Ideias protecionistas de Trump ameaçam criação de empregos? Entenda
Economistas explicam se ideias de Trump na economia, como impor tarifas a países como China, podem travar criação de emprego nos EUA
atualizado
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Reeleito nos Estados Unidos, Donald Trump, baseou seu primeiro mandato (2017-2021) e sua campanha presidencial de 2024 no slogan “Make American Great Again” (faça a América incrível novamente, em tradução livre). O republicano refere-se sempre a propostas de geração de emprego e a um protecionismo econômico. Para entender melhor a viabilidade de tais propostas, o Metrópoles conversou com especialistas.
O professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB) César Bergo diz que é um traço de Trump fazer da geração de empregos o “carro-chefe” de suas campanhas. O especialista lembra que, durante o primeiro mandato, houve cortes impostos e tarifas comerciais que, inicialmente, impulsionaram o mercado de trabalho. Depois, com a pandemia, esses efeitos foram revertidos.
Agora reeleito, Trump vai propor “medidas semelhantes, como aumentos de tarifas e estímulo a produção nacional”, diz Bergo. Esse tipo de política protege setores e incentiva investimentos, mas, para o professor, “acaba tendo um certo risco, como aumento de preços, tensões comerciais com outros países e gerando déficit fiscal, porque vai aumentar a despesa”.
O economista Ian Lopes, por sua vez, destaca que o protecionismo de Trump se resume a tirar a produção de bens de países com mão-de-obra mais barata e trazer isso de volta aos Estados Unidos, fazendo uma repatriação das empresas que foram transferidas para o exterior”. À primeira vista, essas ações podem gerar “novos empregos no país”.
Propostas de Trump
As propostas econômicas de Donald Trump, segundo César Bergo, são baseadas na redução de tributos, política comercial protecionista, investimento em infraestrutura e reindustrialização dos Estados Unidos.
O professor explica que “a redução de impostos que ele propõe são cortes de impostos para empresas e trabalhadores, para que o consumo aumente e investimentos empresariais sejam estimulados”. Com isso, Trump espera gerar mais empregos. “No entanto, temos que lembrar que isso acaba reduzindo as receitas, o que pode gerar um déficit público.”
A política comercial protecionista, diz o professor, é outro pilar fundamental do republicano. O presidente já anunciou que vai aumentar tarifas de importação para proteger a indústria nacional “da concorrência estéril, sobretudo de países como Canadá, México e China e, também, do leste asiático”.
O professor destaca outro ponto das políticas de Trump, o investimento em infraestrutura. “Nesse caso, o projeto será de grande escala, como modernização de estradas, pontes, sistemas de energia, bem amplo”, diz. Tudo isso, sim, pode aumentar gastos, mas também “gerar empregos diretos, tanto na construção civil, como nos setores correlatos”.
O quarto pilar das propostas do presidente reeleito é a reindustrialização dos Estados Unidos, com estímulos fiscais e subsídios para empresas que transferirem suas fábricas para os Estados Unidos ou ampliarem suas operações domésticas. “Nesse caso, buscando inclusive substituição de importações, porque os Estados Unidos fez uma política no passado em que a produção muitas vezes acontecia nos países asiáticos, principalmente na China”, diz o especialista.
A meta de Trump é reduzir a “dependência americana” de material vindo de outros países.
Protecionismo econômico nos EUA
Donald Trump apresenta um discurso protecionista diante do mercado dos EUA, anunciando, inclusive, planos para impor uma tarifa de 25% sobre todos os bens que vêm do México ou Canadá e 10% da China em seu primeiro dia no cargo.
O economista Ian Lopes diz que essas medidas podem “trazer um estímulo positivo na produção doméstica, aumento de arrecadação fiscal e redução da dependência de importações”. Porém, tem um lado negativo.
“Países como México, China e Canadá podem implementem tarifas de retaliação em cima de produtos americanos que eles importam. Além disso, vale ressaltar que produtos importados mais caros geram preços mais altos para os consumidores, gerando inflação de curto prazo, podendo deixar a taxa de juros americana mais alta por mais tempo.”
Indústria automobilística
O professor da UnB César Bergo destaca que, em “relação ao setor automobilístico, Trump é um crítico à produção de carros fora dos Estados Unidos”. O republicano terá, portanto, que “investir bastante”.
“Tecnologicamente, as indústrias americanas têm uma defasagem em relação às indústrias chinesas, na produção de carro elétrico. Vai exigir grandes investimentos para a modernização das fábricas e com isso esses incentivos fiscais podem causar algum dano na condição da política fiscal americana”, conclui o professor.
O bilionário sul-africano Elon Musk foi um forte apoiador da campanha de Trump e, por isso, acabou indicado para coordenar o Departamento de Eficiência Governamental. O empresário é proprietário da marca de carros elétricos Tesla. Bergo explica que “Musk realmente acaba sendo um dos beneficiados, pois vai ser ocupar um posto importante no governo americano, sobretudo ligado à desburocratização. Sabemos que ele é um empresário de sucesso e, obviamente, vai procurar tirar vantagem dessa nova reeleição do Trump”.
Sobre a participação de Musk, Ian Lopes, explica que ele “também tem um papel fundamental, já que cuidará do departamento de gastos eficientes do governo, podendo trazer mais linhas de desenvolvimento para a área de veículos elétricos , desenvolvimento e tecnologia”.
“O que pretende Trump é fortalecer a indústria americana, fortalecer o dólar, e isso acaba tendo algum tipo de problema com relação a outros países, sobretudo com relação a China e a comunidade europeia”, concluiu o professor César Bergo.