Ex-assessora de Trump grava própria demissão e ameaça revelar mais
O áudio, transmitido no programa “Today”, do canal NBC, seria de um diálogo por telefone ocorrido após a demissão de Omarosa
atualizado
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A ex-assessora do gabinete presidencial americano Omarosa Newman divulgou uma gravação de áudio nesta segunda-feira (13/8) na qual estaria registrada uma conversa entre ela e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na gravação, ela ameaçava denunciar a corrupção na Casa Branca.
O áudio, transmitido no programa “Today”, do canal NBC, seria de um diálogo por telefone ocorrido após a demissão de Omarosa. Durante a conversa, Trump parece demonstrar surpresa, dizendo que não havia sido informado sobre seu afastamento.
Omarosa tem sido criticada pelos aliados de Trump e especialistas em Segurança Nacional pelas gravações que fez na Casa Branca. Um dos registros foi o do momento de sua demissão pelo chefe de gabinete John Kelly, na Situation Room (a sala de reuniões de Inteligência, situada no porão do ala Oeste da Casa Branca).
Apesar de, na gravação divulgada nesta segunda-feira, Trump demonstrar não saber da demissão, Omarosa afirmou acreditar que o presidente teria instruído Kelly a demiti-la, mas não forneceu provas sobre isso. O porta-voz da Casa Branca, Hogan Gidley, disse nesta segunda-feira que não vai discutir sobre “quem sabe o quê ou quando, mas o presidente toma as decisões”.
Corrupção
O livro de Omarosa, “Desequilibrado”, lançado nesta semana, sugeriu haver mais por vir: “Há muita corrupção acontecendo na Casa Branca e eu vou apontar muitos casos.”
O advogado de Trump, Rudy Giuliani, disse no programa Fox and Friends, do canal Fox, que Omarosa pode ter violado a lei ao gravar conversas particulares na Casa Branca. “Ela certamente está violando os regulamentos de Segurança Nacional, que, acho, têm força de lei”, declarou.
No domingo (12), Omarosa revelou ao programa “Meet the Press”, da NBC, ter gravado várias conversas na Casa Branca para sua própria proteção. Partes de seu diálogo com Kelly foram reproduzidas no ar.
Violação
Críticos denunciaram as gravações como uma grave violação de ética e segurança. “Quem em sã consciência acha apropriado registrar secretamente o chefe de gabinete da Casa Branca na Situation Room?”, tuitou Ronna McDaniel, presidente no Comitê Nacional Republicano.
Na gravação, frequentemente citada no livro “Desequilibrado”, Kelly pode ser ouvido dizendo a Omarosa que quer falar com ela sobre como deixar a Casa Branca. “Chegou à minha atenção nos últimos meses que tem havido alguns problemas de integridade significativos relacionados a você”, disse ele, citando o uso de Omarosa de veículos do governo, “questões monetárias e outras coisas”. Na conversa, os atos da ex-assessora são comparados a ofensas que, nas Forças Armadas, podem levar ao julgamento em corte marcial.
“Se nós fizermos desta uma partida amigável… você pode ver o seu tempo aqui na Casa Branca como um ano de serviço à nação, e então pode sair com nenhum tipo de dificuldade no futuro em relação à sua reputação”, disse o chefe de gabinete, à ex-assessora, segundo a gravação. “Houve questões legais sérias que foram violadas”, afirmou.
Omarosa disse ter tomado a conversa como uma “ameaça” e defendeu sua decisão de gravá-la secretamente, assim como outras na Casa Branca. “Se eu não tivesse essas gravações, ninguém na América acreditaria em mim”, afirmou.
Reação
A resposta do governo norte-americano foi forte. “A própria ideia de um funcionário infiltrar um dispositivo de gravação na Situation Room da Casa Branca mostra um flagrante desrespeito à nossa Segurança Nacional. Se gabar disso depois na televisão prova a falta de caráter e integridade dessa ex-funcionária”, disse a secretária de Imprensa, Sarah Huckabee Sanders, em comunicado.
A Situation Room é uma Instalação de Informação Sensível Compartimentada (SCIF, na sigla em inglês), onde as decisões de política externa mais importantes do país são tomadas, e os funcionários não podem entrar com celulares ou outros dispositivos de gravação. “Eu nunca ouvi falar de uma quebra de protocolo mais séria”, disse Ned Price, que serviu como porta-voz do Conselho de Segurança Nacional durante a administração Obama. “Não apenas não é típico. É algo sem precedentes.”
Segundo Price, não existe uma equipe para a verificação dos dispositivos na porta, mas há uma placa do lado de fora da sala, deixando claro que dispositivos eletrônicos são proibidos ali. “A Situation Room é o santuário mais interno de um campo seguro”, afirmou, descrevendo a violação como parte de uma cultura de desconsiderar protocolos de Segurança da Casa Branca praticada pelo governo Trump. Ele também questionou por que Kelly escolheria a sala para ter a reunião sobre a demissão da ex-assessora.
No livro, a ser lançado nesta terça-feira, Omarosa apresenta um retrato condenatório de Trump, incluindo alegações, sem provas, de existirem fitas dele usando a palavra “nigger”, de cunho altamente racista, durante filmagens do reality show O Aprendiz, do qual ela participou. A Casa Branca havia tentado desacreditar o livro anteriormente, quando a porta-voz Sarah o caracterizou como “cheio de mentiras e falsas acusações”.
Katrina Pierson, conselheira para a campanha de reeleição de Trump, e sua sua porta-voz em 2016, disse nunca ter ouvido Trump usar o tipo de linguagem depreciativa descrita por Omarosa. Ela afirmou, em comunicado, sentir “pena por Omarosa quando ela se constrange ao criar mentiras e distorções lascivas só para tentar ser relevante e se enriquecer ao vender livros às custas da verdade”.
A conselheira da Casa Branca, Kellyanne Conway, também questionou a credibilidade de Omarosa em uma entrevista à revista This Week. “A primeira vez que ouvi Omarosa sugerir essas coisas terríveis sobre o presidente foi neste livro”, disse, acrescentando que a ex-assessora tinha feito uma “avaliação brilhante de Donald Trump, o homem de negócios, a estrela do Aprendiz, o candidato e, de fato, o presidente dos Estados Unidos”.
Omarosa foi firme defensora de Trump por anos, inclusive ao rejeitar acusações de ele ser racista, enquanto era a afro-americana de cargo mais alto na Casa Branca. Mas agora ela diz ter sido “usada” por Trump, chamando-o de “vigarista” que “fingiu ser alguém realmente aberto ao engajamento com diversas comunidades”, mas “verdadeiramente um racista”. “Eu fui cúmplice desta Casa Branca enganando esta nação. Eu tinha um ponto cego quando se tratava de Donald Trump”, disse.