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Farc entregam armas e deixam de existir como guerrilha

A entrega das armas é resultado do acordo de paz ratificado no fim de novembro de 2016. O grupo pretende fazer carreira política

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1 de 1 farc - Foto: Reprodução

Após mais de 50 anos de atuação, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) deixaram de existir como guerrilha nesta terça-feira (27/6) em uma cerimônia simbólica em Mesetas, no departamento de Meta.

Em um território montanhoso e que abriga um acampamento com mais de 500 combatentes, o grupo entregou suas últimas cinco armas, iniciando de fato a transição para a vida política. O evento contou com as presenças do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, do chefe da missão das Nações Unidas (ONU) no país, Jean Arnault, e do líder das Farc, Rodrigo Londoño, o “Timochenko”.

“Cumprimos. Hoje deixamos as armas. O Estado nos ofereceu um pacto para construir, e estamos prontos para seguir por esse caminho”, declarou o guerrilheiro, dando as “boas-vindas” para a paz.

Segundo Arnault, as Farc entregaram 7.132 armas, todas aquelas que estavam previstas. Outras 700 continuarão em uso para fazer a segurança dos 26 acampamentos da guerrilha nas zonas de transição, mas somente até o dia 1º de agosto de 2017.

“As Farc cumpriram e entregaram todas as suas armas individuais. Com esse passo, surgem novas oportunidades, novas necessidades”, disse o chefe da missão da ONU. Já Santos ressaltou que é importante que o mundo saiba que a paz é “real e irreversível”.

Com a conclusão do desarmamento, as Farc iniciarão agora um percurso rumo à vida política e democrática. O primeiro passo será criar um partido para disputar eleições no país: nos dois próximos ciclos legislativos, o grupo terá garantidos cinco assentos no Senado e cinco na Câmara de Representantes.

A entrega das armas é resultado do acordo de paz ratificado no fim de novembro de 2016, após um primeiro tratado ter sido rejeitado em um refendo no mês anterior.

Além do desarmamento e da garantia de vagas para as Farc no Parlamento, o pacto prevê que combatentes que tenham usado o narcotráfico para enriquecimento pessoal não sejam beneficiados pela anistia, item que não estava detalhado no primeiro texto.

O acordo também tira a possibilidade de participação de magistrados estrangeiros no Juizado Especial da Paz e determina que bens e ativos em poder da guerrilha sejam usados para indenizar vítimas do conflito.

Meio século de guerra
De orientação marxista, as Farc nasceram em 1964 com o objetivo de implantar um regime socialista e a reforma agrária na Colômbia. No entanto o grupo passou a crescer exponencialmente a partir da década de 1980, sob acusações de usar o narcotráfico para financiar suas atividades.

Uma onda de sequestros, extorsões, torturas e atentados abalou a popularidade da guerrilha, que nos anos 2000 foi um dos alvos do “Plano Colômbia”, um projeto bilionário dos Estados Unidos para apoiar Bogotá na luta contra o tráfico de entorpecentes. A guerra às drogas de Washington ajudou a enfraquecer as Farc, que perderam vários de seus comandantes nesse período.

As negociações de paz começaram em 2012, após a chegada de Juan Manuel Santos ao poder, substituindo Álvaro Uribe, entusiasta do uso da força para derrotar o grupo. As tratativas ocorreram em Havana, com mediação de Cuba, Noruega e Vaticano, mas avançaram a passos lentos.

A paz só ficou palpável em setembro de 2015, quando Bogotá e a guerrilha entraram em acordo sobre o modelo de justiça que será aplicado àqueles que cometeram crimes durante os anos de conflito. Esse ponto era um dos principais entraves das negociações.

O acordo rendeu a Santos o Prêmio Nobel da Paz em 2016. Estima-se que cerca de 260 mil pessoas tenham morrido em mais de 50 anos de conflitos na Colômbia.

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