França vai contra acordo UE-Mercosul e faz exigências para negociações
Relatório do país europeu aponta que desmatamento pode crescer 5% durante seis primeiros anos de parceria
atualizado
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A França foi contra o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. O primeiro-ministro francês, Jean Castex, recebeu relatório de um comitê de especialistas independentes que alertava para os riscos ambientais que a entrada em vigor do acordo acarretaria. O premiê francês foi contra a concretização da proposta e reforçou que o governo tem “exigências” para dar continuidade às negociações.
“O desmatamento ameaça a biodiversidade e desregula o clima. O relatório apresentado reforça a posição da França de se opôr ao acordo UE-Mercosul, assim como está. Esta decisão é coerente em relação ao engajamento francês e europeu nas causas do meio ambiente”, escreveu o primeiro-ministro francês, em redes sociais.
O governo francês impõe que o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas seja cumprido como primeira condição para a volta das negociações. O país também exige que as importações para os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai) respeitem as normais ambientais e sanitárias europeias, segundo informações do jornal O Globo.
Segundo a França, o principal ponto que deixa a desejar no projeto do acordo é que não há “nenhum dispositivo que permita disciplinar as práticas” de combate ao desmatamento dos países do Mercosul.
“Isso é o principal ponto que falta neste acordo e o principal motivo pelo qual, no estado atual, as autoridades francesas se opõem ao projeto”, ressaltou o premiê francês. Ele também deixou claro que rejeita a “falta de ambição” do texto atual, quanto às questões ambientais.
Pedido de ONGs
Nessa quarta-feira (16/9), mais de 30 ONGs exigiram em carta aberta a Mactron que ele “enterre definitivamente” o acordo UE-Mercosul, que, segundo elas, acarretaria um impacto “desastroso” sobre florestas, clima e direitos humanos.
Em homenagem ao setor agrário, em SINOP (MT), o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) foi duro em relação ás críticas: “os outros países que nos criticam não têm problemas de queimada porque já queimaram tudo nos seus países”.
De acordo com o relatório dos especialistas franceses, o desmatamento nos países do Mercosul pode crescer 5% durante os primeiros seis anos de parceria com a UE, o que equivale a um total de 70 mil hectares.
Desse modo, o custo ambiental, calculado a partir de emissões suplementares de CO², seria de US$ 250 por tonelada, gasto que não valeria a pena diante dos benefícios econômicos.
O dado em que a comissão leva em consideração para definir o custo ambiental é o deflorestamento provocado pela criação de pastos para estimular a produção de carne nos países do Mercosul inseridos no acordo.
Contudo, esse cálculo não é consensual. Caso seja levado em conta outros vetores do desmatamento, como as culturas de soja e milho ou a criação de aves, pode ser considerado que o custo ambiental seja subestimado.