Irã tem mais de 320 mortes em protestos violentos, diz ONG
Manifestações no Irã começaram em setembro devido à morte da jovem Mahsa Amini sob custódia policial. ONG pede mais envolvimento do mundo
atualizado
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A repressão governamental aos protestos que ocorrem no Irã desde setembro já provocou pelo menos 326 mortes, aponta um relatório divulgado neste sábado (12/11) pela organização não-governamental (ONG) de direitos humanos Iran Human Rights (IHR), que tem sede em Oslo, na Noruega.
Deste total, segundo o documento, 43 crianças e 25 mulheres “foram mortas pelas forças de segurança em protestos por todo o país”.
A organização ressaltou que esses números configuram um balanço preliminar, já que a entidade segue com as verificações em relação a outras mortes.
Em uma investigação anterior, a ONG, que conta com uma rede de informantes no Irã, havia relatado 304 vítimas.
Somente na província de Sistão-Baluchistão, na fronteira com o Paquistão, 123 pessoas morreram. Deste montante, mais de 90 manifestantes foram vítimas de um atentado no dia 30 de setembro, durante um protesto em Zahedan, contra abusos que teriam sido cometidos por policiais a uma adolescente de 15 anos na cidade portuária de Chabahar.
Devido aos mais recentes números, o diretor do IHR, Mahmood Amiry-Moghaddam, apelou à comunidade internacional para mais ações que possam frear a repressão no país.
“O estabelecimento de um mecanismo internacional de investigação pela ONU facilitará o processo de responsabilização dos perpetradores no futuro e aumentará o custo da repressão contínua”, disse Amiry-Moghaddam à agência de notícias AFP.
O regime no Irã
Enquanto a comunidade internacional critica o Irã pela repressão aos protestos, o regime de Teerã afirma que as manifestações são fomentadas pelo Ocidente.
Mas movimentos organizados também ocorrem dentro do país: há duas semanas, um grupo de 40 juristas iranianos – parte vive no Irã, outra parte no exterior – criticou publicamente os governantes religiosos do país. Quem vive no país corre o risco de ser preso.
De costas, jovens aglomerados protestam nas ruas do Irã. As mulheres estão todas de cabelos soltos. Elas não usam o véu islâmico, que é obrigatório no país.
Neste sábado, em sua mensagem dirigida semanalmente aos alemães, o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, pediu sanções ainda mais fortes do que as já impostas pela União Europeia (UE) ao Irã.
“Vemos nas ruas, nas salas de aula e nos tribunais de Teerã e de outras cidades iranianas, a luta por liberdade e justiça”, afirmou Scholz, que pediu o fim imediato da violência e a libertação dos presos políticos.
O chanceler diz-se chocado com a repressão aos protestos e culpou exclusivamente o governo iraniano pelos atos: “Que tipo de governo é esse que atira em seus próprios cidadãos? Quem age dessa maneira deve esperar nossa oposição. Defendemos tudo o que vocês [manifestantes] reivindicam: direitos humanos e direitos das mulheres. Estamos ao lado do povo iraniano”, disse Scholz.
Na segunda-feira, a Alemanha e outros membros da UE devem propor sanções a pelo menos 31 funcionários e instituições responsáveis pela segurança no Irã.
Em outubro, a UE impôs sanções contra quase uma centena de indivíduos e organizações iranianas, responsabilizando-os por violações dos direitos humanos no país.
Protestos começaram em setembro
Os protestos em diversas cidades da República Islâmica foram desencadeados pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro. Ela morreu sob custódia policial ao violar o rigoroso código de vestuário do país – por ter “usado de forma inapropriada” o véu islâmico.
As manifestações vêm abalando o sistema político iraniano, que é uma complexa combinação de autoridade clerical xiita e presidente e parlamento eleitos.
O presidente cuida das questões governamentais do dia a dia, mas se orienta pelo profundamente antiocidental aiatolá Ali Khamenei.
Um órgão de vigilância composto por clérigos e juristas – alinhado ao líder supremo e inclinado a drásticas restrições políticas e sociais – tem o poder de vetar leis e decidir quem pode concorrer a cargos políticos.
As presentes manifestações em âmbito nacional – que anunciam um “ano de sangue” e incluem palavras de ordem exigindo a morte de Khamenei – representam um dos desafios mais sérios a Teerã desde a Revolução Islâmica de 1979.