Gaza: guerra chega a 318 dias e crise humanitária se agrava
A guerra na Faixa de Gaza já deixou mais de 40 mil mortos. Os Estados Unidos tenta negociar um cessar-fogo entre Israel e Hamas
atualizado
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Há 318 dias a Faixa de Gaza é palco do conflito entre Israel e Hamas, que segue impactando a vida de milhares de palestinos.
A guerra teve início em 7 de outubro do ano passado após um ataque do Hamas ao sul de Israel, resultando na morte de 1.200 pessoas e na captura de mais de 250 reféns, conforme relatado pelas autoridades israelenses.
Em resposta, Israel lançou uma campanha militar que, até o momento, resultou na morte de mais de 40 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
O impacto sobre a população é cada vez mais severo, com danos significativos à infraestrutura, incluindo hospitais, escolas e serviços essenciais. Quase toda a população local foi deslocada devido ao conflito.
Segundo o último levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado na quarta-feira (14/8), 110 instalações de saúde em Gaza, incluindo 32 hospitais, estão fora de serviço e 493 profissionais de saúde foram mortos na guerra.
Em relação à educação, 625 mil estudantes estão fora da escola. Cerca de 85% (477 de 564) dos edifícios escolares foram totalmente ou parcialmente destruídos. Ao todo, 9.565 estudantes e 402 professores morreram.
Quase toda a população da Faixa de Gaza, cerca de 96% dos moradores, enfrenta uma severa escassez de alimentos. Mais de 495.000 pessoas, entre elas crianças, estão passando fome por conta da extrema carência de alimentos.
Número recorde de trabalhadores humanitários mortos em Gaza
Em 2023, a ONU registrou um número recorde de mortes de trabalhadores humanitários. No total, 280 profissionais perderam a vida em conflitos ao redor do mundo.
Mais da metade dessas mortes ocorreu em Gaza, nos primeiros três meses da guerra, principalmente devido a bombardeios aéreos. As informações foram divulgadas nessa segunda-feira (19/8).
“A normalização da violência contra os trabalhadores humanitários e o fato de que ninguém pague por isso é inaceitável, inadmissível e extremamente perigoso para as operações humanitárias em todo o mundo”, disse, em um comunicado, a chefe interina do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Joyce Msuya.
Surto de poliomielite em Gaza
Além da violência, a saúde pública em Gaza enfrenta novos desafios. Na última sexta-feira (16/8), o primeiro caso de poliomielite em 25 anos foi identificado na cidade de Deir al-Balah. Trata-se de um bebê de 10 meses que não foi vacinado.
A doença foi detectada em redes de esgoto nas províncias de Deir al-Balah e Khan Younis, em Gaza, segundo um comunicado emitido por Hamid Jafari, da Organização Mundial da Saúde (OMS), especialista em poliomielite.
A poliomielite é uma doença viral altamente contagiosa que pode infectar o sistema nervoso, levando à paralisia, principalmente em crianças. Em casos graves, pode causar paralisia irreversível, insuficiência respiratória e até a morte.
A vacinação é a principal forma de prevenção. Devido à interrupção das campanhas de vacinação causadas pelo conflito, crianças de Gaza não estão sendo vacinadas contra a doença.
No último domingo (18/8), Israel anunciou que facilitaria a transferência de vacinas para Gaza, com a expectativa de vacinar cerca de um milhão de crianças.
No entanto, profissionais da saúde locais defendem que uma campanha de vacinação não poderia ocorrer sem que houvesse uma pausa nos combates.
Acordo de cessar-fogo
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, manifestou apoio à proposta de cessar-fogo apresentada pelos Estados Unidos, conforme relatado pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, nesta segunda-feira (19/8).
Em uma reunião de três horas realizada em Tel Aviv, Blinken afirmou que Netanyahu havia confirmado o apoio de Israel ao plano, descrito como uma “ponte” para uma eventual trégua.
A proposta dos EUA busca interromper as hostilidades na Faixa de Gaza, após uma série de assassinatos que elevaram as tensões no Oriente Médio.
As mortes de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, e de um comandante do Hezbollah, trouxeram à tona a urgência de uma solução que possa reduzir as tensões regionais, particularmente diante das ameaças de retaliação por parte do Irã e da milícia libanesa.
Em suas declarações, Blinken ressaltou a importância deste momento, que ele considera “provavelmente a última oportunidade” para alcançar um cessar-fogo e facilitar a troca de reféns e prisioneiros.
“O próximo passo importante é o Hamas dizer sim”, disse Blinken, destacando a necessidade de comprometimento por parte de todas as partes envolvidas.
A proposta em questão prevê um cessar-fogo inicial de seis semanas, durante o qual reféns israelenses seriam libertados em troca de prisioneiros palestinos.Além disso, haveria um aumento na quantidade de ajuda humanitária destinada à população de Gaza.