Israel x Hamas: guerra completa um mês sem perspectivas de solução
A guerra entre Israel e o Hamas, até o momento, resultou na morte de pelo menos 11,4 mil pessoas, e uma crise humanitária se instalou em Gaz
atualizado
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Há um mês, em 7 de outubro, o conflito entre Israel e o Hamas registrou uma escalada histórica. Em uma ação surpresa, o grupo extremista invadiu Israel e atacou civis, o que desencadeou sucessivas retaliações israelenses contra a Faixa de Gaza por meio de bombardeios e incursões terrestres. Até o momento, a guerra soma ao menos 11,4 mil mortos e tensiona países do Oriente Médio.
Nesse contexto, a população da Faixa de Gaza, estimada em cerca de 2,2 milhões, segue imersa em uma crise humanitária, ainda sem horizonte de fim. Ainda que permitida a entrada parcial de ajuda humanitária no território, os palestinos seguem lidando com a escassez de suprimentos de primeira necessidade, como alimentos, combustíveis e remédios.
Israel e Hamas, porém, não dão indícios de que a guerra acabará em breve. De um lado, o grupo extremista afirma que só libertará reféns se houver acordo de cessar-fogo. Do outro, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, alega que “um cessar-fogo é pedir que Israel se renda à barbárie e ao terrorismo, e isso não vai acontecer”.
Ana Carolina Marson, doutora e professora de relações internacionais na Universidade São Judas Tadeu, tem expectativa de que o confronto dure, ao menos, mais algumas semanas.
“Já tem um mês de direitos humanos violados, vidas palestinas perdidas, sequestros de israelenses pelo Hamas. Não vejo esse conflito acabando tão cedo. Israel vem terraplanando a Palestina, Hamas faz incursões, mas a investida israelense na Palestina vem sendo muito dura. Não vejo o conflito acabando em duas ou três semanas”, explicou.
Luciano Muñoz, professor de relações internacionais no Centro Universitário de Brasília (Ceub), prevê mais alguns meses de guerra, caso outros países não pressionem por cessar-fogo. “Israel invadiu por terra a Faixa de Gaza, e o objetivo declarado era destruir o Hamas, seja destruição física dos membros do grupo, seja de todas as instalações, seja dos túneis subterrâneos. Para fazer isso, precisa de uma longa invasão por terra”, avaliou.
Para Marson, os próximos planos de Israel deverão seguir uma lógica “clássica” de conflito, com outros bombardeios e investidas terrestres para ocupar mais dos territórios, especialmente a Faixa de Gaza. Enquanto isso, o Hamas poderá segurar por ainda mais tempo os reféns israelenses.
“O Hamas, sendo grupo que se utiliza de meios terroristas, provavelmente vai tentar utilizar a opinião pública a seu favor ou chantagear Israel com os reféns”, destacou Muñoz.
Crise humanitária em Gaza
Até o momento, a guerra resultou em cerca de 11,4 mil mortos, somados ambos os lados. Em Israel, foram 1,4 mil óbitos, tendo a maior parte ocorrido no ataque surpresa de 7 de outubro. As mais de 10 mil vítimas palestinas, porém, se acumularam no decorrer do mês diante dos bombardeios das Forças de Defesa de Israel em Gaza.
Sob a ótica do direito internacional, a ação do Hamas viola princípios fundamentais, uma vez se utiliza do terrorismo e do sequestro de civis como táticas de guerra. Mas a resposta dada por Israel ao grupo extremista também é alvo de críticas por parte da comunidade internacional, que a considera desproporcional e uma forma de punição coletiva aos cidadãos de Gaza.
“Quando essa crise terminar, a situação humanitária em Gaza vai estar extremamente complicada. A gente precisa de uma resposta agora da comunidade internacional para lidar com essa situação. São muitos civis perdendo a vida em um conflito do qual eles não participam”, criticou Ana Carolina Marson. “Acredito que as perspectivas são péssimas”.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) tem fracassado em dar uma resposta ao conflito. Sob a presidência da delegação brasileira, o colegiado apreciou quatro minutas de resolução que visavam frear o conflito, mas nenhuma passou. “Vendo a ausência de resposta da comunidade internacional, acredito que siga avançando a guerra”, analisou a professora da Universidade São Judas Tadeu.
O principal entrave para aprovação de um texto é o poder de veto dos países membros permanentes do colegiado. A minuta brasileira, por exemplo, garantiu a maioria dos votos, mas acabou vetada pelos Estados Unidos. A delegação norte-americana discordou da aprovação pelo texto não citar o direito à autodefesa de Israel.
Diante da falta de consenso do colegiado, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução que pedia trégua humanitária em Gaza. O texto, porém, tem caráter apenas recomendatório. O governo de Israel não acatou a medida e classificou o apelo como “desprezível”.
Brasileiros em Gaza
Em meio às invasões terrestres de Israel, os civis tentam deixar o enclave da Faixa de Gaza, mas precisam esperar uma lista de nomes para saber se poderão cruzar a fronteira com o Egito. Até agora, nenhum dos 34 brasileiros e familiares próximos de Gaza teve essa autorização para deixar a área do conflito.
A falta de inclusão na lista de determinadas nacionalidades, entre elas a brasileira, tem rendido a Israel acusações de que o país estaria agindo sob critérios políticos. Na última sexta-feira (6/11), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou ter conseguido a garantia do chanceler de Israel de que os brasileiros serão liberados até a próxima quarta-feira (8/11).
Nesse sábado (4/11), a Embaixada de Israel no Brasil culpou o Hamas por estar “atrasando” a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza, e garantiu estar fazendo tudo que está ao seu alcance.
“O Hamas está atrasando a saída de estrangeiros da Faixa de Gaza e os utiliza de maneira desumana para se apresentarem como vítimas (…) O Estado de Israel está fazendo absolutamente tudo que pode e que está ao seu alcance para que todos os estrangeiros deixem a Faixa de Gaza o mais rapidamente possível”, informou a embaixada em nota.