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As forças israelenses lançaram dezenas de ataques contra o Líbano na manhã desta segunda-feira (23/9), após emitir um alerta à população e prometer outras ofensivas “mais extensas” contra o Hezbollah. Israel visou na manhã desta segunda-feira ao menos 150 alvos do grupo em todo o Líbano, e não apenas no sul.
Segundo apuração da RFI, esta é a primeira onda de ataques previstos. A imprensa libanesa relata ataques amplos e, possivelmente, os mais intensos não apenas durante o confronto atual, mas desde a Segunda Guerra do Líbano, em 2006.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, pediu à população “disciplina e que seguisse as orientações do Comando da Frente Interna” nos próximos dias. O Comando da Frente Interna é o braço do exército responsável por comunicar as diretrizes aos civis no país.
O porta-voz do Exército, Daniel Hagari, fez um pronunciamento legendado em árabe alertando aos libaneses para que deixassem as casas onde há armamento do Hezbollah. Posteriormente, Israel enviou mensagens de texto aos telefones celulares da população do Líbano com o mesmo alerta.
A agência de notícias oficial do Líbano (ANI) divulgou a mesma informação nesta segunda-feira. Os libaneses teriam recebido mensagens em seus telefones fixos, pedindo que se retirassem de suas casas.
“Moradores de Beirute e de várias regiões receberam mensagens na rede telefônica fixa, cuja fonte é o ‘inimigo israelense’, pedindo que se retirem rapidamente dos locais onde estão”, disse a ANI. O gabinete do ministro da Informação, Ziad Makari, em Beirute, confirmou ter recebido a ligação.
Segundo a AFP, o Exército israelense também aconselhou os cidadãos libaneses a “se afastarem dos alvos” do Hezbollah no sul do Líbano, acrescentando que os ataques contra o movimento islâmico “continuarão no futuro próximo” e que serão “maiores e mais precisos”.
Cerca de 150 mil libaneses e entre 60 mil e 70 mil israelenses deixaram suas casas a partir do momento em que o Hezbollah passou a disparar contra o norte de Israel em 8 de outubro, no dia seguinte aos ataques do Hamas contra as comunidades e cidades do sul do território israelense.
Ataques mais intensos
Desde que o retorno dos israelenses ao norte do país passou a ser um objetivo oficial da guerra atual, as forças de Israel seguem aumentando a intensidade dos ataques.
Neste momento, a estratégia é demonstrar força militar para mudar a posição declarada do Hezbollah de que irá seguir com os ataques a Israel enquanto não houver um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
O objetivo de Israel é romper este vínculo e tratar esses dois campos de batalha separadamente.
As tentativas de alcançar soluções diplomáticas no norte de Israel/sul do Líbano intermediadas por países como Estados Unidos e França não produziram nenhum resultado até agora.
Israel quer, portanto, “convencer” o Hezbollah a mudar de posição e negociar não apenas um cessar-fogo, mas o afastamento da milícia xiita libanesa para pelo menos dez quilômetros de distância da fronteira entre Líbano e Israel.
Retorno ao norte de Israel
Um dos objetivos do governo israelense é o retorno ao norte do país de dezenas de milhares de residentes que fugiram dos ataques do Hezbollah.
“Estamos determinados a garantir que as pessoas no norte possam voltar para suas casas com segurança. Nenhum país pode tolerar o tiroteio contra seu povo, suas cidades, e nós também não toleraremos”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no domingo.
“O Hezbollah foi alvo de uma série de golpes que nunca teria imaginado”, acrescentou, falando pela primeira vez sobre os ataques, atribuídos a Israel, aos pagers e walkie-talkies usados pelo grupo.
“Seremos capazes de alcançar qualquer um que ameace os cidadãos de Israel”, alertou o chefe do Estado-Maior das FDI, Herzi Halevi. É “uma mensagem para o Hezbollah, o Oriente Médio e além”.
“Ameaças não vão nos parar”
“As ameaças não vão nos parar: estamos prontos para todos os cenários militares” diante de Israel, disse o número dois do Hezbollah, Naim Qassem, no funeral de Ibrahim Aqil, comandante da unidade de elite morto na sexta-feira. Ele anunciou “uma nova fase” na batalha contra Israel.
No domingo, ataques israelenses contra alvos do Hezbollah no Líbano mataram três pessoas, de acordo com autoridades libanesas, incluindo dois combatentes do grupo xiita.
O movimento libanês anunciou disparos contra instalações militares no norte de Israel. Cerca de “150 foguetes, mísseis e drones” foram disparados contra o norte de Israel “sem causar danos significativos”, disse o Exército.
Centenas de milhares de pessoas tiveram que se refugiar em abrigos no norte, onde as escolas estão fechadas até segunda-feira.
A troca de tiros se intensificou desde a onda de explosões de pagers e walkie-talkies do Hezbollah, que mataram 39 pessoas e feriram 2.931 na terça e quarta-feiras da semana passada nos redutos do movimento no Líbano, de acordo com as autoridades libanesas.
Na sexta-feira, o ataque israelense a um prédio nos subúrbios do sul de Beirute acabou com a força de elite do grupo islâmico, a Unidade Radwan, que perdeu 16 membros, incluindo Ibrahim Aqil. O ataque matou ao todo 45 pessoas, incluindo civis, segundo as autoridades libanesas.
Reações
Diante dessa espiral de violência, os Estados Unidos, principal aliado de Israel, pediram a seus cidadãos que deixem o Líbano. “Faremos tudo o que pudermos para evitar uma guerra em toda a região”, disse o presidente Joe Biden.
A União Europeia e Londres solicitam um cessar-fogo imediato. “A região está à beira de uma catástrofe iminente”, disse a coordenadora especial da ONU para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert.
O Egito disse temer uma “guerra total” no Oriente Médio, alertando que a escalada entre Israel e o Hezbollah poderia minar os esforços para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, onde o Exército israelense continua sua ofensiva iniciada em 7 de outubro de 2023.
Em quase um ano, a violência entre Israel e o Hezbollah deixou centenas de mortos no Líbano, a maioria combatentes, e dezenas de feridos.
Neste domingo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, demonstrou preocupação com o aumento da tensão na região. Ele teme que o Líbano se torne “outra Faixa Gaza”.
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