Guerra derruba exportação russa de gás natural em 40% e ameaça Europa
Uma saída para o problema ainda é incerta. Fornecimento de gás russo abaixo do normal desencadeou crise de preços crescentes da energia
atualizado
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Considerado a maior arma geopolítica do presidente russo, Vladimir Putin, o gás natural sofre impactos causados pela guerra na Ucrânia, pelas sanções econômicas e pela estratégia da Rússia para pressionar a Europa. Uma saída para o problema ainda é incerta.
A decisão de invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro, “reorganizou” o comércio internacional. Sobram efeitos em todo o mundo, sobretudo na Rússia e na Europa. Lá, a exportação de gás russo para o continente caiu 40%.
A exportação passou de um patamar superior a 20 bilhões de metros cúbicos nos seis primeiros meses de 2021, para pouco mais de 12 bilhões de metros cúbicos no mesmo período deste ano.
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A Rússia é o principal fornecedor do produto do continente europeu e responde por 41% da distribuição. Alemanha, Itália, França, Turquia, Holanda, Áustria, Polônia, Hungria e Reino Unido são os principais consumidores.
O fornecimento de gás russo abaixo do normal desencadeou uma crise de preços crescentes da energia. A maior parte do produto é distribuída para a União Europeia por meio de gasodutos que estão na zona de conflito.
A Rússia já ameaçou cortar o fornecimento, e a operação de um novo gasoduto foi barrada pela Alemanha. A União Europeia estuda como diminuir a dependência do produto russo.
O panorama pessimista no setor foi condensado pelo Metrópoles com base em dados publicados pelo Laboratório Bruegel, instituição de análises de políticas públicas; pela filial europeia da Universidade Johns Hopkins; pelo Programa de Economia e Energia do Instituto para o Oriente Médio; e pela Administração de Informações sobre Energia dos Estados Unidos.
A dependência do gás russo é histórica. Algumas relações ultrapassam cinco décadas, como a da Alemanha, que negocia o produto desde quando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) existia. Somente os alemães compram 16% do gás russo. O italianos aparecem em segundo lugar no ranking – 12%.
Riscos
Os efeitos não são somente econômicos. Os europeus podem literalmente congelar sem o gás russo. Com inverno rigoroso, essa é uma das principais fontes de energia para o aquecimento. Fugir disso significa um alto custo, que a Europa pode não ter como pagar.
Relatório divulgado recentemente pelo Laboratório Bruegel alerta: o risco de colapso é iminente, caso nenhuma solução de paz se concretize.
“Se a União Europeia for forçada ou estiver disposta a arcar com o custo, deve ser possível substituir o gás russo já para o próximo inverno sem que a atividade econômica seja devastada, as pessoas congelem ou o fornecimento de eletricidade seja interrompido”, frisa o documento técnico.
Se as importações russas pararem, a Europa precisará reduzir o consumo em até 15% ou apostar em outras fontes de energia, como o carvão – altamente prejudicial para o meio ambiente. Outra alternativa seria postergar a desativação de usinas nucleares, o que é bastante criticado na comunidade internacional.
O conflito
A mais recente reunião entre representantes dos presidentes Vladimir Putin, da Rússia, e Volodymyr Zelensky, da Ucrânia, terminou sem consenso, e os bombardeios no Leste Europeu continuarão. O que afasta ainda mais a construção de uma solução para o problema do gás.
Em comunicado oficial divulgado pelo Kremlin, sede do governo russo, Putin reafirmou seu posicionamento: não irá recuar. Para ele, a Ucrânia não “demonstra atitude séria” nas negociações por uma solução para o conflito que já dura 20 dias. Zelensky, pelo contrário, mostra-se otimista.
Este é o momento mais tenso da disputa entre Rússia e Ucrânia. A guerra teve início com a exigência do governo russo de que o Ocidente negue a adesão ucraniana à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Na prática, Moscou vê essa possível adesão como uma ameaça a sua segurança.