Guerra em Gaza completa 1 ano e já não envolve somente Israel e Hamas
Conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza coloca o Oriente Médio à beira do caos e envolve outros grupos e países da região, como o Irã
atualizado
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O relógio marcava por volta das 6h30 da manhã (1h30 no horário de Brasília), quando o Hamas iniciou um ataque contra o território de Israel há exatamente um ano. A incursão terrorista foi o estopim para a guerra na Faixa de Gaza, que agora já envolve outros países e grupos armados da região.
Naquele 7 de outubro de 2023, mais de 1.200 pessoas foram mortas por membros do grupo palestino, que ainda sequestrou 253 pessoas e os fez reféns na Faixa de Gaza.
A resposta do governo de Benjamin Netanyahu foi rápida. Horas após o ataque, forças israelenses lançaram bombardeios contra o enclave palestino controlado pelo Hamas, e dias depois realizaram uma invasão terrestre na região em busca de terroristas.
Veja:
Rastro de sangue
Apesar da disparidade entre as forças militares, os meses se passaram sem que o governo de Israel conseguisse concluir sua principal missão: o resgate dos reféns mantido na Faixa de Gaza. É estimado que cerca de 60 deles ainda estejam cativos no enclave.
Os números da guerra, no entanto, aumentavam na medida em que tropas israelenses avançavam sobre o território palestino.
Até o momento, mais de 41 mil palestinos foram mortos no conflito, e cerca de 96 mil ficaram feridos. Deste número, 11.355 são crianças, 6.297 mulheres e quase 3 mil idosos.
A divulgação dos números é feita pelo Ministério da Saúde de Gaza, controlada pelo grupo palestino, e não pode ser comprovada de forma independente.
O avanço israelense também provocou uma onda de fome no país, com cerca de 95% da população da Faixa de Gaza enfrentando segurança alimentar aguda, segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA).
A ONU ainda estima que cerca de 1,9 milhões de palestinos foram deslocados na Faixa de Gaza, tanto externamente quanto dentro do território que possui cerca de 360 km².
Paz que nunca chega
Em meio à troca de tiros e bombardeios entre soldados israelenses e membros do grupo palestinos, o campo diplomático passou a trabalhar na busca por uma solução pacífica para o conflito.
Uma das principais iniciativas de paz foi apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em maio deste ano. Os norte-americanos chegaram a levar a proposta ao Conselho de Segurança da ONU, que conseguiu aprovar a resolução em 10 de junho, após meses de divergência nas discussões de paz sobre o conflito.
A última rodada de negociações, realizada em agosto no Catar, fracassaram mais uma vez e a proposta não foi implementada. Ambos os lados envolvidos na guerra se acusam de mudar os termos iniciais da ideia de Biden.
Palestina reconhecida e golpe em relações
Com o passar dos meses, o alto número de mortos na Faixa de Gaza trouxe problemas diplomáticos e críticas para Israel.
Alguns países, como Colômbia, Belize e Bolívia, chegaram a romper laços diplomáticos com o país judeu em resposta à violência no enclave palestino.
Outros, como Jordânia, Bahrein, Turquia, Chile e Honduras, chamaram seus embaixadores em Israel de volta para seus respectivos países, em um gesto diplomático.
Além disso, o Tribunal Penal Internacional (TPI) também voltou os olhos para o conflito. Em maio deste ano, o procurador-chefe da Corte, Karim Kahn, pediu a emissão de mandados de prisão contra Netanyahu e o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant. Lideranças do Hamas também faziam parte da solicitação.
Em meio à pressão internacional, a Palestina passou a ser reconhecida por países como Irlanda, Noruega, Espanha, Eslovênia e Armênia, em um gesto de apoio aos palestinos.
Novas frentes de batalha
O prolongamento do conflito em Gaza fez com que países e grupos armados da região entrassem, de forma gradativa, na guerra.
O Hezbollah foi um dos primeiros grupos rebeldes da região a iniciar ataques contra posições israelenses na fronteira com o Líbano, em apoio ao Hamas. Segundo o governo de Israel, cerca de 60 mil pessoas foram obrigadas a deixar a região norte de Israel por conta dos bombardeios do grupo.
Isso fez com que Israel intensificasse as ações contra o território do Líbano, onde o grupo xiita opera. Além de diversos bombardeios, forças israelenses já mataram importantes lideranças do Hezbollah em ataques no país, incluindo o ex-secretário-geral Seyyed Hassan Nasrallah. Uma invasão por terra, de forma limitada, também foi iniciada.
Outras milícias da Síria e do Iraque também empreenderam agressões contra Israel, mesmo que em menor escala. Enquanto isso, os Houthis do Iêmen passaram a atacar embarcações de aliados israelenses no Mar Vermelho.
Irã x Israel
A guerra de Israel ao terror na região também arrastou uma grande potência regional para o caos no Oriente Médio, o Irã, acusado de estar por trás do financiamento de grupos rebeldes que lutam contra os israelenses na região. Nos primeiros meses, as agressões entre os dois países se limitou a ameaças verbais.
No entanto, o assassinato do ex-general Seyed Razi Mousavi, da Guarda Revolucionária do Irã (IRGC), mudou o jogo. O ataque aconteceu no último dia 25 de dezembro de 2023, em um bombardeio aéreo nas proximidades de Damasco, na Síria.
A morte fez com que o Irã realizasse um ataque inédito contra o território de Israel, em abril deste ano. A retaliação israelense aconteceu dias depois, sem causar grande impacto.
Contudo, o assassinato de chefes do Hamas e do Hezbollah fez com que o regime iraniano subisse o tom e lançasse novos mísseis contra Israel no início deste mês. A ação, apesar de não ter provocado vítimas fatais, chegou a atingir a capital Tel Aviv.
Desde então, o temor é de que uma resposta de Israel – que já foi anunciada – possa arrastar o Irã de vez para o caos no Oriente Médio, que em um ano viu o conflito na Faixa de Gaza se espalhar para países como Líbano, Iêmen, Iraque e Síria.