consumidores quanto as cadeias produtivas, especialmente em países dependentes de importação de energia”, sustentou Kepler.