Crise por falta de gasolina vira disputa eleitoral na Argentina
Presidenciáveis falam sobre escassez de gasolina que causou longas filas em postos de combustíveis durante os últimos dias na Argentina
atualizado
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O último fim de semana na Argentina foi marcado pela dificuldade dos “hermanos” para encontrar combustível. A situação se agravou e a escassez de gasolina e diesel, que provocou longas filas em postos, virou alvo da disputa eleitoral entre os candidatos à presidência do país Sergio Massa e Javier Milei.
Enquanto o atual ministro da Economia e candidato da situação culpa as petroleiras pela crise e ameaça limitar as exportações, o candidato da extrema-direita compara a atual crise na Argentina com a Venezuela.
Os motivos para a falta de combustíveis são muitos, entre eles a escassez de dólares no país. Ela tem feito com que navios-tanque de empresas fiquem parados nos portos argentinos à espera do pagamento pelo produto, bem como, a incerteza com os preços pós eleições que provocou uma corrida antecipada aos postos e o aumento de preços dos combustíveis promovidos nas últimas semanas.
Mas a principal razão é o baixo preço argentino, que torna mais interessante aos produtores exportarem o produto do que vendê-lo internamente.
Na última segunda-feira (30/10), vários postos de gasolina amanheceram com filas de quem buscava combustível. Os que não tinham filas era porque estavam fechados, já sem estoque. A escassez, que começou nas províncias do norte que fazem fronteira com Bolívia e Chile, se espalhou pelo país e já atinge fortemente a cidade de Buenos Aires. Nas redes sociais e em entrevistas televisivas, argentinos contavam que chegavam a passar horas em uma fila.
Disputa eleitoral
Antes do período eleitoral, Sergio Massa celebrou um acordo de teto de preços com a petroleira estatal YPF, o que impactou também o preço das produtoras estrangeiras. A média do preço do litro da gasolina na Argentina tem girado em torno de 86 centavos de dólar, quando já deveria ter ultrapassado o 1 dólar. Já em outros países os preços costumam ser de US$ 0,93 no Paraguai, US$ 1,14 no Brasil, US$ 1,36 no México, US$ 1,47 no Chile e US$ 1,95 no Uruguai.
Por isso, o ministro e candidato deu um ultimato as petroleiras e atribiu a elas uma especulação de preços e culpa pela crise. “Se o abastecimento não for resolvido até terça-feira, meia noite, a partir de quarta-feira não poderão enviar um único navio de exportação”, disse. “O petróleo vai primeiro para os argentinos”.
Logo após as eleições primárias, o governo argentino promoveu uma desvalorização de 20% no peso, o que provocou uma escassez de produtos básicos nas prateleiras. Desta vez, temendo um movimento semelhante, os argentinos teriam corrido aos postos, argumenta o ministro.
Já as petroleiras, reagiram apontando os dedos ao governo e o teto de preços, bem como à falta de dólares. Além da falta de gasolina, o diesel também está sendo impactado, e este é um produto que a Argentina precisa importar. Porém, segundo as produtoras, sem os dólares, a YPF – que é responsável pelo refino de 60% do combustível argentino – não consegue pagar seus fornecedores e vê os barcos com seus produtos estacionados no porto esperando pagamento.
Milei “aproveita” problema com gasolina
O ultraliberal Javier Milei também tem explorado o assunto. Por meio de vídeos compartilhados nas redes sociais, ele mostrou que foi abastecer seu carro, mas se deparou com uma enorme fila, e passou a questionar o governo pela falta de combustíveis. “O modelo de castas termina sempre da mesma forma: com escassez ou aumento de preços”, disse depois de tirar selfies com motoristas e trabalhadores do posto.
Desde então, ele tem dedicado seu perfil no X, antigo Twitter, a falar sobre o problema e comparar com a situação da Venezuela. Ele acusou o ministro de provocar a escassez de propósito para “optar por meios violentos” para resolver a situação. “Primeiro controlar os preços… Depois aparece a escassez”, escreveu. “Diante do ridículo, ele decide optar por meios violentos para forçar a oferta”.
“A falta de gasolina é um cartão postal do futuro que Massa como presidente vai nos trazer”, afirmou o libertário em uma entrevista ao canal LN+. “O que acontece com Massa é o mesmo que acontece com Maduro na Venezuela […]. A Venezuela ficou sem petróleo, Cuba sem açúcar. Temos todo o potencial energético e podemos perdê-lo.”
Em uma estratégia semelhante ao que fez antes do primeiro turno, quando comparou os preços dos transportes caso retirassem os subsídios como propunham Milei e Patricia Bullrich, Massa falou dos preços em seu governo e em um possível governo Milei.
Antes do primeiro turno das eleições presidenciais, que aconteceu no dia 22 de outubro, alguns postos de gasolina suspenderam as vendas, temendo uma forte desvalorização cambial. O segundo turno do pleito vai ocorrer em 19 de novembro.