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Documentos indicam que Irã participaria de ataque do Hamas a Israel

Telegramas do governo brasileiro indicam que Irã e Hezbollah planejavam participar do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023

atualizado

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Colagem mostra o aiatolá Ali Khamenei ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu - Metrópoles
1 de 1 Colagem mostra o aiatolá Ali Khamenei ao lado do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

Mais de seis meses após o ataque do Hamas em Israel, que estarreceu a comunidade internacional e desencadeou uma guerra na Faixa de Gaza, com mais de 34 mil palestinos mortos, documentos revelam um possível plano que envolvia Irã e Hezbollah no ato terrorista em território israelense.

As informações são de uma coletânea de telegramas, que somam mais de 350 páginas, da embaixada brasileira em Tel Aviv e do escritório de representação do Brasil em Ramala, na Cisjordânia. Os documentos foram obtidos e divulgados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e analisados pelo Metrópoles.

Em uma mensagem transmitida no dia 22 de outubro de 2023 para representações brasileiras do Oriente Médio, o embaixador do Brasil no Estado da Palestina, Alessandro Candeas, detalha um encontro com o ex-primeiro-ministro da Autoridade Palestina (AP), Mohammad Shtayyeh, em que as informações foram reveladas.

Segundo o diplomata, Shtayyeh afirmou – sem apresentar provas concretas – que integrantes do Hamas se reuniram em 23 de setembro de 2023 com membros do Hezbollah e representantes do Irã em Beirute, capital do Líbano.

Na ocasião, “teria sido acordada a unidade das frentes de batalha sul do Líbano, da Cisjordânia e de Gaza” para um ataque contra Israel. O político palestino, no entanto, não detalhou como seria a participação do governo iraniano, conhecido por operar no Oriente Médio mediante apoio a grupos como a Jihad Islâmica, Frente Popular para Libertação da Palestina, Houthis, Hezbollah e milícias espalhadas pelo Iraque e pela Síria. 

As alegações do ex-primeiro-ministro da Autoridade Palestina (AP), que renunciou o cargo em fevereiro deste ano, vão de encontro com diversas acusações do governo de Benjamin Netanyahu, o qual afirma que o Irã e grupos paramilitares como o Hezbollah estariam por trás da incursão terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023. 

Contudo, apesar de defender a ação do Hamas, Teerã negou desde o início qualquer envolvimento com o episódio. Três dias após o ataque, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, chamou de “falsas” as acusações. “Apoiadores do regime sionista [Israel] e outros têm espalhado rumores, nos últimos três dias, de que o Irã estaria por trás desta ação. Esses rumores são falso”, declarou.

Motivação

Além de uma possível participação direta do Irã e do Hezbollah, a troca de mensagens diplomáticas do escritório brasileiro na Cisjordânia ainda revela os três principais pontos que teriam motivado o ataque do Hamas contra Israel. 

Segundo o político palestino, a ação conjunta teria como objetivo principal sabotar as negociações de normalização de laços entre Israel e Arábia Saudita, que começaram a ganhar forma meses antes da investida do grupo palestino.

Costurada pelos Estados Unidos, a aproximação entre Riade e Tel Aviv desagradou alguns países do Oriente Médio que enxergaram o ato como uma traição com a causa palestina.

Além de jogar um balde de água fria nas negociações entre Riade e Tel Aviv, o ataque do Hamas seria uma forma de desgastar a legitimidade do governo do Fatah na Cisjordânia e criar caos em cidades da região.

Traição

Contudo, algo parece ter dado errado no plano de ataque conjunto contra Israel, que teria sido definido 15 dias antes no Líbano durante a reunião.

“Ainda segundo o primeiro-ministro, o Hamas teria sido ‘traído’, visto que o Irã não participou da ação contra Israel, nem o Hezbollah”, diz a mensagem retransmitida pelo embaixador brasileiro.

A insatisfação do Hamas ficou expressa dez dias após o início da guerra na Faixa de Gaza. Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o porta-voz Ghazi Hamad disse que o grupo estava “chateado” com a falta de apoio de países árabes no conflito que se iniciava. 

Hamas e Irã negam encontro

Embora as declarações de Mohammad Shtayyeh estejam expressas em um documento oficial da diplomacia brasileiro, Irã, Hamas e Hezbollah negam que a reunião em Beirute tenha acontecido.

Questionado pelo Metrópoles sobre o encontro e os assuntos discutidos, um funcionário da embaixada do Irã no Brasil, que preferiu não revelar sua identidade, disse não ter nenhuma informação sobre o assunto.

Já o Hamas, por meio de um porta-voz, questionou a reportagem quando perguntado sobre a existência do possível encontro entre lideranças do grupo com representantes iranianos e da milícia libanesa. “Qual a novidade sobre essas reuniões? Hamas, Hezbollah e Irã são mais próximos do que você imagina. Eles são aliados”, disse Muslim Imran. Contudo, após ser perguntado sobre o suposto plano de ataque conjunto contra Israel, o membro da ala política do grupo não respondeu mais aos contatos da reportagem.

Um outro porta-voz do grupo, Bassem Naeem, se limitou a dizer que não tinha conhecimento algum sobre o encontro.

Apesar de todos os envolvidos na reunião citada por Shtayyeh terem negado ou não respondido os questionamento sobre o encontro, um comunicado publicado no canal oficial do Hamas mostra que o grupo palestino se reuniu com organizações apoiadas pelo Irã em Beirute.

O Hamas, o Movimento da Jihad Islâmica e a Frente Popular para a Libertação da Palestina afirmaram, durante uma reunião de liderança em Beirute com a presença do Vice-Chefe do Bureau Político do Movimento Hamas, Xeque Saleh Al-Arouri, o Secretário-Geral do Movimento da Jihad Islâmica na Palestina, Comandante Ziad Al-Nakhalah, e o Vice-Secretário-Geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina, Comandante Jamil Mezher, ser necessário escalar a resistência abrangente, especialmente a resistência armada, contra a ocupação sionista, e fortalecer todas as formas de coordenação em todas as questões“, diz o comunicado, publicado um dia após a data da reunião citada pelo ex-primeiro-ministro da Autoridade Palestina (AP).

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