Israel está usando fala de Lula para promoção, diz internacionalista
A internacionalista Aline Thomé explicou que a fala do presidente Lula não deve ter impactos relevantes na relação entre Brasil e Israel
atualizado
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Após a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao encerrar o giro pela África, comparando os ataques feitos por Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, massacre promovido por Hitler contra judeus no século XX, críticos apontaram preocupação com os possíveis impactos que um rompimento diplomático com Israel pode causar no Brasil.
Para a internacionalista e doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília Aline Thomé, a fala de Lula gera desgaste político, porém, não deve resultar em rompimento diplomático com Israel. Ela ressaltou que, “em médio e longo prazo, a tendência é que isso se dissipe ou não tenha grandes consequências ou, se chegar a ter, é mais porque houve algum interesse por parte de Israel ou do Brasil, muito mais provável que de Israel, de usar isso como algo que possa gerar um rompimento, mas eu não acredito que isso vá acontecer, não”.
Aline classificou como politicamente infeliz a fala do presidente Lula e explicou que “se trata de um tema delicado em um momento sensível. Comparações com o Holocausto são muito delicadas de serem feitas, porque se trata de uma situação totalmente condenável, triste, dolorosa, horrível, porque é um genocídio, e como todos os genocídios, horrível, condenável e doloroso”. Ela destacou que “a diferença é que, quando se trata do Holocausto e de algo direcionado ao povo judeu, que tem muito poder político, nos Estados Unidos e no mundo, isso acaba se tornando um tema que é visibilizado em termos de sensibilidade mesmo”.
A doutora explica que “existem problemas internos sérios de legitimidade do Netanyahu junto à população israelense. E ele está tanto usando desses ataques desproporcionais a Gaza para favorecer seu status político interno, quanto está usando essa fala do presidente Lula também com o mesmo objetivo, de tentar se promover e ganhar um pouco mais de legitimidade interna, junto com a população” e por estar em uma “posição delicada de credibilidade interna e junto ao povo judeu que vive em diáspora em várias partes do mundo. Ele, na verdade, se aproveita de situações como essa para se beneficiar politicamente”.
Em termos de impactos na imagem do Brasil para os demais países do mundo, Aline Thomé diz que não serão grandes, pois as reações dos outros líderes mundiais foram bem mais amenas do que o esperado pelo presidente. Ela lembrou que “o presidente brasileiro se reuniu com o secretário do Estados Unidos, grande aliado do Estado de Israel, e discutiu naturalmente suas relações políticas e suas relações econômicas. E mesmo que a fala de Lula tenha sido condenada pelos Estados Unidos, a reunião correu muito bem, o Brasil continuou mantendo ótima relação com os Estados Unidos, então não trouxe uma consequência direta pra isso”.
A internacionalista ressaltou que “Israel não é um grande parceiro comercial do Brasil, nem vice-versa, mas as relações existentes se mantêm estáveis também, então o impacto em termos de credibilidade, atualmente, não é tão grande assim. É um desconforto, é um desgaste que está acontecendo, mas provavelmente não vai trazer grandes consequências e, se trouxer, ele por si só não é capaz de gerar uma consequência tão grave assim”.
Aline afirmou que entende a polêmica como uma “discussão que está muito mais no âmbito popular e de redes sociais, sendo apropriado por vários que têm interesse em associar isso à polarização política que a gente tem aqui no Brasil”, pois, “economicamente, as coisas devem se manter da forma como estão hoje e não deve afetar tanto”.
“Agora, com relação ao que está acontecendo em Gaza, isso precisava ser solucionado o mais rápido possível. É muita gente morrendo, é muito civil, criança, mulher. Isso precisa ser resolvido o mais rápido possível. E seria interessante que essa fala do presidente Lula ou qualquer outra mobilização conseguisse encaminhar para uma solução”, concluiu Aline Thomé.