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Histórias de guerra seguem entre Israel e palestinos após cessar-fogo

Brasileiro Michel Worek lembra de histórias de confrontos atuais e de outros anos. Órgão palestino reclama da violência israelense

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HATEM MOUSSA/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Israel bombardeia prédio em Gaza
1 de 1 Israel bombardeia prédio em Gaza - Foto: HATEM MOUSSA/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Jerusalém – A trégua entre o governo de Israel e grupos armados palestinos atuando em Gaza trouxe alívio para o brasileiro Michel Worek. Ele mora há nove anos em Ashkelon, cidade que fica a apenas 20 minutos de carro da Faixa de Gaza. Durante 11 dias, o medo fez parte da sua rotina.

“Quando tocava a sirene que alerta sobre mísseis lançados, a gente tinha que correr para se proteger. No andar em que eu moro, tem sala antibomba, mas como eu tenho animais de estimação, eu me protegia com eles no meu banheiro”, conta Worek.

Segundo ele, todos estão preparados para os conflitos, mas nunca é confortável. “Quando você acorda de madrugada com o barulho da sirene, o coração dispara e você só pensa em procurar um abrigo seguro”, diz.

Assim foi o dia a dia de Michel Worek e milhões de pessoas em Israel e nos territórios palestinos. Após mais de 240 mortes, a maioria do lado da Faixa de Gaza, o “normal” volta aos poucos. Mas ainda com a memória dos foguetes que voaram de um lado para o outro.

Worek lembra como ficou a sua cidade durante o conflito. “Tivemos que cumprir um toque de recolher. Só podíamos ir para a rua se fosse realmente necessário. Para se ter uma ideia, só aqui em Ashkelon, mais de mil mísseis foram disparados, e 60 caíram na cidade. Vários carros e edifícios foram destruídos”, afirma.

“Alguns deles (mísseis) atingiram casas onde pessoas não conseguiram se proteger a tempo. Um caiu em um prédio atrás do meu. Na hora, eu pensei que todos os vidros do meu edifício fossem cair, de tão forte o impacto. Como o míssil do Hamas é composto por bolinhas de ferro, parafuso, porcas e pregos, essas partes vão para todos os lados quando explodem”, explica.

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Locais destruídos após ataques em Ashkelon
Cenas de destruição em Ashkelon
Ônibus alvo de ataque em Ashkelon
Ônibus destruído em Ashkelon
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Brasileiro Michel Worek quando servia ao exército israelense

Arquivo pessoal
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Locais destruídos após ataques em Ashkelon

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Cenas de destruição em Ashkelon

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Ônibus alvo de ataque em Ashkelon

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Ônibus destruído em Ashkelon

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História de horror

Como Michel mora há mais de 20 anos em Israel, ele também passou pela guerra de 2014 e pela Segunda Intifada, uma revolta de palestinos contra a ocupação israelense que durou cinco anos (2000-2005), combatendo como soldado .

“Eu vi uma mulher-bomba explodir na minha frente. Eu estava voltando do exército e indo a um shopping em Afula (norte de Israel) revelar fotos, quando eu recebi a informação de que dois terroristas estavam soltos naquela área”, relembra.

Worek diz ter seguido a orientação do comandante e saiu do ônibus em que estava com a arma engatilhada. “O ataque aconteceu na minha frente, poucos segundos depois. Uma vidraça do shopping explodiu e eu vi partes de corpos por todos os lados. Eu não consegui dormir por uma semana e meia”, revela.

Do lado palestino

Do outro lado do muro, o medo também está presente. De acordo com o Centro Al Mezan para os direitos humanos de Gaza, nos últimos 11 dias, as forças aéreas e de artilharia de Israel destruíram edifícios residenciais e outras propriedades civis em diferentes áreas densamente povoadas da Faixa, o que acabou resultando no deslocamento de centenas de famílias palestinas.

A organização afirma que a intensidade e a frequência desses ataques, com uso de munições pesadas, criaram uma atmosfera de terror, o que equivale a uma guerra psicológica que sujeita cada vez mais as famílias palestinas a sofrimentos e danos.

O monitoramento de campo do Al Mezan apontou que 231 palestinos foram mortos neste conflito, incluindo 65 crianças e 39 mulheres, enquanto outros 1.212 sofreram ferimentos.

Já as Forças de Defesa de Israel afirmam que pelo menos 200 mortos eram terroristas, incluindo 25 funcionários do alto escalão e que algumas das mortes de civis em Gaza foram ocasionadas pelos próprios foguetes dos grupos terroristas que teriam falhado.

Do lado de Israel, 12 pessoas, incluindo um menino de 5 anos e uma menina de 16, foram mortas por foguetes. Centenas ficaram feridas. O Hamas e outros grupos terroristas de Gaza começaram os ataques no dia 6 de maio, e no total, mais de 4 mil foguetes e outros projéteis foram disparados contra Israel.

Veja cenas de mísseis e destruição, tanto em Israel quando em Gaza:

Sem comparação

Para o professor do Departamento de Comunicações da Universidade de Tel Aviv Jerome Bourdon, é complicado comparar os dados brutos nesses conflitos, pois a diferença sempre será grande. Segundo ele, o número de pessoas que morrem, ficam feridas e traumatizadas psicologicamente é enorme do lado palestino, e ele aumenta mesmo quando não ocorrem conflitos com Israel, uma vez que as forças do exército israelense acabam matando palestinos quando há confrontos na Cisjordânia.

“Além disso, a população de Gaza vive de forma miserável, sem acesso regular a medicamentos, entre outros itens essenciais, o que já a deixa em desvantagem”, diz.

Bourdon também explica que, apesar de o exército de Israel ser mais forte, o Hamas consegue se esconder entre os civis na Faixa de Gaza, que é uma das áreas mais densamente povoadas do planeta. Ele diz que a estratégia acaba atrapalhando o trabalho e a imagem das forças israelenses mundo afora.

“Você pode culpar o Hamas pelas mortes de civis, mas é aí que Israel cai numa armadilha, porque este é um conflito assimétrico, em que você envia um exército para confrontar uma população civil que apenas rejeita uma ocupação e usa métodos de luta de guerrilha para compensar o desequilíbrio. Por esse motivo os palestinos estão fadados a sofrer mais e morrer mais nessas condições ”, conclui o especialista.

Trégua

Um cessar-fogo provisório entre Israel e grupos terroristas na Faixa de Gaza entrou em vigor às 2h da manhã de sexta-feira (horário de Israel), após 11 dias de combates.

Os confrontos começaram durante o Ramadã, quando palestinos começaram a provocar e agredir judeus em transportes públicos, filmar e postar os vídeos em redes sociais. Alguns grupos de judeus decidiram revidar no Monte do Templo, terceiro lugar mais sagrado do Islã no mundo, e a polícia precisou intervir, o que acabou acirrando ainda mais os ânimos.

O despejo pendente de várias famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém, também foi pano de fundo para o conflito.

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