Compartilhar notícia
Em um relatório publicado nesta quinta-feira (14/11), a ONG Human Rights Watch estima que as repetidas ordens de evacuação feitas pelo exército israelense na Faixa de Gaza, levando ao deslocamento forçado da população, equivalem a um “crime de guerra”. De acordo com a ONG, “as ações de Israel também parecem se enquadrar na definição de limpeza étnica” nas áreas em que o exército ordenou que os palestinos saíssem sem poder retornar.
O relatório se baseia em entrevistas com habitantes de Gaza, imagens de satélite e dados públicos recolhidos até agosto de 2024. “A Human Rights Watch reuniu provas de que as autoridades israelenses […] vêm cometendo o crime de guerra de transferência forçada” de civis, afirma o documento.
Em sua defesa, Israel alega que tem convocado os habitantes de Gaza a saírem de suas casas por motivos militares e que, dessa forma, estaria ajudando a proteger os civis.
“Israel deveria demonstrar em cada caso que o deslocamento de civis é a única opção possível” para cumprir o direito humanitário internacional, observa Nadia Hardman, pesquisadora da HRW. “Israel não pode simplesmente confiar na presença de grupos armados para justificar a deslocação de civis”, continua ela.
O porta-voz da HRW para o Oriente Médio, Ahmed Benchemsi, acrescenta que “tornar sistematicamente grandes áreas de Gaza inabitáveis” constitui um forma de “limpeza étnica”.
Em outubro, a ONU estimou em 1,9 milhões o número de habitantes de Gaza deslocados pela guerra. A população total no início do conflito era estimada em 2,4 milhões de pessoas.
Esvaziamento do território palestino
Ainda de acordo com a HRW, as autoridades israelenses trabalham para garantir que algumas áreas afetadas “sejam esvaziadas permanentemente”.
O relatório de 170 páginas da ONG se concentra em duas áreas que os israelenses batizaram de corredores Neztarim e Filadélfia. A HRW relata que eles foram “arrasados, ampliados e limpos” pelo exército para criar zonas-tampão por razões de segurança.
A primeira zona corta a Faixa de Gaza de leste a oeste e se estende, atualmente, entre a Cidade de Gaza e Wadi Gaza por mais de 4 km de largura, conforme o relatório. Quase todas as construções foram demolidas, afirmou Hardman durante a apresentação do relatório à imprensa.
A segunda zona se estende ao longo da fronteira entre Gaza e o Egito, local que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, insistiu que o exército deveria continuar controlando.
Na opinião da ONG de direitos humanos, o que as autoridades israelenses estão fazendo em Gaza pode ser interpretado como “um grupo étnico ou religioso expulsar os palestinos, outro grupo étnico ou religioso, de áreas dentro de Gaza por meios violentos”.
Limpeza étnica
O relatório não leva conta a ofensiva israelense em curso no norte da Faixa de Gaza, há mais de um mês, e que forçou pelo menos 100 mil pessoas a abandonarem as localidades mais a norte para a Cidade de Gaza e arredores, segundo Louise Wateridge, porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA).
Imam Hamad, um pai de família de 41 anos de Beit Hanoun – uma dessas localidades – diz que foi deslocado mais de dez vezes: “Antes eu pensava que eles queriam nos mudar, agora percebo que eles querem nos matar”, disse à AFP nessa quarta-feira.
As palavras “limpeza étnica” cada vez mais são usadas para se referir à situação na Faixa de Gaza, cenário de uma ofensiva israelense, já havia afirmado, na segunda-feira (11/11), o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. As tropas israelenses realizam ataques aéreos e terrestres na região com o objetivo – afirmam – de impedir que o Hamas se reagrupe.
Leia mais reportagens como essa no RFI, parceiro do Metrópoles.