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A extrema direita alemã conseguiu uma vitória histórico nas eleições regionais, realizadas no domingo (1º/9) no leste na Alemanha. Esta é a primeira vez, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que um partido de direita vence uma eleição estadual. Por outro lado, os três partidos da coalizão de governo do chanceler Olaf Scholz colhem mais um resultado desastroso nas urnas, a quase um ano das próximas eleições gerais no país.
As votações na Turíngia e Saxônia, ambos estados no leste alemão, serviram como um termômetro da insatisfação do eleitorado com o governo federal e também expôs, mais uma vez, como o leste e o oeste do país continuam divididos, mais de três décadas depois da queda do Muro de Berlim.
Após obter seu pior resultado histórico ao nível nacional nas passadas eleições europeias de junho, o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz conseguiu pouco mais de 7% em ambas as regiões. Nos dois estados, as três legendas que formam a coalizão do governo federal – sociais-democratas (SPD), verdes e liberais (FDP) – não chegam sequer a somar juntas 15%, nessas eleições fortemente influenciadas pelos temas nacionais.
Assuntos como o apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia e o acolhimento de imigrantes tiveram papel de destaque nas campanhas. O atentado a faca que deixou três mortos no mês passado na cidade de Solingen, no oeste da Alemanha, também teria contribuído ainda mais para acirrar os ânimos. O suposto autor do atentado foi um cidadão da Síria que devia ter sido deportado.
A extrema direita aproveitou o incidente para reforçar seu discurso anti-imigração e fazer novas acusações ao governo alemão. Pouco adiantaram as medidas de endurecimento da lei de armas e das regras de migração anunciadas pelo governo poucos dias atrás.
“Cordão sanitário” contra a AfD
Todos os outros partidos alemães recusam uma colaboração com o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e praticam o chamado “cordão sanitário”, para evitar que a sigla de extrema direita chegue ao poder. No nível estadual, assim como no nível federal, o sistema é parlamentarista na Alemanha. Por isso, o governador do estado precisa ter o apoio de mais da metade dos assentos no parlamento estadual. Isso impede que a AfD chegue ao poder.
Mas, por outro lado, a alta votação do partido, com mais de 30% tanto na Turíngia como na Saxônia, permite aos ultradireitistas bloquear certas leis estaduais que demandam maioria de dois terços do parlamento regional. Além disso, também dificulta a formação de uma coalizão para eleger um novo governador em ambos os estados.
Formação de governo complicada
As negociações para eleger um governador devem ser especialmente complicadas na Turíngia, onde a AfD venceu as eleições, com ampla vantagem. Curiosamente, a vitória da extrema direita ocorreu na mesma região onde os nazistas de Adolf Hitler participaram pela primeira vez em um governo regional, em 1930.
Para impedir um governo com participação da AfD, em ambos os estados os conservadores da União Democrata-Cristã (CDU), partido da ex-chanceler Angela Merkel, terão que colaborar com os esquerdistas da BSW, uma agremiação liderada por Sahra Wagenknecht, uma ex-comunista da Alemanha Oriental. Apesar de ter posição conservadora em relação à política de migração, a legenda contrasta com a CDU por defender políticas econômicas de esquerda e rejeitar a ajuda militar à Ucrânia.
AfD também pode vencer outra eleição regional
O governo do chanceler alemão Olaf Scholz sai visivelmente enfraquecido dessas eleições regionais, mas não há o perigo de serem convocadas eleições gerais antecipadas no país.
Dentro de 20 dias, acontece uma nova eleição regional, no estado de Brandemburgo, que circunda Berlim. Nele, as pesquisas também apontam para uma possível vitória da AfD.
As próximas eleições gerais estão programadas para ocorrer em um ano. E se não houver uma mudança nos ventos políticos até lá, tudo indica que o atual governo alemão está com os dias contados.
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