Irã: morte de presidente não deve impactar Oriente Médio, diz analista
Morte de Raisi não deve alterar os rumos da política externa do Irã, mas gera dúvidas sobre questões internas do país liderado por Khamenei
atualizado
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Uma nuvem de incertezas tomou conta do Irã após a morte do ex-presidente Ebrahim Raisi, em um acidente de helicóptero no domingo (19/5). Analistas apontam que a morte de Raisi não deve impactar o cenário político no Oriente Médio mas, principalmente, a política interna do país comandado a mãos de ferro pelo aiatolá Ali Khamenei.
Além do ex-presidente, a aeronave que caiu também transportava o chanceler Hossein Amirabdollahian; o governador da província iraniana do Azerbaijão Oriental, Malek Rahmati; e o líder religioso Hojjatoleslam Al Hashem.
Mohammad Mokhber, primeiro vice-presidente do Irã, foi declarado o presidente interino do país horas após a confirmação da morte de Raisi. Segundo a constituição iraniana, uma nova eleição deve acontecer em até 50 dias.
Mais um golpe
O acidente deste domingo é mais um episódio envolvendo mortes de figuras importantes na política iraniana. No começo de abril, um ataque atribuído a Israel matou dois generais iranianos no consulado do Irã em Damasco, além de outras cinco pessoas.
Entre as vítimas estava Seyed Razi Mousavi, conselheiro da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC), considerado um dos homens mais importantes do Irã na Síria. Mousavi seria o responsável por coordenar a cooperação militar entre Irã e Síria, além de atuar como uma espécie de “ponte” para o financiamento de grupos como o Hezbollah, no Líbano.
Analistas ouvidos pelo Metrópoles apontam que a política externa iraniana não deve sofrer grandes mudanças com a morte de Raisi – assim como em outros episódios envolvendo perdas de importantes figuras da política no Irã.
- “O primeiro efeito seria a permanência da estratégia política do Irã em relação ao Hezbollah, Hamas e a manutenção do jogo político do Oriente Médio em um primeiro momento, tendo em vista de que não se trata de uma política de governo, mas sim de uma política de Estado”, observa Paulo Cesar Rebello, analista político e doutorando em Ciência Política pela Universidade de Salamanca.
Impactos causados pela morte do presidente
Apesar do desgaste gerado pela morte inesperada de Ebrahim Raisi, a escolha de um novo presidente não deve impactar diretamente os rumos do Irã, já que no país persa a palavra final é da autoridade religiosa de Ali Khamenei.
Antes mesmo do anúncio da morte de Ebrahim Raisi, o líder supremo do Irã fez questão de tranquilizar a população e sinalizou que o futuro do governo não sofreria alterações, independente de qualquer cenário.
“A nação não precisa ficar preocupada ou ansiosa, pois a administração do país não será perturbada de forma alguma”, escreveu o aiatolá Ali Khamenei em uma publicação no X, antigo Twitter.
Contudo, a morte de Raisi pode influenciar a escolha do próximo líder supremo do país – quem realmente decide sobre questões internas e externas relacionadas ao Irã -, ocupado por Khamenei desde 1989.
“Precisamos lembrar que o Raisi era uma autoridade que poderia, em algum momento, substituir o aiatolá Khamenei em decorrência de toda a sua carreira jurídica”, afirma Rebello.
“Então, talvez o maior impacto seja realmente a manutenção da revolução e a contenção de uma crise interna em decorrência da disputa pelo poder que pode gerar mais problemas para o Irã”, explica o analista político.