Fracasso na votação da ONU e Biden em Israel tornam paz mais distante
O Conselho de Segurança da ONU votou, nessa quarta-feira (18/10), resolução que poderia frear a guerra. Os EUA, porém, vetaram a medida
atualizado
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Após dias de negociação, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) votou a minuta brasileira de resolução que poderia frear o conflito entre Israel e o Hamas, mas o texto não passou. Os mais de 2 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza, nesse contexto, seguem entregues a uma guerra sem horizonte de fim.
A minuta garantiu a maioria dos votos, mas o voto contrário dos Estados Unidos minou qualquer aprovação. Como membro permanente, os americanos têm poder de veto. A embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que a decisão se deve ao fato de o texto não fazer menção direta ao direito de autodefesa de Israel.
“Os Estados Unidos estão desapontados que essa resolução não faz qualquer menção ao direito de Israel de se defender. Como qualquer nação no mundo, Israel tem o direito inerente à autodefesa”, alegou.
Também nessa quarta-feira (18/10), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve em Israel. Marcou a visita o anúncio do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de que permitirá ajuda humanitária à Faixa de Gaza, vinda do Egito. Ainda que a medida arrefeça a urgência por intervenção humanitária, Israel e Hamas seguem em guerra na região.
Ataques por ar, mar e terra
Paulo Velasco, professor de Política Internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explica que uma possível aprovação da resolução brasileira ajudaria a atenuar o drama humanitário na Palestina. Moradores da região sofrem com desabastecimento de alimentos, combustível e remédios.
O especialista destaca que esse fracasso na aprovação de uma resolução ocorre no momento em que Israel ameaça intensificar o conflito com uma possível incursão por terra no território palestino. No último sábado, as Forças de Defesa de Israel emitiram um comunicado no qual afirmavam preparar ataques por “ar, mar e terra”.
“A ONU mais uma vez [está] falhando em seu objetivo maior, que é buscar paz. O Conselho [de Segurança] sempre com muita dificuldade de responder a crises em questão de paz e segurança”, observa.
O pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV) Leonardo Paz ressalta que não há, em um horizonte de curto prazo, possibilidade de paz. Ele explica que a busca por justiça diante das ações do Hamas e a recuperação dos reféns colocam o governo israelense sob pressão para agir, mesmo que de maneira violenta.
No último dia 7, o Hamas promoveu um ataque-surpresa a Israel. Desde então, em resposta à ação do grupo radical, o governo israelense tem promovido uma série de bombardeios à Faixa de Gaza.
Além da pressão sobre o governo de Israel por resposta à ação do Hamas, o pesquisador considera que a participação americana acirra o conflito. “A postura do governo americano, de estar 100% na defesa de Israel, coloca Israel sem limitação”, diz.
No encontro dessa quarta-feira (18/10), o presidente dos Estados Unidos comentou a explosão no hospital, que resultou em centenas de mortos, e disse que não seria responsabilidade de Israel, mas do “outro time”.
Estava na agenda do presidente americano o encontro presencial com líderes da Autoridade Palestina, Jordânia e Egito. A reunião, que seria em Aman, capital da Jordânia, foi cancelada após a explosão. Os chefes de Estado tomaram a decisão após o Ministério da Saúde palestino acusar Israel pela explosão.
As Forças de Defesa de Israel emitiram comunicado em que negam relação com o bombardeio, que poderia configurar crime de guerra. “A inteligência de múltiplas fontes que temos em mãos indica que a Jihad Islâmica é responsável pelo lançamento fracassado do foguete que atingiu o hospital em Gaza”, afirmou. A Jihad Islâmica também nega responsabilidade.
Milhares de mortos
Nesta quinta-feira (19/10), a guerra entre Israel e o grupo radical Hamas chega ao 13º dia. Até o momento, o conflito resultou em mais de 4,9 mil mortes. A informação é da Al Jazeera, atualizada até quarta-feira (18/10).
Na Palestina, 3.540 pessoas perderam a vida. As autoridades de Israel informaram 1,4 mil mortes. Somados ambos os lados, o número de feridos passa de 17,7 mil.
Os bombardeios contra a Faixa de Gaza se somam à falta de suprimentos de primeira necessidade, a partir da iniciativa de Israel de ordenar cerco total à região. A população palestina tem carecido, por exemplo, de alimentos, combustíveis e remédios.