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A fratura entre a comunidade judaica da França e o presidente Emmanuel Macron é cada vez maior. Na quinta-feira (24/10), declarações do chefe de Estado, acusando Israel de “semear a barbárie” geraram revolta da comunidade judaica. O Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif) lamentou comentários “ultrajantes” nesta sexta-feira (25/10).
“Falamos muito, nos últimos dias, sobre guerra, civilização ou civilização que deve ser defendida. Não tenho certeza se defendemos uma civilização semeando nós mesmos a barbárie”, insistiu o chefe de Estado numa conferência de ajuda ao Líbano na quinta-feira, em Paris.
As declarações do presidente francês foram uma resposta ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que voltou a afirmar na quarta-feira (24/10), em entrevista ao canal de tevê francês CNews, que travava uma “guerra da civilização contra a barbárie” contra os movimentos islâmicos do Hamas em Gaza e do Hezbollah no Líbano.
As declarações de Macron provocaram imediatamente fortes reações na comunidade judaica, como seus comentários sobre o papel da ONU na criação do Estado de Israel.
“Nunca na história uma democracia acusou outra democracia de ‘semear a barbárie’”, disse o Crif, lamentando comentários “ultrajantes” que pareciam a “uma injúria”.
Para o presidente da União dos Estudantes Judeus de França (UEJF) Yossef Murciano, “Macron está mais uma vez nos mergulhando na desordem”.
“O Hezbollah, assim como o Hamas, é uma ameaça existencial para Israel e a sua dimensão como estado de refúgio para judeus em todo o mundo”, continua ele.
O Hamas realizou o pior massacre de judeus desde a Segunda Guerra Mundial, em 7 de outubro de 2023, em Israel, desencadeando uma resposta israelense sem precedentes na Faixa de Gaza.
Dar exemplo
“Quando afirmamos ser civilização como faz Netanyahu, devemos dar o exemplo e respeitar o direito internacional”, responde o chefe da diplomacia francesa, Jean-Noël Barrot. “Não é ofensa ao povo de Israel e ao povo judeu lembrar constantemente o governo das suas obrigações”, disse ele.
Mas para muitos, a palavra “barbárie” é “extremamente carregada”, refere-se ao “terrorismo e aos grupos jihadistas”, comentou Marc Hecker, pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).
“A comunidade judaica vive um mal-estar que remonta ao vivido na época do General de Gaulle, quando ele descreveu os judeus como um ‘povo de elite, autoconfiante e dominador”, em reação à Guerra dos Seis Dias em 1967, e decidiu impor um embargo de armas a Israel, comenta o presidente do Crif Yonathan Arfi. “Foi um trauma para os judeus da França”, lembrou.
A incompreensão é ainda maior porque em 2017 o chefe de estado “demonstrou repetidamente sua proximidade com Israel e com o povo judeu”, sublinha Frédéric Haziza, chefe do departamento político da estação comunitária Rádio J.
Nem todos os judeus da França apoiam o primeiro-ministro israelense, mas “há um ponto que é unânime, a existência de Israel e o seu direito de se defender”, destaca.
Equilíbrio instável
Após o apoio sem reservas a Israel após o 7 de outubro, o presidente Macron reequilibrou a posição francesa em relação ao mundo árabe, reafirmando, ao mesmo tempo, a sua preocupação com a segurança de Israel.
“É um equilíbrio instável, vemos que isso incomoda muitos atores e os deixa irritados”, um após o outro, observa Marc Hacker. “Isto não é uma ruptura com a comunidade judaica, e sim uma crise”, acrescenta.
Para Agnès Levallois, do Instituto de Pesquisa e Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio, o chefe de estado “fez muitas promessas ao primeiro-ministro israelense e não foi de forma alguma agradecido”, principalmente o esperado cessar-fogo no Líbano, daí a sua raiva e a escalada verbal durante várias semanas com Benjamin Netanyahu.
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