Grupo israelense vende serviços de hacker para manipular eleições
Investigação descobre empresa que invade Telegram, espalha mentiras e mobiliza exército nas redes. Grupo teria agido em 33 eleições
atualizado
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Um consórcio de jornalistas formado por 30 veículos de vários países descobriu um grupo de Israel que presta serviços secretos para interferir em eleições presidenciais pelo mundo, além de disputas comerciais.
Segundo reportagem do The Guardian, um dos veículos do consórcio, o grupo é conhecido como “Team Jorge” e é coordenado pelo empresário Tal Hanan, um ex-agente das forças especiais israelenses.
Três jornalistas fingiram ser potenciais clientes do esquema e gravaram reuniões com Tal Hanan e outros integrantes do grupo. Os jornalistas fingiram ser consultores de um país africano politicamente instável que queria ajuda para adiar uma eleição.
Em resumo, Tal Hanan disse nas reuniões que “administra uma oferta de serviço privado para se intrometer secretamente nas eleições sem deixar vestígios”. O grupo afirma ter trabalhado em 33 eleições presidenciais pelo mundo, sendo que 27 teriam sido vencedoras.
Invasão de contas
Durante as reuniões, que aconteceram presencialmente em Israel, e por vídeo chamada, Tal Hanan mostrou como funcionava o trabalho do grupo para interferir em eleições de forma secreta.
Ele mostrou, por exemplo, que conseguiu invadir o Telegram de pessoas ligadas a lideranças políticas de países africanos. A invasão permitia inclusive que se mandasse mensagens, como se fosse a pessoa que teve a conta invadida.
Os repórteres conseguiram verificar que pelo menos uma dessas invasões demonstradas por Tal Hanan era verdadeira.
Além disso, o grupo israelense também criaria maneiras de implantar o caos em uma campanha política. Mandando mensagens comprometedoras e apagando em seguida, por exemplo. Em um dos casos, o grupo teria enviado um brinquedo erótico pela Amazon para criar desconfiança entre um político e sua esposa.
Robôs
Durante as reuniões, Tal Hanan também mostrou como funcionava a criação de milhares de perfis falsos em várias redes sociais, como Twitter, Linkedin, Facebook, Telegram, Gmail, Instagram e Youtube. Esses perfis seriam usados para espalhar desinformação nas redes.
Os perfis falsos possuíam histórico de anos, dando a aparência de serem legítimos. Os repórteres mapearam alguns desses perfis falsos e descobriram que eles estavam envolvidos em disputas comerciais de cerca de 20 países. O Facebook apagou parte dessas contas após a reportagem informar.
O consórcio de jornalistas não conseguiu precisar os valores cobrados pelos serviços. Nas reuniões, o empresário dizia cobrar entre 6 milhões e 15 milhões de euros. No entanto, e-mails vazados demonstraram que, em 2015, ele já fez orçamento de 160 mil dólares, e, em 2015, ofereceu orçamento de 400 mil a 600 mil dólares por mês.