Possível ataque do Irã a Israel pode ser mais letal do que anterior
Após a morte do líder político do Hamas em Teerã, Irã prometeu atacar Israel em uma ofensiva que pode ser mais dura do que em abril
atualizado
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O Oriente Médio vive a expectativa de um novo ataque do Irã contra Israel, em retaliação ao assassinato de uma das principais lideranças do Hamas em Teerã, na última quarta-feira (31/7). Contudo, o contexto da morte de Ismail Haniyeh pode tornar a investida mais letal e preocupante do que em abril, quando os dois países trocaram agressões.
Na época, o regime liderado pelo aiatolá Ali Khamenei realizou ataque inédito contra Israel, com mais de 300 mísseis e drones. A investida, no entanto, foi vista como uma espécie de ação encenada.
A investida aconteceu em retaliação à morte de um importante general da Guarda Revolucionária do Irã (IRGC), após um ataque atribuído a Israel em um consulado iraniano na Síria.
Apesar de responder ao bombardeio contra a representação diplomática, Teerã avisou países vizinhos sobre o ataque três dias antes da operação, dando margem de tempo para uma preparação pelo lado israelense. A maioria dos mísseis e drones acabaram abatidos pelo sistema de defesa aéreo de Israel, que não registrou nenhuma vítima ou dano a grandes estruturas do país.
O governo de Benjamin Netanyahu respondeu dias depois, com um ataque retaliatório em grande escala, que também não deixou vítimas.
Ataque pode ser diferente
Ainda que as ameaças iranianas contra Israel se assemelhem as que antecederam o ataque de abril, o contexto por trás da ameaça de uma resposta do regime do aiatolá Ali Khamenei traz elementos novos para a tensão histórica entre os dois países.
Mesmo que um ataque a uma representação diplomática, como ao consulado do Irã na Síria no começo do ano, represente uma grave violação à soberania de um país, uma ação direta no território iraniano eleva o nível de tensão.
Segundo fonte militares do The New York Times, o líder político do Hamas pode ter sido morto com uma bomba colocada semanas antes em uma residência administrada pela Guarda Revolucionária do Irã (IRGC), criadas após a revolução de 1979 para proteger o sistema político do país.
Além de o ataque contra a capital Teerã configurar uma violação a soberania iraniana segundo as convenções diplomáticas, a possível bomba escondida abre margem para um possível caso de espionagem no Irã.
Segundo analistas ouvidos pelo Metrópoles, todo contexto por trás de uma provável resposta do Irã contra Israel cercam o ambiente regional de incertezas.
“Me parece impossível que o regime iraniano deixe os assassinatos recentes passarem em branco. Uma resposta deve vir, tanto para afirmar sua posição regional quanto para afirmar sua autoridade dentro do chamado “Eixo da Resistência”. Além disso, setores mais radicais, tanto dentro do regime iraniano quanto no eixo como um todo, vão exigir tal resposta”, explica o doutro em Relações Internacionais pela USP e editor da newsletter Tarkiz, sobre a política do Oriente Médio, José Antonio Lima.
Mesmo que o Irã busque uma resposta equilibrada, ao ponto de mostrar poder, mas evitando a explosão de uma guerra direta com Israel. Tal cenário poderia colocar os Estados Unidos, o grande defensor dos interesses israelenses, no conflito.
“Saberíamos como a guerra começou, mas não como ela terminaria. E ela poderia terminar com uma derrota estratégica para o Irã, por exemplo, com uma intervenção dos EUA”, afirma Lima.
“O problema é que há uma diferença grande entre não querer uma guerra ampla e conseguir organizar uma retaliação que não gere justamente essa guerra regional. Em abril, foi possível, mas não necessariamente este vai ser o caso agora. E é isso que torna todo este cenário tão delicado. Ataques podem acertar alvos errados, mais problemáticos do que imaginado antecipadamente, ou gerar muitas vítimas, o que abriria as portas para essa guerra regional”, diz o doutor em Relações Internacionais da USP.